“Antes eu pensava que nunca conseguiria estudar, mas depois, percebi que os surdos podem ser iguais aos ouvintes”, conta Socorro Bonifácio, 44, pedagoga surda que estudou e agora dá aulas no Instituto Felipe Smaldone – entidade filantrópica que há 40 anos atende surdos entre 0 e 18 anos, em Belém. Socorro é a prova viva de que um surdo pode fazer o que quiser, assim como qualquer outra pessoa. “Eu trabalho, moro sozinha e aprendi a viver”, relata. No Dia Nacional do Surdo, comemorado ontem, algumas histórias de superação mostram como é possível e deveria ser natural se comunicar com os deficientes auditivos.
Aprender a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é fundamental, mas não é o único meio de se comunicar. A expressão corporal, gesticulação e contato visual auxiliam no entendimento. Ao ser acompanhada desde pequena, a criança tem chances de falar, mesmo sem conseguir ouvir direito. Para isso, precisa de auxílio especial. No entanto, a educação regular, infelizmente, não está preparada para isso. “Apesar de se falar de inclusão desde a década de 1980, os professores ainda não estão capacitados. O ideal seria que professores surdos dessem aulas para alunos surdos”, afirma a psicóloga Ana Maria de Oliveira, do Instituto Felipe Smaldone. A pedagoga Socorro teve a ideia de ingressar na vida acadêmica quando viajou para outros estados do país. “Fui pro Rio e vi que tinha surdos que eram médicos, engenheiros, dentistas e pensei: acho que eu também posso”.
Ao voltar a Belém, ela começou a divulgar as Libras e iniciou o curso em uma universidade particular, que não contava com intérpretes, o que dificultava o aprendizado. “Em 2006 passei na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e fiquei muito feliz. Lá eles têm intérpretes, as pessoas falam Libras e foi muito bom”. Agora, ela dá aulas para crianças com a mesma deficiência e é uma liderança na comunidade surda. Ela alerta que o surdo precisa se comunicar para se inserir na sociedade.
INSTITUTO
O Instituto Felipe Smaldone é mantido através de doações e verbas públicas, atende 205 crianças surdas e disponibiliza atendimento médico, odontológico e escolar e é coordenado pela Congregação das Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações. A alfabetização é um dos principais objetivos. Por meio de formas lúdicas, os pequenos aprendem a oralização das palavras. Com metodologias com ênfase na vivência, eles estudam disciplinas como português e matemática e todo o conteúdo correspondente às séries que cursam.
Pulando de bambolê em bambolê, o estudante do Jardim I, William, 4 anos, vai pronunciando os sons dos desenhos que vê ao lado do brinquedo, ao mesmo tempo que fala por meio das Libras. Depois, o menino, que tem surdez moderada, repete o nome de todos os coleguinhas É um dos mais espertos da turma. A imagem é imprescindível para o aprendizado e é preciso respeitar o tempo e as dificuldades de cada um. Eles são atentos aos movimentos e é a atenção com o que se passa ao redor que leva um menino de aproximadamente seis anos a pegar-me pela mão e conduzir-me até a sala da professora Socorro. Ele rapidamente entende o que eu quero, ao ouvir uma conversa, e logo indica o lugar. Eficiente e solícito ele se despede. Com um sorriso, eu agradeço e ele corresponde. Nos comunicamos sem trocar uma só palavra.
INCLUSÃO
Há dois anos Paulo Oliveira, 30, trabalha em um supermercado. Ele começou como embalador na empresa e atualmente atua como carreador, entregando as compras nas casas dos clientes ou levando-as até os carros dos consumidores. Paulo foi beneficiado com as vagas destinadas aos Portadores de Necessidades Especiais (PNE). O número de vagas varia de acordo com a quantidade de funcionários da empresa.
Empresas entre 100 e 200 funcionários devem destinar pelo menos 2% das vagas a PNEs; as que têm de 201 a 500 funcionários precisam ter 3% do quadro de efetivos destinados a portadores de deficiência; o percentual aumenta para 4% para empresas entre 501 e 1000 funcionários, chegando a 5% para mais de mil empregados. “Eu gosto daqui e com o que ganho, ajudo a minha família”, afirma Paulo, sorridente.
(Diário do Pará)
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