Vistas da chamada “Pedra do Peixe”, as quatro torres em estilo art-noveau, com o Solar da Beira e a cidade ao fundo, compõe o cartão-postal mais famoso de Belém. Construído em 1847, o Mercado de Ferro do Complexo do Ver-o-Peso, popularmente conhecido como Mercado de Peixe, passa por uma grande reforma que promete revitalizar um dos espaços mais visitados da capital.
Quando a pintura anticorrosiva na cor laranja foi aplicada nas estruturas de ferro do prédio, a repercussão nas redes sociais chamou atenção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Muitos acreditavam que aquela seria a cor do acabamento final e, entre protestos e aprovações, o Iphan resolveu democratizar a discussão. Até o dia 24 deste mês, a população poderá opinar, através do site www.ufpa.br/cma/verosite, para ajudar a decidir qual será a nova cor final do Mercado de Peixe. “Percebemos que muitas pessoas acham que o Mercado sempre foi azul e também que, ao contrário do que se costuma dizer, muitos se interessam e se preocupam com o patrimônio cultural”, explica Maria Dorotéa de Lima, superintendente do Iphan-Pará.
A intenção da pesquisa, além de esclarecer que o Mercado já teve outras cores, é envolver as pessoas no cuidado e manutenção de um dos principais símbolos da cidade. A superintendente explica que vestígios encontrados durante a reforma em uma das torres, além da análise de imagens e fotos antigas, revelou que, além do azul atual, o Mercado de Peixe já teve outras cores. Entre elas, verde, vermelho e outro tom de azul, mais escuro. Os três foram os escolhidos para concorrer à votação popular. “A resposta tem sido muito positiva. Até a sexta-feira última (18) já haviam 1500 votos, sendo que cerca de 50% é pela permanência do azul, admitindo-se alterações na tonalidade. Nas respostas, o azul é associado ao tradicional; o verde às florestas, Amazônia e às mangueiras de Belém; o vermelho ao açaí e à bandeira do Pará”, conta a superintendente.
Para o advogado Sideneu Oliveira, 51, o azul não deve ser deixado de lado quando a reforma for concluída. “Desde a minha infância que eu lembro do Mercado de Peixe azul. Eu acho que o tradicional precisa prevalecer em respeito ao passado”, opina. Sobre a possibilidade de um possível Mercado de Ferro em tom vermelho, Sideneu torce o nariz e não esconde a reprovação. “O Ver-o-Peso é mundialmente conhecido do jeito que tá. Eu acho que precisam é preservar isso”, completa.
O vendedor Ricardo Silva, 50, trabalha desde que tinha dez anos no Mercado de Peixe. Para ele, a única opção aceitável é preservar o azul acinzentado que há décadas dá o tom do lugar. “Eu trabalho aqui há 40 anos e nunca vi o mercado de outra cor. Pra mim, tinham que preservar a cor natural e terminar a reforma porque isso já tá atrapalhando. Tem pais de família que estão sem trabalhar”, protesta.
Segundo a superintendente do Iphan, por medidas de segurança, a intervenção do Mercado veio para atender uma demanda dos próprios peixeiros. “A princípio houve uma reação dos lojistas que não queriam desocupar as lojas, mas depois de algumas reuniões, compreenderam que era imprescindível que a intervenção fosse completa, abrangendo todas as estruturas”, esclarece. A reestruturação também inclui novas melhorias, como instalações elétricas modernas, instalação de câmera frigorífica e reforma nos banheiros.
A concepção do novo Mercado de Peixe começou a ser executada em janeiro de 2012. A cobertura comprometida e riscos de desabamento tornaram o projeto difícil de ser executado, de acordo com Dorotéa de Lima. “Não havia como fazer uma obra desse porte sem causar transtorno aos comerciantes e aos frequentadores, mas era necessário realizá-la. Não havia mais como adiar. A previsão é de cerca de mais um ano para executarmos a outra metade”, completa.
(Diário do Pará)
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