A Celpa foi privatizada através de leilão público no dia 9 de julho de 1998, no primeiro governo de Almir Gabriel. O preço de venda da empresa alcançou, na época, há 15 anos, US$ 450 milhões, o que representou um ágio de apenas 0,1% sobre o preço mínimo. Na ocasião, o Real era pareado ao dólar, ou seja, US$ 1 custava R$ 1. Hoje, em valores atualizados, o valor de venda alcança mais de R$ 1 bilhão.
O consórcio formado pelo Grupo Rede e Inepar foi o único a se qualificar para o leilão. Estes dois grupos arremataram a estatal e ficaram com respectivos 65% e 35% do seu capital votante. Nenhuma dívida foi transferida aos compradores, que arremataram a empresa por um valor muito abaixo do que valia.
Na primeira semana após a venda, o governo do Estado chegou a sacar R$ 100 milhões, de uma só vez, das contas do Banco do Estado do Pará, onde o dinheiro recebido na privatização estava depositado.
A aplicação dos milhões da venda da Celpa permanece até hoje uma incógnita. Nunca o governo veio explicar com clareza à opinião pública onde e como foram aplicados esses recursos. Quando a Celpa foi privatizada, o hoje governador Simão Jatene era o principal secretário de Estado (Planejamento) e “homem forte” do ex-governador Almir Gabriel, condutor de todo o processo de privatização da empresa. O negócio foi apresentado aos paraenses como uma mudança para o melhor dos mundos.
Na época, a Assembleia Legislativa tentou fazer uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o processo e também a aplicação do dinheiro obtido na venda, uma quantia considerável que nenhum outro governo teve até hoje em suas mãos. Os deputados conseguiram o número de assinaturas constitucional, mas o rolo compressor do governo com a retaguarda da presidência da Assembleia Legislativa inviabilizou a CPI da Celpa. O assunto foi levado ao Poder Judiciário e ainda hoje dorme em alguma gaveta do Tribunal de Justiça. O DIÁRIO acompanhou de perto e denunciou todo o esquema em várias reportagens.
Sob gestão privada – foi o que se disse na época –, a concessionária teria seus custos brutalmente reduzidos e, com isso, poderia diminuir também progressivamente o valor das tarifas, então, como ainda hoje, uma das mais altas do país. Após anos de carestia e sofrimento da população, pode-se dizer que a privatização da Celpa foi um dos maiores estelionatos político-administrativos já aplicados contra a população do Pará.
Decorridos dez anos e meio, a realidade mostra um cenário bem diferente, bem sombrio, em nada parecido com o pintado em cores alegres pelo discurso oficial que buscava exaltar as maravilhas da privatização.
(Diário do Pará)
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