Instalada no espaço que já causou tanto sofrimento, o terreno de areia hoje é a opção de entretenimento de muitas crianças que moram no bairro Pratinha II, em Belém. Na rua estreita e distante de qualquer espaço público de lazer, a casa de madeira organizada especialmente para oferecer aulas de reforço e atividades recreativas para crianças de seis a 15 anos é também a forma encontrada para não deixar a memória das pequenas Bianca e Adrielle cair no esquecimento.
Com o nome de movimento “Meninas da Pratinha”, a instituição faz referência ao crime que, em 2006, resultou na morte das irmãs encontradas em um terreno baldio após terem saído para brincar de bicicleta pelo bairro. Vítimas da ação criminosa de quatro homens que abusaram e mataram as crianças de seis e cinco anos, Bianca e Adrielle hoje são a alma do projeto social que pretende dar esperança de um futuro melhor para outras crianças da comunidade. “Aos sábados as crianças fazem atividade de serigrafia, mas durante a semana eles fazem aula de reforço, estudam... são muitas crianças que vêm pra cá, brincam...”, conta a tia-avó de Bianca e Adrielle, Ivanice Pamplona Pacheco. “Esse espaço aqui foi onde elas foram encontradas. A avó delas mandou fazer esse cruzeiro e de dois anos pra cá resolvemos fazer essa instituição porque isso aqui estava abandonado. Agora as crianças vêm fazer as atividades, os estudos...”.
Organizada pela família e por membros da comunidade para receber as crianças que buscam atividades fora do horário escolar, a instituição mantém em cada canto homenagens em referência às irmãs. Além da cruz construída no quintal, fotos e mensagens de esperança também recordam os momentos alegres vividos em família.
Passados nove anos do crime, o espaço ganhou novo significado, porém, declarações recentes feitas sobre o caso reviveram nos familiares a dor que nunca poderá ser esquecida. “O Rogério estava foragido, foi preso de novo essa semana e disse que fez o que fez induzido pelo traficante porque a mãe das meninas estava devendo R$5 mil pra ele”, explica Ivanice, abalada com as acusações feitas contra a sobrinha e mãe das crianças assassinadas. “A mãe delas trabalhava sem descanso pra criar as filhas dela e não é justo que agora ela seja taxada de traficante, coisa que ela nunca foi”.
O homem a quem a senhora se refere é o que, na época do crime, teria confessado participação no caso e apontado outros três envolvidos. “Você já pensou o que é uma coisa dessa? É difícil você ver o que a mãe dessas meninas passou pra hoje conseguir o emprego dela e continuar a vida pra agora acontecer isso...”, considera o tio e padrinho das crianças, Jorge da Conceição. “Todo mundo na família sempre trabalhou honestamente”.
Um dos ‘matadores’ estava foragido.
(Diário do Pará)
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