Encontrar em casa uma lagartixa, ou “osga”, como é popularmente conhecida no Pará, não é exatamente a coisa mais agradável que pode acontecer a algumas pessoas, mas, para o casal Teresa Ávila Pires e Marinus Hoogmo, o encontro se tornou uma descoberta científica e rendeu um trabalho de pesquisa importante.
Biólogos, Teresa e Marinus são especialistas em répteis e anfíbios. Têm o olhar treinado para identificar espécies. Pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, viajam pela Amazônia para catalogar exemplares e, quem sabe, encontrar espécies que ainda não foram descritas por outros pesquisadores.
Foi com esse olhar de quem está sempre em busca do novo que, em uma noite quente de julho do ano passado, Marinus se deparou com uma osga na sacada de seu apartamento no 19º andar de um prédio no bairro do Umarizal, área nobre de Belém. O animal apareceu quando o pesquisador cuidava das plantas, mas conseguiu se esconder. Cerca de um mês depois, no dia 17 de agosto, Marinus se viu novamente diante da osga e, desta vez, conseguiu capturá-la.
O animal foi levado para o Museu Emílio Goeldi, comparado com outros da mesma espécie e, depois de algum tempo de pesquisa, as suspeitas do casal de biólogos se confirmou: era a primeira vez que uma lagartixa daquelas era identificada no Brasil.
Comparada às outras osgas que já convivem nas cidades brasileiras, as diferenças dessa espécie são sutis, mas não passaram despercebidas ao olhar treinado dos biólogos. A espécie recém-encontrada é mais fina - menos gorduchinha, como gosta de dizer Marinus -, tem as escamas menores e uma linha preta que vai da cabeça ao braço.
O animal foi identificado como Lepidodactylus lugubris. É originário da Ásia, mas já havia sido encontrado no Caribe e em países da América Latina, como a Colômbia, e também nas Antilhas. A explicação mais provável para sua presença no Brasil é que tenha vindo em navios que aportam no porto de Belém.
EXEMPLARES
A osga que já era encontrada no Brasil é originária da África e deve ter chegado ao País há cerca de um século. Nos dois casos, as lagartixas são partenogenéticas. Só existem espécies fêmeas que se reproduzem sem necessidade do macho. Isso significa que, a partir de um animal, pode-se criar toda uma população da espécie. Após a identificação, outros exemplares foram encontrados em pelo menos cinco pontos de Belém, incluindo um templo Maçom no centro de Belém e uma residência no bairro do Marco.
Teresa explica que, em geral, a migração de espécies pode causar desequilíbrios ambientais, por isso o monitoramento é importante. No caso da pequena osga, contudo, ela diz que não deve haver danos. “Esse é um animal que já se adaptou ao ambiente urbano”. A boa notícia é que, como as outras, essa lagartixa também se alimenta de insetos e pode até ajudar no combate à dengue, por exemplo. “esses animais não fazem mal nenhum. Deixe-as em paz e que sejam felizes”, brinca.
(Rita soares/Diário do Pará)
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar