Pechinchar, em momento de crise econômica, significa tentar economizar na hora de ir às compras. A prática já é velha conhecida entre comerciantes e fregueses e traz benefícios aos dois lados.
Que o diga o comerciante Manuel Ferreira Miranda, que trabalha com a venda de alimentos na Feira da 25 de Setembro há 45 anos. “Já vi de tudo aqui. Tem o que pechincha, o que dá o ‘calote’, o que não chora e leva o produto sem reclamar. Mas, os que mais aparecem são os ‘pechincheiros’”, brincou. Durante a nossa reportagem, flagramos dois fregueses choramingando os descontos. E conseguiram.
O autônomo Luiz Feio, 50 anos, trabalha com frete. Ele foi comprar pirarucu e, conversa vai, conversa vem, a barganha começou. O pedaço de peixe escolhido custava R$ 24,85. “Quero que ele deixe por pelo menos R$20”, pediu. Seu Manuel recusou. “Então, poderia fazer por R$ 22”, propôs o comprador, que novamente teve o pedido negado. O desconto acabou sendo de R$ 0,85. “Da forma que a crise está, temos que pechinchar mesmo. Centavos fazem bastante diferença”, comentou o autônomo. Para o comerciante, os descontos variam de acordo com a porcentagem de lucro de cada produto. “Tem itens que podemos dar mais, outros menos. No supermercado, não se pode tirar nenhum centavo. Por isso, a economia maior é na feira”, avaliou seu Manuel.
Minutos depois, lá vem outro freguês “pechincheiro”. O também feirante Luís Carneiro, 56 anos, foi comprar charque e teve mais sorte que o autônomo. Entre a troca de ofertas, a carne seca saiu com o desconto de R$ 2. “O que sobrou já posso juntar para comprar a farinha. Um pouco de cada compra, no final das contas, faz diferença no bolso”, disse, sorrindo.
BARGANHA
E com a chegada das festas do final do ano, tanto os vendedores quanto os clientes já se preparam para mais barganhas. Com mais dinheiro no bolso, por conta do 13º salário, o cliente tem mais ‘poder’, é o que afirma o vendedor de óculos de sol, Naldo Araújo, 40 anos. Há 10 anos trabalhando na Feira da 25 de Setembro e na Ilha de Mosqueiro, Naldo descreve bem o cenário atual. “Não tem jeito. As pessoas querem comprar e, se têm dinheiro, conseguem que façamos mais barato”, contou. Ele chega a vender até 2 óculos por R$ 35, quando a unidade custa R$ 25. “Estamos passando por um momento difícil. Temos de vender, então acabamos cedendo”, avaliou.
O Naldo Araújo diz é confirmado pela Confederação Nacional do Comércio: 2015 terá o pior Natal dos últimos 12 anos, com recuo de 4,1% nas vendas.
APLICATIVO
Leonídio Filho, criador do aplicativo de celular e do site Dica de Preço, alerta: para se fazer uma boa compra, deve-se ter muita informação sobre o produto. Esse é o primeiro passo para barganhar e levar para casa algo a um custo menor. Mas, se você não tem tempo para bater pernas atrás das lojas, fazendo pesquisa de qualidade, quantidade e valores, já pode fazer essa busca sem sair de casa. O site Dica de Preço foi criado para alertar o consumidor e auxiliá-lo na hora da pechincha, com mais comodidade.
A pesquisa é simples. Você coloca o nome do produto na lupa de busca do site e todas as lojas (físicas e virtuais) cadastradas aparecem, com as suas ofertas, na tela do celular e/ou computador. “A pessoa pode colocar até um tipo de prego que vamos oferecer o histórico completo sobre ele, com valores atuais e a evolução dos mesmos”, explicou Leonídio. Cada item tem seu cronograma no mercado, a evolução de preços e as ofertas anteriores. “Se você sabe por quanto uma loja vende, ou por quanto ela já vendeu, tem como pechinchar e não comprar por um valor maior”, ressaltou Leonídio.
ARTE
Entre países como México, Argentina, Uruguai e Chile, o Brasil é o campeão da arte de pechinchar. Pelo menos um em cada 5 brasileiros pedem um desconto na hora de levar algum produto, sinal que o consumidor está alerta para os gastos. Pesquisas revelam que, atualmente, 78% das pessoas passaram a pedir mais descontos nos últimos meses, o que é um número bem superior comparado a outros países da América Latina e também do próprio Brasil em anos anteriores.
(Ricardo Amanajás/Diário do Pará)
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