Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), 61,1% das famílias brasileiras passaram 2015 com dívidas. Desse modo, essa é uma realidade que muitos conhecem ou vivem. Mas, afinal, o que é estar endividado? Surpreendentemente, essa é uma pergunta que 79% da população brasileira afirmam não saber responder corretamente, segundo pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). A análise, intitulada “O conceito do endividamento e as consequências da inadimplência”, foi realizada em parceria com o portal de educação financeira Meu Bolso Feliz e divulgada na última segunda-feira (29).
Foram entrevistadas 804 pessoas de todas as capitais brasileiras. Os resultados mostraram que, por mais que 37,5% dos consumidores se considerem endividados, apenas 20,2% sabem o conceito real: estar endividado é possuir parcelas a vencer de compras ou empréstimos. A maioria acredita que só está endividado quem tem contas em atraso (46,7% dos entrevistados). E três em cada dez (30,6%) afirmam que é ter o nome registrado em entidades de proteção ao crédito.
REFLEXO
O economista Roberto Sena, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Pará, conta que o cenário é reflexo do aumento no nível do desemprego e da baixa dos salários. Outro agravante é o consumo por impulso. Para ele, o maior problema não é a dívida em si, mas a perda do controle. Por isso, quem já está endividado deve tentar solucionar o problema o quanto antes.
Segundo Sena, o resultado dessa pesquisa ratifica que a maioria da população não tem educação para o consumo”. Para ele, a educação financeira desde a infância, implantada nas escolas, é o caminho necessário para que a população brasileira conheça os direitos do consumidor e saiba reconhecer o que é, de fato, estar endividado, diferentemente do que a pesquisa do SPC mostra atualmente. “Aprendendo, o brasileiro pode escapar do endividamento”, diz.
CONTAS QUE MAIS ATRASAM
Cartão de crédito: 23%
Contas de luz: 17,9%
TV por assinatura: 12,7%
Celular/Telefone: 12,5%
* Dados do SPC, 2016.
FICAR COM O NOME SUJO AJUDA A MUDAR DE ATITUDE
Leandro Marcelo: “Percebi que o dinheiro só dava para o sustento”. (Foto: Elcimar Neves/Diário do Pará)
O autônomo Leandro Marcelo, 34 anos, conta que quando tinha um emprego formal, comprou um fogão e uma cama parcelados. “Depois da demissão, percebi que o dinheiro só dava para o sustento e tinha que sacrificar alguma coisa”, revela. Depois de alguns anos, quando começou a trabalhar como autônomo e estabilizar as finanças, retornou à loja e negociou a conta. Depois dessa experiência, ele mudou seu comportamento e hoje anota cada compra.
Lidiane Sousa: "Saí do emprego e não deu mais para pagar". (Foto: Elcimar Neves/Diário do Pará)
O caso de Marcelo exemplifica o que a pesquisa do SPC Brasil mostra: nove entre cada dez pessoas que já ficaram com o nome sujo mudaram de atitude. O mesmo aconteceu com a Lidiane Sousa, 24, vendedora de chip. Ela, como muitos, não estava prevenida para eventuais complicações no futuro. Por isso, fez compras no cartão, certa de que conseguiria pagar em dia. “Eu pensei uma coisa, porque estava trabalhando, mas saí do emprego e não deu mais pra pagar”, diz a moça. Depois disso, ela diz que mudou totalmente: só faz compras à vista, anota tudo e pesquisa os preços antesde comprar.
(Alice Martins Moraes)
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