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Histórias de Adoção: amor que supera laços físicos

A vendedora Izabel Mota, de 50 anos e a servidora pública Lorena Corrêa, de 37 anos não se conhecem, mas estão ligadas por uma escolha que mudou a vida de duas pequenas crianças e transformou a vida de uma família que transbordava de amor, um amor que che

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A vendedora Izabel Mota, de 50 anos e a servidora pública Lorena Corrêa, de 37 anos não se conhecem, mas estão ligadas por uma escolha que mudou a vida de duas pequenas crianças e transformou a vida de uma família que transbordava de amor, um amor que chegou por meio da adoção!

Izabel trabalhava em um transportadora quando recebeu um telefonema de sua irmã, dizendo que uma jovem estava precisando de um lugar para morar e tinha acabado de dar luz a uma criança e ambas não tinham onde ficar.

A priori, a primeira atitude de Izabel que já tinha dois filhos foi recusar uma pessoa estranha em sua casa, mas os planos em sua vida já estavam traçados.

“A Sara tinha 22 dias de nascida quando chegou em casa e tudo mudou. Comecei a ter amor por ela e acho que na verdade adotei as duas, mãe e filha. Quando a Sara completou um ano, a mãe dela por ser muito jovem disse que ia embora atrás do pai da criança para ele registrar e ajudar. Na época fui contra, pedi que a Sara ficasse, mas foram as duas embora”.

Família completa: Izabel e os filhos Sara, Victor e Igor. (Foto: arquivo pessoal)

Apesar de sempre ouvir dos amigos que esquecesse a criança, a saudade de Izabel e seus filhos pela pequena era inexplicável, mas após três meses a vida da família mudou novamente depois de uma ligação.

“Recebi um telefonema da minha mãe dizendo que a Sara tinha sido tomada da mãe em Bragança e estava com um casal. Eu comprei uma passagem e naquele mesmo dia fui atrás. Encontrei a mãe da Sara e ela contou que o pai não quis saber e que por sair e deixar a criança com outras pessoas, esse casal ficou a menina e não quis mais devolver. Fui na casa desse casal e fiquei chocada com as condições da família”.

Após denunciar o caso, Izabel voltou até a casa do casal agora acompanhada de policiais. A emoção do reencontro entre Izabel e a filha que seu coração já tinha adotado foi inexplicável.

“Quando vi a Sara meu coração enterneceu, lembro até hoje, ela calçada com uma banda de sapato e um vestido branco encardido e ela disse: ‘mãe vieste me buscar´. Voltamos para Belém para cumprir toda burocracia e Sara com 1 anos e 4 meses voltou para casa, para a minha família".

Hoje, Izabel e Sara, que está prestes a completar 15 anos e moram em Portugal e constroem juntas, todos os dias, um elo de amor e gratidão.

“A Sara é minha filha, amiga, conversamos sobre tudo. Não me vejo sem ela e digo com toda certeza que faria tudo novamente, pois não me arrependo de nada. A Sara é o meu amor”, relata a vendedora emocionada.

Sara e Izabel vivem uma relação de amor incondicional e gratidão. (Foto: arquivo pessoal)

ADOÇÃO: EXEMPLO NA FAMÍLIA

Enquanto Sara chegou na vida de Izabel por um “mero acaso do destino”, o pequeno Felipe Corrêa foi um desejo compartilhado há muito tempo por Lorena e seu marido, Fabrício Corrêa antes mesmo do casamento.

“Antes de casarmos já havíamos conversado que mesmo com filhos biológicos, iríamos adotar uma criança”, explica.

O desejo do casal ficou ainda maior depois de visitarem um abrigo com os pais de Lorena, que adotaram uma criança e após descobrir que o sonho de ter filhos biológicos só se tornaria realidade após tratamentos de fertilização.

“Eu e o Fabrício éramos namorados quando meus pais adotaram meu irmão e acompanhamos tudo, inclusive todos os cuidados. Casamos, resolvemos engravidar, fizemos vários exames e descobrimos que não podíamos ter filhos. As circunstâncias somente adiantaram o desejo”, relembra.

A ansiedade do casal com a ideia da adoção ganhou ainda mais força após a inscrição no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

Felipe chegou na família de Lorena e Fabrício com apenas 17 dias de vida. (Foto: arquivo pessoal)

“Uma no após a inscrição, em 2011, conhecemos uma senhora que por não ter condições nenhuma de ficar com o filho que iria gerar, nos pediu para ficar com o filho dela, foi a maior emoção da nossa vida. E com 17 dias, o Felipe chegou na nossa casa, na nossa família para nos trazer muita alegria. A família ficou toda em festa e o amor de todos por ele é o mesmo que o nosso: incondicional e sem exceções”, relata a mãe emocionada.

Lorena e Fabrício entraram com pedido de adoção do pequeno Felipe em dezembro de 2011, em março de 2012 o casal teve uma audiência com a mãe biológica e uma semana depois receberam a Certidão de Nascimento definitiva.

“Hoje, com 4 anos já conto para ele uma historinha infantil sobre a adoção dele, não sei se ele consegue ter a percepção geral, mas pretendo sim contar e fazer ele entender do amor da mãe em doá-lo por saber que não teria condições de ficar com ele, além dos 5 filhos que já possuía e o nosso por recebê-lo”.

E para quem está pensando na adoção, Lorena garante que as dificuldades são grandes, mas que não há nada mais fascinante do que o retorno de ter um filho em seus braços.

“Tenham o coração aberto e dialoguem entre a família sobre todos os aspectos que uma adoção acarreta, psicológicos e legais. O Felipe é filho como outro qualquer, não é filho adotivo ou filho do coração, é simplesmente filho, e ele retribui a todos o carinho e amor que recebe”.

A família Corrêa nunca desistiu do sonho e aproveitam o amor que recebem do filho Felipe, hoje com 4 anos. (Foto: arquivo pessoal)

ADOÇÃO NO PARÁ

No Pará, segundo o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), em consulta realizada em setembro, 85 crianças e adolescentes esperam por uma família e por viver o mesmo final feliz de Sara e Felipe.

Ainda segundo o cadastro, a maioria são crianças maiores de 10 anos, do sexo masculino, negros e pardos, que possuem irmãos.

O cadastro ressalta ainda, que no Pará, há 266 pretendentes à adoção cadastrados, sendo que 70% não aceitam adotar irmãos e aproximadamente 80% querem crianças de até cinco anos, além disso, 83% dos pretendentes buscam por crianças e adolescentes sem doenças.

Para a assistente social Rosana Maria Souza de Barros, que atua há 16 anos na área da Infância e da Juventude no Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA), na escolha do perfil é o fator que mais dificulta na hora da adoção.

“Embora se note uma leve redução da exigência quanto à etnia, com o aumento do número de pretendentes que se diz indiferente à etnia, os critérios de idade e o fato da criança/adolescente possuir ou não irmãos ainda não altamente considerados na hora da escolha do perfil”, lamenta.

Se de um lado a Justiça lamenta a “escolha do perfil adequado”, do outro, casais que já estão na filha da adoção reclamam do excesso de burocracia e tempo de espera.

A assistente social destaca que o trâmite é fundamental tanto para quem está com a intenção de adotar, quanto para o adotado.

“O processo de adoção tem um trâmite que visa garantir o melhor interesse da criança e do adolescente, necessitando de procedimentos que de fato constatem que a criança/adolescente se tornarão filhos, com todos os direitos e deveres”, explica.

GRUPO DE APOIO À ADOÇÃO

Em Belém, o Grupo de Apoio à Adoção de Belém realiza oficinas com temas relacionados à adoção, além de explicar melhor os trâmites e informações sobre outros aspectos.

Todo último sábado do mês, os pretendentes a adoção de Belém e Região Metropolitana podem frequentar o grupo, no horário de 15h30 às 17h30, no centro de assistência à criança Lar de Maria, localizado na avenida Almirante Barroso, no bairro de São Brás.

REQUISITOS PARA ADOÇÃO

A adoção de crianças e adolescentes é regida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que estabelece que a adoção é uma medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família de origem ou família extensa (artigo 39, § 1º).

O ECA determina ainda, que não será deferida a colocação em família substituta (adoção, guarda ou tutela) a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado.

De acordo com a assistente social do TJPA, serão analisadas as condições objetivas e subjetivas para o atendimento das necessidades da criança ou adolescente para um desenvolvimento saudável.

“A adoção é irrevogável e concede ao adotando os mesmos direitos e deveres de filhos biológicos. Portanto, não se pode dizer que se devolve um filho adotivo, mas se abandona como se abandona filhos biológicos, o que coloca os pais adotivos em condições de responder por abandono”, ressalta a especialista.

REPORTAGEM: Andressa Ferreira

MULTIMÍDIA: Demax Silva

COORDENADORA SÊNIOR: Diana Verbicaro

EDITOR EXECUTIVO: César Modesto

DIRETOR DE JORNALISMO: Klester Cavalcanti

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