Um estudo realizado pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), apontou uma alta incidência de mortes de castanheiras em áreas desmatadas no município de Oriximiná, no Baixo Amazonas. 

A pesquisa, que foi divulgada nesta terça-feira (07), analisou as condições biológicas de sobrevivência, reprodução, rebrotação e estrutura de populações de castanheiras localizadas em áreas desmatadas de Oriximiná (PA), um dos principais municípios produtores do país de castanha-do-pará. O diagnóstico teve como foco árvores localizadas às margens de estradas e ramais de chão.

Numa área total de 218,7 hectares, a equipe identificou 441 castanheiras, sendo que a maioria foi encontrada morta (75%). “A maioria das castanheiras está morta e as que estão vivas apresentam problemas de produção, pois na metade destas não foi observada presença de frutos”, afirma o coordenador da pesquisa, Ricardo Scoles, professor do Centro de Formação Interdisciplinar (CFI) da Ufopa.

Segundo o professor, um dos desafios oriundos dos resultados desta pesquisa é tentar explicar o porquê da baixa produtividade das castanheiras sobreviventes em áreas desmatadas. “Em área aberta, desflorestada, as castanheiras sofrem com o estresse ambiental, como a falta de água e de nutrientes. Outro problema é a compactação do solo, que atrapalha o desenvolvimento das raízes”, explica.

Os resultados do estudo foram publicados em dezembro de 2016 na revista “For@am: Floresta e Ambiente”, através do artigo “Sobrevivência e Frutificação de Bertholletia excelsa Bonpl. em Áreas Desmatadas em Oriximiná, Pará”.

A coleta de dados foi realizada entre os anos de 2011 e 2012 em propriedades particulares situadas em quatro ramais - Boa Vista, José Severo, Copaíba e dos Três - da Estrada do Batalhão de Engenharia e Construção (BEC), estrada de chão situada na confluência das rodovias PA-439 e PA-254, com expressiva presença de castanhais em situação de deterioração populacional por desmatamento e fogo repetido.

De acordo com o artigo, a situação das populações de castanheiras na Estrada do BEC é extremamente crítica, pois “evidenciou-se altíssima mortandade das árvores nas áreas desmatadas sem regeneração natural e atividade pecuária”. Além disso, “a população viva remanescente revelou uma clara tendência ao envelhecimento e baixo estado produtivo (somente 51% das árvores adultas têm frutos)”.

Para os autores do estudo, “esse cenário desolador é fruto do descaso público e do desrespeito à legislação de proteção ambiental por boa parte dos proprietários rurais”.

Fogo 

A maioria das árvores detectadas mortas (99%) durante o levantamento apresentava sinais de queimadura na casca e no tronco, o que evidencia o fogo como principal causa da morte. 

O artigo ressalta ainda que “23,1% das castanheiras tinham sinais de terem sido cortadas com motosserra após morrer, supostamente para aproveitamento da madeira, enquanto 6% das árvores mortas estavam tombadas e com as raízes arrancadas e expostas. Uma parcela considerável das castanheiras mortas (35,7%) permanece erguida (em pé), mesmo que a maioria delas (73,6%) já não possua o esqueleto dos galhos da copa.

Os pesquisadores também observaram que “51% das árvores vivas apresentavam sequelas decorrentes de ataque por fogo (casca queimada na base do tronco) e 12% evidenciaram ataque severo de cupins. Apenas uma quinta parte das castanheiras vivas (20%) apresentou estruturas vivas de rebrotamento na base do tronco ou na copa”.

A castanheira é uma espécie útil, de grande importância econômica e social na Amazônia devido à comercialização e consumo doméstico de suas sementes comestíveis. Nas regiões em estudo, a castanha é o produto florestal não madeireiro mais importante em termos econômicos, sendo Óbidos e Oriximiná dois dos principais municípios produtores do Brasil.

(Com informações da Ufopa)

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