Segundo o historiador Michel Pinho, o patrimônio envolve uma série de ações, que envolvem preservação, reforma e arborização da cidade (Foto: Rogério Uchôa) Em pleno século XXI, a realidade urbana de Belém não é tão diferente há dois séculos atrás. A desigualdade e os problemas de saneamento básico, por exemplo, continuam atuais e ainda afetam a população da cidade. Essa é a opinião do historiador Michel Pinho, 42 anos, que também é fotógrafo e ministra aulas abertas no Centro Histórico da capital. O historiador destaca algumas das principais características da cidade, desde à Belle Époque aos dias atuais.  Para ele, um dos marcos do período áureo da borracha é a desigualdade. “Belém no final do século XIX já era uma cidade desigual. Havia um núcleo muito urbanizado e áreas que se caracterizavam pela ausência completa de saneamento básico ou qualquer estrutura urbana”, diz. Havia o crescimento urbano baseado no modelo europeu, mas também modos de vida bem tradicionais, como no bairro do Guamá com suas casas na beira do rio ou as rocinhas na avenida Nazaré.  Outra característica apontada por Michel é que a cidade era marcada pela diversidade étnica. “No final do século XIX era possível observar a presença dos seringueiros vindos do nordeste, os tapuios moradores nos rios perto da capital, os banqueiros ingleses e franceses e uma enorme quantidade de negros oriundos da escravidão”, garante. PATRIMÔNIO Ele diz ainda que a arquitetura de Belém é similar ao seu povo, ou seja, diversa. Desde construções tipicamente indígenas nas áreas do Guamá ou Val de Cães, até os palácios neoclássicos portugueses. “Esse ecletismo ficou ainda mais evidente no século XIX, quando o paisagismo francês começou a tomar conta das praças da capital”, reitera. Para Michel Pinho, o patrimônio histórico é um elemento importante para a construção da memória da cidade. “Não só os casarões são importantes, mas a preservação de outros bens como o nome das ruas, as mangueiras e seus replantios, além dos monumentos que estão abandonados pela atual prefeitura”, lista.  O historiador considera que todos esses elementos, em conjunto, constituem um forte elo de ligação dos habitantes com a história da sua cidade. “A memória não é uma questão só do poder público. Iniciativas mais simples como educar para não pichar a cidade já são um elemento para preservar”.  Mesmo assim, ele considera que o poder público municipal não tem ações para a proteção das nossas memórias materiais. “Não assistimos ações educativas, políticas de incentivo em relação à moradia, a requalificação do centro histórico está emperrada por quase 20 anos e a normatização do trânsito no centro histórico é fielmente ignorada”, enumera.

(Leidemar Oliveira/Diário do Pará)

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