Maior ação do ano da Polícia Federal contra abuso sexual de crianças, a Operação Harpia, realizada em 24 estados e no Distrito Federal, terminou com 38 prisões e 81 mandados de busca e apreensão cumpridos, nesta quinta-feira (23), contra alvos suspeitos de produzir, armazenar ou comercializar pornografia infantil. A maioria dos presos foram detidos em flagrante - 33 deles. Todos são homens.
A reportagem conversou com a delegada Rafaella Parca, da Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal, que explica que as investigações começaram há cerca de 3 meses, quando notícias-crime do país inteiro chegaram à coordenação. Todo material apreendido nesta quinta ainda será periciado, mas um objetivo já está claro no inquérito: identificar essas crianças vítimas de exploração, para que providências sejam tomadas junto às famílias.
- É muito comum que haja prisão em flagrante nesses casos, porque eles armazenam esse tipo de material e cometem esses crimes há muito tempo. Achamos vários materiais produzidos pelos investigados envolvendo crianças do círculo íntimo deles - conta a delegada. - E identificamos, de cara, pelo menos quatro vítimas exploradas nestes vídeos. Já estamos tomando providências e entrando em contato com as famílias, porque muitas das vezes essas pessoas não sabem o que vinha acontecendo com essas crianças.
CONTEÚDOS RELACIONADOS:
- PF prende três com 2 mil imagens de pornografia com crianças
- PF realiza operação de combate à pornografia infantil na internet no Pará
Durante as diligências, os agentes se depararam ainda com situações inusitadas, como em Teresina (PI), quando um alvo, ao ver a aproximação da equipe da PF, incendiou e destruiu o próprio celular, dificultando a obtenção de provas. Em Belém (PA), os policiais se surpreenderam ao flagrar um suspeito surdo e mudo, que acabou preso.
Na ação, os policiais federais também identificaram pelo menos dois homens que aplicavam golpes financeiros em criminosos interessados em participar de grupos fechados de disseminação de vídeos de pedofilia.
- Em Altamira (PA) e no Rio Grande do Sul descobrimos casos de homens que vendiam a promessa a ingresso em grupos de abuso sexual infantil num determinado aplicativo e, após o pagamento, eles bloqueavam o contato dos interessados e ficavam com o dinheiro. A princípio, simulavam ser administradores desses grupos de criminosos. Mas tudo ainda será analisado com a análise pericial.
NÚCLEO FAMILIAR
As investigações da PF apontam que estes criminosos costumam se articular em grupos na deep web , ou mesmo nas redes sociais mais tradicionais, que exigem um nível de sofisticação menor, com utilização de perfis fakes ou fazendo-se passar por crianças, na intenção de aliciar vítimas.
Quer mais notícias sobre polícia? Acesse o nosso canal no WhatsApp
- Entre o perfil desses abusadores, o que é muito forte e presente é o fato de serem homens. Todos os alvos da operação de hoje eram homens. Mas idade, profissão, comportamento, é tudo muito difícil dizer. São pessoas dos mais variados tipos. Mas o principal modus operandi, podemos dizer que é esse aliciamento on-line de crianças, com uso de perfis falsos. Tem se tornado muito frequente. Essas quadrilhas estudam o perfil da criança e da família. Fingem ser colegas da escola, ou mesmo treinadores de futebol em busca de talento, agência de modelos. Aí eles ganham confiança, conseguem adquirir imagens íntimas desses menores de idade, e praticam o chamado sextorsion : extorquem essas vítimas, por meio de ameaças, para que elas produzam mais materiais.
COMO AGIAM
A policial federal conta ainda sobre a ação dessas organizações criminosas na internet.
- Os criminosos mais sofisticados ainda usam bastante a deep web, que é um ambiente onde a identificação é dificultada. Mas hoje vários deles armazenam esse tipo de material nas redes sociais tradicionais que, claro, têm responsabilidade sobre o que é publicado em seus provedores. Usam ainda aplicativos que eles sabem que não são tão amigáveis com as agencias policiais, como o Discord e o Telegram. Mas acho que as principais redes têm se sensibilizado. Os serviços de internet têm tratado a sério o tema, de alguma forma. Quando procurados por nós, têm se enquadrado no nosso Marco Civil. Às vezes, à força, mas têm se enquadrado.
A delegada conta que, no decorrer das investigações, eles se depararam - e se surpreenderam - com um verdadeiro mercado de compra e venda de materiais pornográficos infantis. Ainda não é possível estimar valores, mas já se sabe que vários desses suspeitos moveram muito dinheiro com a produção desse tipo de conteúdo ilegal e disseminação nas redes.
- Há ligação desse tipo de crime também com perfil de extremistas ou pessoas que costumam se identificar com os desenhos hentai ( desenhos pornográficos japoneses ), mas essa é uma parcela menor. A maior parte dos casos, de fato, tem sido de criação de perfis falsos que se aproximam de crianças, que são muito inocentes e às vezes acabam convencidas com três ou quatro frases. E esse mercado ilegal tem movido muito dinheiro. Não contávamos desde o início que encontraríamos tantos casos de venda desses materiais, mas está acontecendo muito: seja através de PIX, criptomoedas... isso é algo que tem mudado em relação a esse tipo de crime na nossa realidade brasileira. Não era algo que víamos até pouco tempo.
PARA ENTENDER
Investigação
O trabalho policial é fruto de investigação iniciada na Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal, onde foi realizada a análise de notícias de crimes relacionadas ao abuso sexual infantojuvenil on-line
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar