Cerca de 450 famílias ligadas ao Movimento Sem Terra (MST), acampados na fazenda Santa Tereza, distante cerca de 30 km de Marabá, no sudeste paraense, viveram momentos de pânico e terror na madrugada deste sábado (28).

Segundo Nieve Rodrigues, coordenadora do MST, o acampamento Hugo Chávez foi atacado por pistoleiros fortemente armados. “Cerca de 1h da manhã começaram os ataques. Muita gente fugiu e conseguiu se salvar. Destruíram todo o acampamento, além de 30 veículos nossos, dentre carros, motos e caminhões”, diz ela, garantindo que “não teve feridos”.

Nieve relembra que a fazenda havia sido ocupada pelo movimento em 2014, onde ficaram até 2017, até serem despejados. O MST voltou a ocupar o local na madrugada da última quinta-feira (26), segundo ela.

“Esse ataque foi articulado entre os pistoleiros com a polícia, que faz a segurança deles. Quando nós fomos registrar um Boletim de Ocorrência eles já sabiam o que estava acontecendo. Uma acampada também reconheceu um policial da Delegacia de Conflitos Agrários (DECA) durante o ataque”, denuncia a coordenadora do movimento, acrescentando que os órgãos de segurança pública já foram acionados.

Com a destruição do acampamento, as famílias voltaram para o assentamento 23 de Março, vizinho à fazenda Santa Tereza. “Ainda não tomamos uma deliberação porque as famílias perderam tudo e não sabemos como será o dia de hoje. Os órgãos de segurança já foram acionados, a Secretaria de Segurança Pública do Estado, a Promotoria Agrária, dentre outros”, ressalta Nieze.

Em nota, o MST disse que tem repudiado a ação de pistolagem, informando a sociedade e exigindo das autoridades responsáveis medidas cabíveis contra mais esta tentativa de assassinato de trabalhadores e trabalhadoras no campo na região.

O deputado estadual Carlos Bordalo, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Pará, também repudiou o ataque contra o acampamento.

"Exigimos, portanto, que o Estado e a rede de garantia de direitos tomem todas as providências para investigar este novo atentado, que colocou em risco a vida de trabalhadores rurais, além de crianças, mulheres e idosos que estão no Hugo Chávez. É preciso garantir a integridade dos acampados e suas famílias. Não podemos mais tolerar que o Pará continue sendo triste cenário de violência e mortes no campo", disse Bordalo.

DECISÃO JUDICIAL

Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) informou que o Comando de Policiamento Regional 2 da Polícia Militar, com sede em Marabá, sudeste paraense, acompanha a movimentação na fazenda Santa Lúcia, propriedade que foi reintegrada em 2017 por determinação judicial, mas invadida novamente, dias atrás, por cerca de 600 pessoas provenientes do acampamento Hugo Chaves e da cidade de Eldorado dos Carajás, ocasião que teriam queimado equipamentos como tratores. 

A Segup disse ainda, que o CPR 2 da PM aguarda o trabalho de levantamento feito por policiais da Delegacia de Conflitos Agrários (Deca) de Marabá, a fim de identificar o cenário dentro da propriedade.

A Polícia Militar esclarece que nos casos de esbulho possessório, por orientação do Ministério Público do Estado, deve evitar o uso da força e agir tão somente mediante decisão judicial.

O DOL entrou em contato com o Ministério Público e aguarda um posicionamento sobre o caso.

(DOL)

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