
O ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias é ouvido na CPI da Covid nesta quarta-feira (7). Ele foi exonerado do cargo em junho após denúncia de que teria pedido propina de US$ 1 por dose de vacina da AstraZeneca em negociação. Dias nega a acusação.
O suposto esquema envolvendo Dias foi revelado pelo policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que se diz representante da empresa Davati Medical Supply. Em oitiva na comissão ele confirmou ter recebido a proposta ilegal de Dias ao oferecer 400 milhões de doses do imunizante ao Ministério da Saúde.
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"[Dias disse] que a vacina, naquele valor [US$ 3,50], não seria feita a aquisição pelo Ministério. A conversa começou assim: 'Olha, nós temos que melhorar esse valor'. Aí, eu disse: 'Mas eu tenho que tentar um desconto, eu não tenho [como dar desconto]'"
Dias reconhece o encontro com Dominguetti em um restaurante de Brasília, mas nega ter conversado sobre a venda de vacinas e cobrado propina. Em nota, ele ainda disse que pode ter sido usado como "fantoche para algo".
TRAJETÓRIA NO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Dias resistiu as trocas de três ministros, e ao pedido para sua demissão, que havia sido encaminhado em outubro de 2020 pelo general Eduardo Pazuello ao Palácio do Planalto.
O servidor público, porém, foi exonerado em 29 de junho, horas após o jornal Folha de S.Paulo publicar a entrevista de Luiz Paulo Dominguetti Pereira.
Dias comandava, desde janeiro de 2019, uma das áreas mais cobiçadas por partidos políticos no Ministério da Saúde, que é responsável por pagamentos de cerca de R$ 10 bilhões anuais para compra de medicamentos e outros insumos.
O valor nas mãos do ex-diretor disparou na pandemia. Apenas em 2021, o Departamento de Logística empenhou mais de R$ 30 bilhões, principalmente para a compra de vacinas contra a Covid-19. Esse quantitativo representa, por exemplo, cerca de três vezes o orçamento total aprovado para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
'NADA ACONTECE SE O ROBERTO NÃO QUISER'
Os requerimentos para a convocação de Dias foram apresentados pelos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Otto Alencar (PSD-BA). Nos pedidos, os parlamentares querem esclarecer também o suposto envolvimento de Roberto Ferreira Dias em irregularidades na compra de outro imunizante: o indiano Covaxin.
Segundo Costa, Dias assinou um “contrato bilionário” para a compra da vacina, o que vem sendo investigado pela CPI.
A existência de denúncias de irregularidades em torno da Covaxin foi revelada pela Folha de S.Paulo no dia 18 de junho, com a divulgação do depoimento sigiloso do servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal.
Esse mesmo servidor e o irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), falaram na comissão parlamentar que alertaram o presidente Jair Bolsonaro sobre as supostas irregularidades.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o deputado Miranda contou que Dias é quem dá as cartas no setor das compras do Ministério da Saúde. "Nada ali acontece se o Roberto não quiser."
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