Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou que a empresa VTCLog movimentou de forma suspeita R$ 117 milhões nos últimos dois anos. A empresa foi selecionada pelo Ministério da Saúde para cuidar da armazenagem e distribuição de medicamentos.
Ivanildo Gonçalves, que é motoboy a serviço da VTCLog, teria feito saques que somam o montante de R$ 4,7 milhões. Ele estava convocado para oitiva na CPI da Pandemia nesta terça-feira (31), mas não compareceu, após decisão liminar do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o desobrigou de participar da reunião. Senadores consideraram que a posição contraria decisões anteriores do STF.
Na decisão que livrou, provisoriamente, o motoboy da VTCLog de comparecer à CPI, o ministro Nunes Marques atendeu à alegação de falta de pertinência temática. Contudo, a CPI dispõe de indícios de que o motoboy realizava pagamentos de boletos do ex-diretor do Departamento de Logística (Delog) do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias. As imagens de onde foram feitos os pagamentos foram requeridas pela CPI e exibidas durante a reunião desta terça.
Registros em posse da CPI da Covid, obtidos pelo jornal O Globo, mostram que Ivanildo Gonçalves esteve no Departamento de Logística do Ministério da Saúde em 12 de julho de 2020. Àquela época, a área era comandada por Roberto Ferreira Dias, investigado pela comissão parlamentar por suspeita de irregularidades na pasta.
CPI quebra sigilo de Barros e do advogado de Bolsonaro
À reportagem do jornal carioca, o advogado de Roberto Dias, Marcelo Jorge, disse que Ivanildo é um dos funcionários que entregavam faturas da VTC Log ao Ministério da Saúde, o que justificaria sua presença no órgão. Segundo ele, o sistema do Ministério da Saúde não permite o envio do documento por e-mail. Questionada, a pasta não se posicionou até a publicação desta reportagem.
Após as ausências do motoboy Ivanildo Gonçalves e da diretora-executiva da VTCLog, Andréia Lima, a CPI da Pandemia vai se dedicar a aprofundar as investigações sobre a empresa. O anúncio foi feito pelo presidente, Omar Aziz (PSD-AM), na reunião desta terça-feira (31), quando foi aprovada a reconvocação do motoboy e a transferência de sigilos fiscal, telemático e bancário da VTCLog.
"Agora a CPI irá focar no depoimento de todas as pessoas da VTCLog. Todas, sem exceção. Nós iremos a fundo na VTCLog até a CPI concluir essa questão", disse Omar Aziz.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que não recai sobre Ivanildo qualquer responsabilidade por crime. Senadores também aguardam resposta da Polícia Federal sobre pedido de proteção policial para o motoboy. “Ele não cometeu crime. Ele cumpriu uma ordem”, ressaltou Renan.
Otto Alencar (PSD-BA) afirmou que há informações de que Ivanildo distribuía dinheiro em Brasília, “o que irá comprometer pessoas em todas as áreas”.
Outros nomes
Randolfe Rodrigues sustentou que tornou-se “indispensável” ouvir outros nomes ligados à VTCLog. Segundo ele, também causou espantou o fato de o motoboy, que recebe cerca de R$ 2 mil, ter sido defendido por uma banca de advogados considerada "cara". De acordo com os senadores, o advogado Alan Diniz Moreira Guedes de Ornelas teria trabalhado na defesa de Fabrício Queiroz e de Adriano da Nóbrega, miliciano morto em fevereiro de 2020.
Senadores também lamentaram a ausência de Andréia Lima. A diretora-presidente da empresa disse estar “à disposição para contribuir com os trabalhos da CPI”, mas apontou que não poderia comparecer nesta terça “devido à agenda prévia de viagem relacionada à logística de distribuição das vacinas”.
O líder do governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), classificou como “politização” o eventual indiciamento de servidores do Ministério da Saúde por corrupção passiva no relatório final da CPI. Para o parlamentar, o suposto pedido de propina feito pelo então diretor de Logística da pasta Roberto Ferreira Dias para a compra da vacina AstraZeneca não pode ser caracterizado como crime.
Marcos Rogério (DEM-RO) e Jorginho Mello (PL-SC) defenderam a apuração da CPI, mas reforçaram que pessoas só devem ser investigadas quando “existirem evidências”.
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