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ALIADOS DO PRESIDENTE

Bancada evangélica de Bolsonaro tem nova rixa no Congresso

Deputados da base aliada do presidente brigaram pela presidência da bancada evangélica, envolvendo ainda nomes como o de Silas Malafaia e falando sobre tentativa de golpe

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Imagem ilustrativa da notícia Bancada evangélica de Bolsonaro tem nova rixa no Congresso camera Agência Brasil

Havia ficado acordado um ano atrás: para não ter briga na bancada evangélica, os dois deputados que disputavam sua presidência, um aliado do pastor Silas Malafaia e outro que representa o poderoso Ministério Madureira da Assembleia de Deus, se revezariam no cargo.

Todos pareciam satisfeitos com o pacto entre religiosos aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL), registrado em ata da Frente Parlamentar Evangélica no dia 17 de dezembro de 2020: Cezinha de Madureira (PSD-SP) assumiria a liderança em 2021, e o eleitoral 2022 ficaria com Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, sob comando de Malafaia.

A igreja de Cezinha, contudo, sinalizou que não tem interesse em cumprir o combinado. A estratégia é atribuída ao seu mentor, o bispo Samuel Ferreira, à frente do Ministério Madureira.

Ferreira aproveitou a presença de Jair Bolsonaro num culto da denominação, logo após a posse de André Mendonça no STF (Supremo Tribunal Federal), para dizer que faria campanha pela extensão de seu afilhado político na cabeceira do bloco religioso.

Nos bastidores, fala-se em tentativa de golpe. Ao menos por ora, não há indícios de que vá prosperar. A ideia de continuar mais um ano no poder não contaria com apoio nem mesmo de aliados de Cezinha, como Pastor Eurico (Patriota-PE), capelão dos cultos semanais da bancada no Congresso, e Silas Câmara (Rebublicanos-AM), o ex-presidente da frente.

Se Cezinha insistir, acabará queimado, dizem deputados e assessores do grupo. O deputado respondeu apenas com uma passagem bíblica, Mateus 12:25, quando a reportagem o procurou: "Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: 'Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá'".

A contenda chegou à cúpula das respectivas igrejas. Questionado se tratou do assunto com a família Ferreira, Malafaia disse que não precisa "conversar com ninguém", pois fala mais alto o documento que sacramentou o acerto, assinado por Cezinha, Sóstenes e toda a direção da frente evangélica.

"Se [Samuel] quiser ser desmoralizado no mundo evangélico, é só ele tentar, é só ele continuar, que eu vou mostrar a ata. Vamos ver. Ele é que tem que fazer a escolha dele, entendeu?", disse Malafaia à Folha. "Caso não queira cumprir, vou expor isso ao mundo evangélico. Vamos ver quem é quem na história."

Malafaia é, hoje, um dos principais conselheiros evangélicos de Bolsonaro e também um dos pastores do Brasil mais influentes nas redes sociais. Já o escopo evangelizador da Madureira, numericamente, é bem maior, com mais templos e fiéis, e um entrosamento de décadas com figuras no poder.

Apesar dos atritos com Samuel, o pastor carioca tem uma boa relação com o clã Ferreira, formado por líderes pastorais. É próximo, por exemplo, de Abner Ferreira, irmão do bispo.

O pai deles, o quase nonagenário Manoel Ferreira, hoje bispo-primaz das Assembleias de Deus Madureira, foi neste ano um dos principais convidados para pregar na Escola de Líderes da Assembleia Vitória em Cristo, evento anual organizado pela igreja de Malafaia. O próprio Manoel já chefiou a bancada, quando era deputado, no biênio de 2008 e 2009.

Em geral, os mandatos da frente parlamentar são mesmo de dois anos. Em 2020, contudo, Sóstenes propôs a alternância na liderança, para evitar uma inédita rixa eleitoral no bloco -que sempre escolheu seu líder por aclamação, ou seja, por consenso entre os membros, sem a necessidade de voto.

Chamado internamente de fatricida, o replay desse clima de disputa pegou mal na bancada.

Na semana passada, uma cizânia entre Madureira e Vitória em Cristo serviu de dica do que estava por vir. Malafaia criticou publicamente Cezinha. Disse que, "sem consultar ninguém da frente", o deputado havia fechado um acordo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL): os evangélicos não fariam grande oposição à liberação dos jogos de azar, tema de um projeto de lei, e a Casa aprovaria uma proposta de emenda à Constituição para isentar de IPTU igrejas que alugassem imóveis.

Acontece que esse tópico sempre foi indigesto para as igrejas, com pouca adesão nelas –há exceções com Marcelo Crivella, sobrinho do bispo Edir Macedo, que tentou trazer cassinos à cidade quando foi prefeito do Rio. Cezinha disse que Malafaia mentiu e que ele nunca endossou negociações que pudessem destravar essa pauta-bomba para religiosos.

Quanto à sucessão na bancada evangélica, Sóstenes diz "confiar na idoneidade" do colega, para que prevaleça "o bom senso e o entendimento".

Decano do bloco, Gilberto Nascimento (PSC-SP), que costuma ter apoio de Malafaia nas eleições, pede paz. Afirma que não é momento para bater cabeça, logo agora "que a bancada está indo tão bem, está sendo ouvida pelo governo e respeitada".

"Não passa pela minha cabeça que Cezinha fale 'não quero mais [ceder o lugar], quero ficar'", diz. A troca de bastão está marcada para a primeira quarta-feira de fevereiro do ano que vem.

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