O presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu nesta segunda-feira (11) que entregou cargos de seu governo em troca de apoio parlamentar, prática que ele classificou como "crime" em 2018, às vésperas de sua eleição.
Em entrevista ao podcast Irmãos Dias, ao ser questionado se é necessário fazer algum tipo de acordo para conseguir aprovar no Congresso pautas que beneficiam os brasileiros, o mandatário assumiu que deu cargos ao Centrão em troca de apoio político.
Em 27 de outubro de 2018, na véspera do segundo turno das eleições, quando foi eleito na disputa contra Fernando Haddad (PT), Bolsonaro disse que seria crime entregar cargos no governo para partidos políticos.
Em uma live disponível em sua página no Facebook, ao lado do deputado Hélio Lopes (PL-RJ), conhecido como Hélio Negão, MENSALÃO
Com a Constituição na mão, o então candidato à Presidência disse que "a partir do momento que o presidente da República, no caso do mensalão, compra parlamentares para votar de acordo com seu interesse, esse presidente está interferindo no livre exercício do poder legislativo. Então, qualquer presidente que porventura distribua ministérios, estatais ou diretorias de banco para conseguir apoio dentro do Parlamento ele está infringindo o artigo 85, inciso 2 da Constituição", disse Bolsonaro à época.
O artigo e o inciso citados por Bolsonaro dizem que atentar contra o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação é crime de responsabilidade, ou seja, passível de impeachment.
Na mesma live em 2018, Bolsonaro disse ainda que poderia ser cobrado se oferecesse ministérios a partidos para "comprar voto". "Qualquer um pode então me questionar que eu estou interferindo no livre exercício do Poder Legislativo", afirmou.
Ainda durante a entrevista ontem, o presidente disse ainda que as emendas, no esquema do "orçamento secreto" "acalmam" os congressistas.
"Essa outra parte de emenda ajuda a acalmar o Parlamento. O que eles querem, no final das contas, é mandar recursos para sua cidade".
PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS
Eleito com o discurso da antipolítica, mesmo após 28 anos como deputado federal, Bolsonaro coleciona promessas de campanhas não cumpridas que vão desde as críticas ao Centrão à promessa de não trocar cargos por apoios.
No ano passado, contudo, Bolsonaro se aliou de vez ao Centrão, levando o senador Ciro Nogueira, cacique do grupo presidente do Progressistas, para o coração do governo. Hoje, Ciro é ministro-chefe da Casa Civil e controla o Orçamento.
Em novembro do ano passado, o presidente se filiou ao PL, comandado pelo ex-deputado Valdemar da Costa Neto desde a década de 1990.
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