A vitória de Gustavo Petro na Colômbia ampliou ainda mais o isolamento político de Jair Bolsonaro (PL) na América Latina. Se considerados apenas os vizinhos mais próximos, oito dos 12 países da América do Sul passaram a ser governados por líderes declaradamente de esquerda, cenário bem diferente daquele que o presidente brasileiro encontrou ao assumir o Planalto, em 2019.
A vitória do ex-guerrilheiro na Colômbia fortalece o movimento que vem sendo chamado de maré rosa 2.0, referência ao ciclo de governos progressistas que assumiram a América Latina no início dos anos 2000 e que agora se renova. A guinada à esquerda foi consolidada em dezembro de 2021 com a vitória de Gabriel Boric, no Chile, antecedida pelos triunfos de Alberto Fernández, na Argentina, e de Luis Arce, na Bolívia.
Os outros países sul-americanos liderados por presidentes de esquerda são Peru (Pedro Castillo), Suriname (Chan Santokhi) e Guiana (Irfaan Ali), além da Venezuela, ditadura comandada por Nicolás Maduro, no poder desde 2013. Além do Brasil, outros três países na América do Sul elegeram nomes identificados com a direita: Guillermo Lasso (Equador), Luis Lacalle Pou (Uruguai) e Mario Abdo (Paraguai). Todos, porém, têm postura mais moderada e nenhum é considerado forte aliado do brasileiro.
Na América Latina, a ascensão da esquerda ganhou força com Andrés Manuel López Obrador, eleito presidente do México em 2018, e em Honduras, que escolheu Xiomara Castro no ano passado.
Em 2018, quando Bolsonaro se elegeu, o cenário era bem diferente. As últimas nove eleições presidenciais na América Latina tinham sido vencidas por candidatos identificados com a direita (Argentina, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, Honduras, o Paraguai e Peru), com exceção de AMLO.
O resultado de domingo (19) na Colômbia gerou preocupações para Bolsonaro. Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, o presidente enviou mensagem nesta segunda a uma lista de transmissão que mantém no WhatsApp em que comentou o avanço da esquerda na região. "Cuba... Venezuela... Argentina... Chile... Colômbia... Brasil???", escreveu ele, numa referência ao fato de o ex-presidente Lula (PT) ter chance de voltar ao poder no país.
Também nesta segunda, Bolsonaro comentou com apoiadores o sequestro do empresário Abílio Diniz por grupos de esquerda, em 1989. Quando uma pessoa citou a Colômbia, o presidente comentou: "É um ex-guerrilheiro do MIR, movimento de esquerda revolucionária". A fala, porém, não deixa claro se ele se referia a Petro -ex-guerrilheiro do M-19- ou à participação de integrantes do chileno MIR no sequestro de Diniz.
De acordo com ministros e interlocutores de Bolsonaro, o presidente chamou a atenção também para a alta abstenção da eleição colombiana. O voto não é obrigatório no país, e cerca de 45% dos cidadãos habilitados a votar não compareceram às urnas. Ainda que alta, a cifra configura a menor abstenção em duas décadas na Colômbia. Bolsonaro, no entanto, estaria preocupado com a possibilidade de a abstenção no Brasil também ser alta, mesmo com o voto obrigatório.
O único membro do governo a comentar de maneira oficial a vitória de Petro foi o vice-presidente Hamilton Mourão, para quem a relação entre os países independe do governo de momento.
"A relação é de Estado para Estado, independentemente do governo", disse ele. "[Desejo] sorte ao Gustavo Petro, porque administrar um país na situação que o mundo está enfrentando não é simples. Temos interesses comuns com os colombianos, principalmente na questão da Amazônia."
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