Ao lado de presidentes dos grandes bancos brasileiros, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, cotado para ministro da Fazenda do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, ouviu pedidos de cuidado com as contas públicas e mais previsibilidade econômica.
Haddad representou Lula em evento de confraternização de final de ano promovido pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Foi recebido pelo presidente do Bradesco, Octávio de Lazari Junior, e pelo presidente da Febraban, Isaac Sidney.
À mesa com ele estavam o presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, do Santander Brasil, Mário Leão, do BTG Pactual, André Esteves, e da Caixa, Daniella Marques. Presidente do Banco do Brasil, Fausto Ribeiro não estava no evento.
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Entre os planos do PT está formar uma dobradinha entre Fernando Haddad e Persio Arida no comando da área econômica, de forma a manter o partido no comando de decisões estratégicas -mas abrindo espaço para a influência de um economista liberal na formulação de políticas públicas.
A dupla indicação colocaria Haddad no comando do Ministério da Fazenda, que concentra importantes decisões de política econômica, enquanto Persio assumiria a pasta do Planejamento, que deve ficar com o Orçamento e também com as discussões de reforma do Estado.
Haddad já vinha mantendo conversas com representantes do mercado financeiro. A presença do petista no evento tem sido encarada como uma espécie de teste do ex-ministro, que já assumiu a dianteira nas bolsas de apostas de quem será o chefe da equipe econômica de Lula. Ele participa como representante do presidente eleito, que se recupera de um procedimento médico.
PAUTA DOS BANCOS NÃO SE LIGA A IDEOLOGIAS, DIZ FEBRABAN
Ao discursar na abertura do evento, o presidente da Febraban afirmou que, "independentemente do governo que sai e do novo que chegará em breve, nossa obsessão será perseverar na direção de os bancos funcionarem como alavanca para o crescimento sustentável. A pauta do setor não está vinculada a ideologias dos nossos governantes; vamos contribuir com a institucionalidade e a governabilidade do país".
Sidney afirmou ainda que, "mais do que nunca, é preciso olhar para frente" e que é preciso reagir ao imobilismo de um país que tem se contentado com pouco crescimento.
Segundo Isaac, é preciso encontrar, com equilíbrio das contas, os meios para ampliar os investimentos públicos e expandir, consideravelmente, a capacidade de atração do capital privado, "que está disponível e ávido para atracar aqui."
Ele afirmou ainda que "o Brasil precisa voltar a ter previsibilidade". Para o capital privado aportar recursos em empreendimentos de longo prazo são necessários estabilidade macroeconômica, funding de longo prazo e um crescimento sustentável, afirmou o executivo.
"As regras do jogo precisam ser estabelecidas numa perspectiva de longo prazo. O investimento não dialoga com surpresas institucionais, instabilidade, confrontos e ruídos políticos, falta de previsibilidade e de segurança jurídica."
PETISTAS AINDA ESPERAM RESPOSTA DE PERSIO SOBRE INTEGRAR GOVERNO
Se acertar as nomeações de Haddad e Persio, a intenção do partido é anunciar os dois nomes ao mesmo tempo para evitar uma reação negativa do mercado, que tem resistências a Haddad e tende a ser mais receptivo com a eventual nomeação de Persio -que, no entanto, ainda hesita em aceitar um cargo no governo.
Apesar da torcida, a dúvida de petistas sobre um "sim" de Persio -membro do conselho editorial da Folha de S.Paulo, ex-presidente do Banco Central e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), além de ser um dos "pais" do Plano Real- faz com que integrantes mantenham apostas também em nomes técnicos dentro do próprio PT.
Nos bastidores, também tem sido sugerido que, no ministério, Haddad poderia ter uma gestão semelhante à adotada por Antonio Palocci durante o primeiro governo Lula -o que seria visto como positivo pelo mercado- e mais distante daquele feito mais tarde pelo ex-ministro Guido Mantega, que sofre rejeição ainda mais forte do empresariado.
Haddad já tem mantido conversas com integrantes do grupo de economia na transição sobre diversos temas, incluindo a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição, medida em negociação pelo governo eleito para ampliar os gastos com o novo Bolsa Família, desafogar o Orçamento de 2023 e honrar promessas eleitorais de Lula como o aumento real do salário mínimo.
Um dos integrantes do grupo é justamente Persio, que também é próximo do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB).
PROXIMIDADE DE HADDAD COM LULA CRESCEU APÓS ELEIÇÃO
Haddad já havia viajado com o presidente eleito à COP27, conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), o que foi interpretado como uma sinalização de que seu nome ganha força para compor o novo governo. Durante o evento, Haddad atuou como braço direito de Lula em diferentes reuniões, e os relatos são de que os laços entre ambos se estreitaram ainda mais.
O ex-ministro da Educação reúne duas características importantes para Lula: afinidade e confiança. Pela importância que tem para o presidente eleito, Haddad também já foi citado como ministro de outras pastas importantes -como Itamaraty, Educação e o próprio Planejamento.
Haddad foi o substituto do ex-presidente na campanha eleitoral de 2018, quando Lula foi impedido de ser candidato. Relembrando aquele momento, ele contou em entrevista à agência Reuters que o ex-presidente o teria escolhido como ministro da Fazenda em caso de vitória na disputa. "Não se sabe disso, mas antes de eu ser convidado para ser vice de Lula, eu fui convidado por ele para ser ministro da Fazenda", afirmou Haddad.
Professor de ciência política na USP (Universidade de São Paulo), Haddad é formado em direito e, além do mestrado em economia, tem doutorado em filosofia.
Entre os diferentes integrantes do partido, há quem questione a habilidade de diálogo de Haddad em negociações. A proposta mais urgente a ser costurada com o Congresso é justamente a que permite despesas fora do teto de gastos nos próximos anos -que se tornou um imbróglio para o partido e travou em meio a problemas de articulação.
É comentado no partido que um melhor negociador seria Alexandre Padilha, também cotado para o comando da Fazenda e que é mencionado no mercado como alguém de perfil menos ideológico. Ele, por sua vez, não é uma unanimidade na sigla quando a discussão é o comando da área econômica.
De qualquer forma, a composição de uma equipe com nomes do PT e outros de visão mais liberal já vem sendo testada na própria transição e é desejo do partido manter essa lógica durante o governo. Além de Persio, coordenam o grupo André Lara Resende e os petistas Nelson Barbosa e Guilherme Mello.
ENCARREGADO DA ARTICULAÇÃO COM O CONGRESSO, JAQUES WAGNER COBROU NOME DA FAZENDA
As informações vêm circulando enquanto no próprio partido há o diagnóstico que a falta de um ministro da Fazenda tem causado prejuízos ao governo eleito.
Nesta quinta-feira (24), o senador petista Jaques Wagner afirmou que a falta de um nome para ocupar a Fazenda no futuro governo tem sido um obstáculo para o avanço da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição, que busca abrir espaço no Orçamento para que Lula cumpra suas promessas de campanha. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, contestou a fala e disse que o problema está na articulação do partido no Senado.
Nesta sexta, diversos representantes do governo eleito - entre eles, Jaques Wagner - estarão em São Paulo para se encontrar com Lula.
O suspense sobre o nome do comandante da área econômica se soma a outros episódios que têm deixado o mercado intranquilo quanto ao futuro governo Lula. Falas do presidente eleito indicando uma valorização do social e uma menor atenção à responsabilidade fiscal repercutiram mal junto aos agentes financeiros e provocaram turbulências na Bolsa.
Nesse cenário, Alckmin tem aproveitado para reiterar que os governos anteriores de Lula foram marcados pela responsabilidade fiscal, mas que o presidente eleito não pode deixar de ressaltar a importância de combater a fome e manter o Bolsa Família (atual Auxílio Brasil) em R$ 600.
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