"A Amazônia é um território soberano do Brasil, mas, ao mesmo tempo, pertence a toda a humanidade", afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em discurso para uma multidão que participava do festival Power Our Planet nesta quinta-feira (22) em Paris.
O discurso presidencial aconteceu em uma brecha para participações de líderes globais em meio aos shows de artistas como Billie Eilish e Lenny Kravitz.
"Vamos ser duros com toda e qualquer pessoa que quiser derrubar uma árvore para plantar soja, milho ou criar gado", continuou Lula, que reforçou os números sobre a proteção da Amazônia e a larga oferta de energia renovável no país, uma exceção diante da dependência de fontes fósseis no resto do mundo.
Lula voltou a defender que os países ricos paguem pela conservação ambiental nos países em desenvolvimento.
"Não foi o povo africano que poluiu o mundo. Não foi o latino-americano. Na verdade, quem poluiu o planeta nos últimos 200 anos foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial e, por isso, têm que pagar a dívida histórica que têm com o planeta Terra", afirmou, sob aplausos e gritos da plateia.
Outro momento de aplausos aconteceu quando Lula reforçou o compromisso -feito pelo Brasil para o Acordo de Paris, assinado em 2015- de zerar o desmatamento até 2030.
Em uma fala de cerca de seis minutos, Lula ainda fez um convite à plateia para ir conhecer a Amazônia durante a COP30 do Clima, conferência sobre mudanças climáticas da ONU que será sediada na cidade de Belém no final de 2025.
O evento Power Our Planet é um festival de música que busca atrair atenção e recursos para combater a crise do clima e desigualdades sociais. Lula foi convidado para o evento pelo vocalista do Coldplay, Chris Martin. Em turnê na Itália, a banda britânica, no entanto, não faz parte da programação.
O festival, que é promovido pela organização Global Citizen, acontece em frente à Torre Eiffel.
Lula chegou a Paris nesta quinta-feira para participar da Cúpula do Novo Pacto Financeiro, organizada pela França para debater a reforma de instituições financeiras multilaterais, como o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional).
O objetivo do evento é encontrar propostas e recursos para os países, especialmente os mais vulneráveis, lidarem com as mudanças climáticas.
O presidente brasileiro almoçou nesta tarde com a ex-presidente Dilma Rousseff, hoje à frente do banco dos Brics. Também à tarde, fez reuniões bilaterais com chefes de Estado de África do Sul, Cuba e Haiti.
Lula ainda se reuniu com o presidente da COP28, Sultan al-Jaber, do governo dos Emirados Árabes Unidos.
Na conversa com Jaber, Lula buscou demonstrar total apoio à presidência da COP28, de olho na evolução das negociações que aterrissam no Brasil em 2025, quando o país sedia a COP30.
A crítica feita por diversos países ao conflito de interesses de Jaber, que preside a petroleira estatal Adnoc, não deve ser compartilhada pelo Brasil, que vê a escolha do presidente da COP condicionada à soberania do país-sede.
Mais de cem chefes de Estado estão em Paris para a Cúpula do Novo Pacto Financeiro, liderada pelo presidente francês, Emmanuel Macron. O anfitrião deve receber Lula para um almoço nesta sexta (23).
A abertura da cúpula, na manhã desta quinta, foi marcada por um momento de tensão entre a organização do evento e uma ativista do Greenpeace. "Faça com que os poluidores paguem", dizia uma faixa assinada pela ONG ambientalista, rapidamente estendida por uma mulher à frente do palco da cerimônia, diante de uma plateia de chefes de Estado e de governo, diretores de bancos e instituições multilaterais.
O ato durou poucos segundos. "Não precisamos de você para saber que os poluidores devem pagar, nós já o taxamos", disse ao microfone o ministro francês da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, enquanto a ativista era retirada do evento por um segurança.
A reação de Le Maire vem na esteira de uma crise do ambientalismo com o governo francês, que dissolveu o movimento ecologista Soulèvements de la Terre (em português, Revoltas da Terra) após acusá-lo de atos violentos.
A União Europeia taxa, dentro do bloco, os combustíveis fósseis conforme a quantidade de carbono emitido. O bloco também aprovou, no final de abril, uma taxa de carbono para importações, que deve passar a valer a partir de 2026.
A criação de taxas -por exemplo, sobre transações financeiras e também sobre a emissão de carbono do transporte marítimo- está entre as propostas da França para aumentar a receita do financiamento climático destinado a países em desenvolvimento.
No entanto, as ONGs ambientalistas têm criticado a manutenção dos subsídios dados por governos em todo o mundo ao setor de petróleo e gás, o que mais contribui para as emissões de gases-estufa, causadores da crise climática. A União Europeia tem elevado os investimentos em gás e carvão para se livrar da dependência do gás russo, em razão da Guerra da Ucrânia.
A retomada da confiança entre os blocos de países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento é um dos objetivos que um novo pacto financeiro busca atingir. Na abertura do evento, um discurso do economista Amar Bhattacharya buscou fornecer a garantia do cumprimento da doação de US$ 100 bilhões para o clima -prometidos em 2009- em 2023, conforme a Folha de S.Paulo adiantou.
"O progresso significativo da mobilização de recursos para o clima sugere uma alta chance de entrega em 2023", ele afirmou.
De acordo com o alto escalão do governo francês, o montante já foi alcançado, mas o teor do anúncio foi amenizado para que os países doadores possam dividir o protagonismo sobre o resultado na COP28.
Ao discursar nesta tarde durante a cúpula, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, confirmou o atingimento também de outra meta: a de distribuir a países em desenvolvimento o equivalente a US$ 100 bilhões em Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês), mecanismo que funciona como uma moeda complementar à reserva dos países.
O anúncio já era esperado pelos países que participaram de grupos de trabalho de preparação para a cúpula, como parte de uma estratégia de retomada da confiança entre os blocos de países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, que vêm cobrando promessas de financiamento feitas nos últimos anos.
Em 2021, o FMI havia anunciado a distribuição de US$ 650 bilhões em Direitos Especiais de Saque, mas boa parte se destinava a países desenvolvidos -cerca de US$ 160 bilhões foram para o bloco europeu, enquanto os países africanos ficaram com apenas US$ 24 bilhões.
A diferença de distribuição foi criticada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e pela primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, ainda na abertura da cúpula.
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