A ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) defendeu o direito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de indicar o ex-ministro Guido Mantega para cargos em conselhos, seja da Vale ou da Braskem.
Ela também descartou que haja interferência do governo petista sobre a Petrobras.
"A partir do momento em que o presidente vê na figura do ex-ministro Guido Mantega um parceiro e tenta com isso colocá-lo na economia, na política, ou seja, ao seu lado, é direito do presidente", disse Tebet em entrevista à CNN Brasil, que foi ao ar neste sábado (30).
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"Em se vendo que o estatuto das estatais não permite, o errado seria se o presidente insistisse. Percebeu-se que não o podia, o presidente parou de insistir. Isso faz parte da política. [...] Não acho que é um defeito, é uma virtude do presidente Lula, a capacidade de reconhecer os amigos e querer os amigos do seu lado", acrescentou.
Lula trabalhou para emplacar Mantega como diretor-presidente da Vale, mas acabou recuando. A estratégia consistia em indicá-lo para um dos assentos do conselho de administração ocupados pela Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Isso pavimentaria o caminho para o ex-ministro da Fazenda na linha sucessória.
A notícia do recuo foi recebida com alívio pelos investidores, que temiam ingerência política do governo Lula na mineradora. Fracassada a tentativa, o governo estudou indicá-lo para o conselho administrativo da Braskem.
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À CNN Brasil, Tebet disse também não ver interferência do Executivo sobre as decisões da Petrobras. O tema ganhou notoriedade depois que o conselho da estatal barrou o pagamento de dividendos extraordinários aos acionistas, afugentando investidores e fazendo a companhia perder bilhões em valor de mercado.
"Eu não vejo [interferência]. Converso com o presidente da Petrobras [Jean Paul Prates] regularmente por outros interesses que temos, porque somos da equipe econômica, não vejo essa interferência na política de preços da Petrobras", disse.
"Tanto é que falou-se muito que [a Petrobras] perdeu R$ 50 bilhões, o que se recupera em 15 dias, mas ninguém viu que teve o segundo maior valor histórico da série nos últimos anos. Então, a Petrobras continua forte, com uma política muito importante, moderna, de repaginar a sua história", continuou.
Na entrevista, Tebet também falou sobre a atual política de juros do Banco Central e defendeu que o patamar de 9% na Selic não pode ser o piso buscado pela autoridade monetária para a taxa básica ao término de 2024.
"[9%] Não pode ser o piso. Só pode ser o piso se nós, a partir do segundo semestre, começarmos a dar outros sinais que não os sinais que estamos dando. Porque o Banco Central não está analisando os preços dos alimentos apenas. O BC está de olho na política fiscal do governo", disse.
No último dia 20, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC reduziu a Selic pela sexta vez seguida em 0,5 ponto percentual, de 11,25% para 10,75% ao ano, e se mostrou mais cauteloso com a conjuntura doméstica e internacional.
Na ata da reunião, divulgada na terça (26), o colegiado afirmou que a incerteza do cenário inflacionário requer mais flexibilidade e, na visão de alguns membros, esse cenário pode levar a uma desaceleração do ritmo de cortes de juros a partir de meados do ano.
"Se os juros reais do Brasil caem, e a taxa de juros continua caindo lentamente, eu continuo tendo a taxa de juros real mais alta do mundo", disse Tebet, acrescentando que concorda com a autonomia do BC, apesar das críticas.
Questionada se defendia a autonomia financeira do BC, Tebet respondeu que dependia das condições e sinalizou não apoiar a PEC (proposta de emenda à Constituição) em discussão atualmente no Senado Federal, sem a anuência da equipe econômica.
"Não é atribuição do Senado Federal nem do Congresso Nacional discutir, por exemplo, reajustes de servidores, o orçamento de um órgão que não é um órgão vinculado ao Poder Legislativo", afirmou.
"Eu não acho que é um debate interditado. A gente pode discutir autonomia financeira e orçamentária desde que tenha o controle da equipe econômica", disse. "Desde que tenha cada passo sendo decidido de comum acordo entre Banco Central e equipe econômica, por exemplo, no CMN [Conselho Monetário Nacional]."
Quanto ao trabalho do governo para equilíbrio das contas públicas, Tebet afirmou que não há "pelo menos até o meio do ano" preocupação em discutir a revisão da meta de déficit zero em 2024. Para o ano que vem, evitou se comprometer com a promessa de 0,5% de superávit.
"A LDO [Lei das Diretrizes Orçamentárias] está chegando [deve ser apresentada até 15 de abril]. Nós vamos apresentar algumas propostas para a equipe econômica e vamos analisar juntos se nós vamos conseguir colocar na LDO a meta de 0,5% positivo, ou seja, de ter superávit, a depender de uma série de situações", afirmou.
A economia, contudo, vem sendo vista com pessimismo pelos brasileiros, mostrou a pesquisa Datafolha, realizada nos dias 19 e 20 de março. As sondagens também mostram queda na popularidade de Lula.
Para Tebet, o problema está em comunicar melhor ao público o que tem sido feito pelo governo. "Não estamos sabendo nos comunicar", disse.
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