Os direitos LGBT+ têm avançado no Brasil a passos bem curtos. Embora tenham sido registadas grandes conquistas, como cargos inéditos na esfera pública ocupados por pessoas trans e a criação de secretarias e órgãos específicos para os direitos dessa população, o cenário ainda é de luta por direitos, respeito e igualdade.
Um passo importante na história dos Direitos Humanos ocorreu há 20 anos, no dia 29 de janeiro de 2004, quando um grupo de ativistas foi ao congresso nacional protestar e exigir direitos a pessoas transsexuais e travestis. Sendo assim, a data é lembrada como o dia nacional da visibilidade trans, celebrada nesta segunda-feira (29).
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Porém, os dados no país ainda preocupam. Em outubro de 2023, a Transgender Europe (TGEU) divulgou dados dos países que mais matam pessoas trans no mundo e Brasil lidera o Ranking pelo 15º ano consecutivo. Além disso, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania informou que, também em 2023, o país registou mais de 4 mil casos de transfobia, sendo São Paulo o estado com o maior número de casos.
Por outro lado, outros avanços são vistos no que se trata da saúde de pessoas trans. O Pará é um dos únicos estados da federação a oferecer de forma gratuita a cirurgia de redesignação sexual, sendo oferecidos serviços ambulatoriais com acompanhamento clínico, pré e pós-operatório, e hormonização, também conhecida como terapia hormonal, sendo realizados por equipes multiprofissionais.
VIVÊNCIAS
Por definição, transgênero ou transsexual, são pessoas que não se identificam com o gênero que lhes foi determinado no nascimento. Travestis são pessoas que vivenciam o papel de gênero feminino, não se identificam com gênero masculino, mas se reconhecem numa identidade feminina.
Ádrian Neves, artista e homem trans de Icoaraci, região Metropolitana de Belém, conta que começou a se entender como uma pessoa transsexual aos 23 anos, e hoje, aos 27, é pai de uma menina de 2 anos.
“Mais ou menos com uns 23 anos eu comecei a sentir, me entender nesse processo. Não queria mais ser chamado no pronome feminino, estava me sentindo super incomodado já com o meu corpo, com a minha aparência e tal, isso começou a mexer muito com a minha autoestima, com todo o meu processo, com a minha vida, já não estava me sentindo bem. Aí eu comecei a fazer esse processo de uma forma que fosse tranquila para mim também. Porque é um baque para as pessoas e o retorno das pessoas é um baque para a gente, né? De que forma que elas vão aceitar ou não, isso é um baque para a gente”, explicou.
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Sobre episódios transfóbicos, Ádrian diz que é vítima diariamente. Seja por perguntas, olhares e desconfianças da sociedade: “Tem a transfobia que é pesadíssima né, que são esses casos, e tem a transfobia que é sutil, que são os olhares, que são as piadas, que são as risadas, tu chegas e a pessoa cochicha, isso também vai destruindo a gente aos poucos”.
Quem também fala sobre o assunto é Rafaela Cristina, DJ e produtora cultural de Belém. Segundo ela, desde a infância os ataques são comuns, o que atrasou seu processo de “aceitação” como mulher trans.
“Por conta de apontamentos e situações cruéis acontecendo desde criança e que vem acontecendo até hoje no dia a dia, a cada olhar torto, cada omissão, cada micro violência à minha existência, acredito que tenha dificultado e atrasado minha própria aceitação e auto reconhecimento”, conta.
COMO PODEMOS EVOLUIR?
Datas como o dia 29 de janeiro e outros dias que lembram momentos históricos de aceitação e resistência da comunidade LGBT+, são importantes para celebrar as conquistas e garantir direitos para quem ainda se sentirá representado no futuro, como define Rafaela.
“Datas como essa em janeiro se fazem importantes não apenas por celebração das que estão vivas e vivendo, mas também das que ainda virão e, à base de duras lutas travadas antes delas, terão direitos garantidos por lei de ser quem são, e transcestralidades que lutaram por elas”, disse.
A artista também enfatiza que é preciso conhecer mais da cultura trans, dar espaço e conviver no dia-a-dia com pessoas trans para mudar a mentalidade da sociedade: “Indivíduos que ainda vivem com uma mentalidade de que pessoas trans tem menos valor em vida, convido vocês a nos conhecerem. Contrate uma travesti para trabalhar com você, convide um homem trans para almoçar na sua casa no domingo, chame uma pessoa não binária para ir a uma festa juntos. Se permita ver a gente vencendo e vivendo, pois faremos isso vocês querendo ou não”, enfatizou.
Ádrian também defende que a inclusão de pessoas trans seja cada vez mais comum no dia-a-dia, dando oportunidades maiores de saúde, emprego e educação, em especial a pessoas da periferia.
"Eu acho que a gente tem muito a avançar, é sobre vida. Mas eu entendo que não estamos mais no mesmo lugar que estávamos há dois anos e o processo é esse. É educar da forma como a gente consegue, porque não é só sobre 'vem cá que eu vou te explicar aqui', não. É sobre 'sou isso aqui mesmo e você tem que me respeitar'. Esse mês é um mês que a gente pode debater sobre isso, mas é algo que a gente deveria fazer o ano inteiro, deveria virar costume a gente falar sobre isso e trazer pessoas para dizer o que é, o que vivem, o que passam. É um mês para se fortalecer. Estamos falando de direitos humanos e não só de pessoas trans”, concluiu.
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