No mês do Orgulho LGBTQIA+, destacar o universo das drag queens é reconhecer a relevância e representatividade delas para a comunidade. Afinal, o transformismo de homens em mulheres com maquiagem extravagante e adereços exóticos não se limita a uma manifestação artística. Na realidade, elas usam os palcos da vida como lugar de fala para a luta de direitos sociais, combate a lgbtfobia, respeito ou, num termo bem mais enfático, mostram total resistência a qualquer tipo de preconceito.
Diante dessa importância, a cultura das drags tem ganhado cada vez mais notoriedade, sobretudo nas artes. Nas telas do cinema, seriados e programas de TV, como o reality Ru Paul’s Drag Race, assim como na música com a cantora internacional Rug Paul, as brasileiras Glória Groove e Pablo Vittar, esta última a drag queen mais seguida do mundo no Instagram, entre outras.
Mas, antes de toda essa notoriedade, as drag queens mais antigas pavimentaram esse percurso, que com performances e figurinos extravagantes construíram um mundo mais colorido e diversificado com coragem, uma vez que o preconceito era muito maior nas suas épocas. E uma das pioneiras da cena drag em Belém é Liz Babeth Taylor, que surgiu nos anos 1990 e que, de maneira resistente, conseguiu incluir na cultura local da cidade o movimento queer.
Com o nome de batismo Peter, o nome artístico escolhido por ele fazia alusão a atriz britânica Elizabeth Taylor, conhecida pelos olhos azuis violeta e pela interpretação no clássico filme Cleópatra. Além dele, a drag mais emblemática de Belém ainda conseguiu reunir outras drags, que formaram a banda Bagaço, que agitavam as casas noturnas da capital, como o bar Go Fish e a boate Doctor Dance..
Amigo pessoal de Babeth, o jornalista Orlando Maneschy foi chamado pela drag para fotografar as performances dela nas boates da época. Além de fotografar, Maneschy ainda se montou (processo de aplicar maquiagem e roupas para assumir a persona drag) algumas vezes, onde testemunhou o frisson causado por Liz Babeth e a banda Bagaço.
A cena drag em Belém era muito forte, com boates como a doctor Dance e o bar Go Fish, onde conheci a Babeth com seu show e da Banda Bagaço, isso deu visibilidade e estimulou outras pessoas. Me envolvi tanto com a cena que fotografei por mais de dez anos, dando fotos para elas de apresentações em mostras e prêmios
Orlando Maneschy, jornalistaNo entanto, as apresentações da artista não eram apenas, fazendo uso da linguagem atual, para conseguir likes. Babeth aproveitou o engajamento para fazer crítica social, sobretudo contra o preconceito à comunidade LGBTQIA+.
“A Babeth tinha um diferencial, que era sua inteligência veloz e sagacidade. Por isso, seus shows tinham sempre uma crítica inteligente, fosse um esquete baseado em uma novela, por exemplo, ou em contas de fadas, sempre tinha uma percepção crítica sobre a vida, o universo LGBTQIAPN+, política, entre outras coisas”, completou Maneschy.
“A Babeth foi algo jamais visto no mundo LGBTQIAPN e na sociedade como um todo. Sendo a precursora do movimento drag, ela levava ao palco sátiras de filmes, novelas, músicas de uma lúdica, cômica e ácida. Tinha um tempo de comédia inteligente e criativa, adorava quando alguém jogava alguma palavra da plateia sobre ela, a resposta era imediata, com a língua afiada, parecia que era algo ensaiado”, reiterou Chiquinho Vasconcelos, que integrava a equipe de produção de Liz Babeth Taylor.
Além disso, como drag queen, Babeth também se engajou em pautas sociais como, por exemplo, apoiava o projeto Arte Pela Vida, que realiza ações e eventos para ajudar pessoas portadoras do HIV.
Esse engajamento fez com que Liz Babeth Taylor alcançasse outros públicos, uma vez que participou do evento de inauguração de shoppings e até comerciais televisivos, o que contribuiu para a visibilidade e aceitação da comunidade drag na sociedade paraense.
“A Babeth difundiu a cena em meios que muitas vezes torciam o nariz por puro preconceito, mas que acabavam abrindo a cabeça ao conhecer o trabalho dela”, disse Orlando Maneschy.
Dessa forma, é fácil dizer que Liz Babeth Taylor não foi apenas uma figura emblemática da cena drag em Belém, mas como uma precursora que inspirou gerações posteriores, sendo importante ao movimento LGBTQIAPN+..
“Ela abriu portas para várias drags que surgiram, com algumas até transicionaram. Se hoje existe a cena, se deve muito a Babeth, principalmente pela sua luta contra o preconceito", concluiu Orlando Maneschy.
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