Por terem vindo ao mundo antes do esperado, é comum que bebês prematuros apresentem problemas de saúde, decorrentes do desenvolvimento incompleto de alguns sistemas. Isso resulta, por vezes, em longos períodos de internação em unidades de terapia intensiva.
“Junto com a prematuridade vem as complicações, como por exemplo, hemorragia intracraniana, refluxo gastroesofágico e subnutrição, dependência de oxigênio devido às dificuldades respiratórias, entre outras” pontua Elizabeth Castro, pediatra do Hospital Materno-Infantil de Barcarena Dra. Anna Turan (HMIB). A unidade, que pertence ao governo do Estado do Pará e é gerenciada pela Pró-Saúde, é referência para gestantes de alto risco na região do Baixo Tocantins.
“Há também questões no desenvolvimento e amadurecimento do sistema neural do bebê, que pode não ter sido bem desenvolvido, gerando atrasos ou deficiências orais. É possível ainda, que o bebê tenha deficiência motora, auditiva, cognitiva, visual ou comportamental”, complementa a pediatra neonatologista.
De acordo com a profissional, o ideal é o bebê ter um acompanhamento multiprofissional, com assistência completa, o mais rápido possível, para adoção dos tratamentos e protocolos ideais para cada caso.
Amamentação
Elizabeth destaca que o reflexo de sucção, presente no ato de amamentação, por exemplo, costuma ser imediato após o nascimento, porém, os bebês prematuros, na maioria dos casos, não conseguem desenvolver esse reflexo com tanta agilidade. A atuação do fonoaudiólogo na neonatologia está, inicialmente, focada nesta reabilitação oral.
“Por isso é tão importante colocar o recém-nascido no peito logo após o parto. Porém, no caso do prematuro, provavelmente será um bebê que iniciará cuidados intensivos imediatos, por isso, é necessária uma avaliação clínica nas primeiras horas de vida para verificar a possibilidade de amamentação ", aponta a profissional.
Segundo Amanda Azevedo, fonoaudióloga da Pró-Saúde que também atua no Hospital Materno-Infantil de Barcarena (HMIB), uma das principais complicações relacionadas à prematuridade está nas limitações de reflexos orais, com dificuldade no processo de amamentação, já que os bebês ainda não desenvolveram essas percepções.
“O bebê prematuro pode apresentar uma evolução mais lenta das habilidades de alimentação, relacionadas à sucção, deglutição (ato de engolir) e respiração, e que são fundamentais para a amamentação”, explica.
Técnicas de estimulação
Amanda explica ainda que parte dos bebês prematuros podem necessitar de sonda como via alimentar, e que, após ter a idade corrigida e estar clinicamente estável, é recomendado iniciar a alimentação via oral. Segundo a especialista, há diferentes técnicas de estimulação para auxiliar na maturação do sistema motor oral desses bebês.
“Aos poucos preparamos o bebê para que ele perceba os reflexos de sugar, deglutir (engolir) e respirar, que requer esforço. Eles precisam ir aprendendo e se acostumando a coordenar esse processo, para não apresentar intercorrências ou comprometer o estado clínico, com situações como a broncoaspiração (engasgos)”, destaca Amanda.
Entre os estímulos, a especialista destaca as técnicas oromotora e sucção não nutritiva, que consistem na introdução do dedo mínimo enluvado, dentro e fora da boca do bebê. "Ou seja, na região da língua, bochecha, palato, lábios e gengivas, com técnicas e estratégias específicas e individualizadas, que visam prepará-lo para uma alimentação mais segura", reforça.
De acordo com linha de conduta da Organização Mundial de Saúde, bebês extremos prematuros, com menos de 1,5 kg e/ou menos de 32 semanas, estão inseridos em protocolos de manuseio mínimo, portanto, a estimulação só é iniciada quando os bebês não estão mais incluídos no protocolo e clinicamente estáveis.
“Após o uso da sonda, migramos para o processo de transição alimentar, conforme conduta terapêutica e avaliação, para que ocorra oferta em seio materno e/ou copo. Durante todo o processo de internação, a mãe irá receber auxílio do banco de leite e da equipe assistencial, que direciona os estímulos adequados para ordenha, massagem e manobras no seio”, explica a fonoaudióloga.
O suporte aos bebês prematuros no Materno-Infantil de Barcarena é realizado em conjunto com outros profissionais, como pediatras, psicólogos e fisioterapeutas, que também atuam com protocolos, capacitação técnica e estrutura clínica de qualidade.
“Somos referência em boas práticas, humanização e educação em saúde sobre amamentação, com envolvimento das mães em rodas de conversa para o esclarecimento de dúvidas e informações voltadas ao desenvolvimento do prematuro, além de promoção do aleitamento materno exclusivo", destaca Joice Vaz, diretora Assistencial da unidade.
No último mês de agosto, o Materno-Infantil de Barcarena se tornou o primeiro hospital da região do Baixo Tocantins a receber o selo Amigo da Criança, concedido pela Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e OMS (Organização Mundial da Saúde), aos hospitais que realizam o cumprimento dos dez passos para o sucesso do aleitamento materno.
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