A busca pelo corpo saudável tem sido cada vez mais comum, mesmo que para muitos seja um movimento impulsionado por questões estéticas. A falta de conhecimento sobre o assunto, entretanto, pode levar a um entendimento errade de que um corpo excessivamente magro é melhor para a saúde, quando na verdade, este biotipo pode ter outras
Os resultados de uma nova pesquisa mostram que pacientes com uma menor massa muscular esquelética estão mais sujeitos ao desenvolvimento de demências. Segundo os pesquisadores, a perda de músculo e de cognição pode estar ligada a causas comuns, como à inflamação.
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O professor e pesquisador Jamerson de Carvalho, do Hospital Universitário da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), afirma que as evidências que temos hoje sobre a correlação entre perda de músculos e o risco aumentado de demências ainda são insuficientes para indicar a existência de uma relação de causalidade entre os dois fenômenos.
"É uma relação indireta, porque eles compartilham os mesmos fatores de risco", afirma o especialista. Segundo ele, o mais provável é que pacientes expostos a problemas como tabagismo, sedentarismo, alcoolismo e cardiovasculares desenvolvam tanto uma menor massa muscular quanto sintomas de neurodegeneração no final da vida.
Os autores do novo trabalho voltaram-se para o estudo do músculo temporal, localizado na cabeça e responsável pelo movimento da mandíbula inferior. Os dados coletados por meio de ressonância magnética de espessura e área do tecido permitem uma extrapolação para a condição geral do paciente.
Na pesquisa foram incluídas 621 pessoas sem demência, inicialmente, com idade média de 77 anos. A partir das informações dadas pelos resultados dos exames, os participantes foram divididos em dois grupos: um dos que apresentaram maior área transversal do músculo, com 131 pessoas, e outro com menor medida, incluindo os restantes 488. Em seguida, eles passaram por um acompanhamento de seis anos.
Durante esse período, ficou evidente para os especialistas que, proporcionalmente ao número total, uma quantidade maior de participantes do grupo de menor área transversal do músculo temporal desenvolveu quadros de Alzheimer. Nesse grupo também foi visto um resultado menor de performance de memória, atividade funcional e volume cerebral.
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Segundo os autores do trabalho, uma menor quantidade de músculo esquelético está associada a um risco aproximadamente 60% maior de desenvolvimento de demências, quando os dados são ajustados para os demais fatores de risco. Os dados foram divulgados durante a reunião anual da Radiological Society of North America (RSNA).
O trabalho também mostra que a alteração da composição muscular pode ser detectada por um exame ordinário de ressonância magnética. Para os pesquisadores responsáveis pela pesquisa, esse aspecto permitiria ampliar a conscientização de pessoas com risco aumentado da doença.
A correlação entre a perda de massa muscular e o desenvolvimento de demências é patente e conhecida pelos pesquisadores há algum tempo. Em particular, pacientes de doenças como o Alzheimer apresentam uma perda acentuada de músculos esqueléticos porque tendem a ficarem mais reclusos e a realizarem menos atividade física.
Mas agora os especialistas estão olhando o problema na ordem inversa, isto é, para os casos que a redução do volume de músculos precede os casos de neurodegeneração. Um artigo publicado na revista científica Metabolites faz um levantamento de pacientes com função cognitiva mais baixa e sarcopenia, condição de perda de massa muscular e força entre pessoas com mais de 60 anos.
A pesquisa incluiu dados de 2.000 pessoas obtidos a partir de uma coorte chinesa de informações de saúde e aposentadoria, que foram acompanhadas entre 2011 e 2018. Os autores concluem que os esforços de prevenção da sarcopenia podem ajudar na redução dos casos de demência. Eles levantam a hipótese de que uma maior quantidade de músculos contribui diretamente para a preservação da cognição.
Gustavo Christofoletti, pesquisador do Instituto Integrado de Saúde da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, explica que o exercício físico resistido estimula a produção de uma série de proteínas com função protetora para o cérebro. São fatores que geram uma reserva cognitiva positiva.
Outra hipótese levantada é de que a inflamação sistêmica que levaria tanto à demência quanto à menor capacidade dessas pessoas de desenvolver massa muscular e, eventualmente à sarcopenia. Isto é, essas duas condições compartilhariam causas comuns e teriam, portanto, uma correlação indireta.
Essa hipótese é endossada pelos autores de um estudo feito com mais de 13 milhões de coreanos que avaliou os efeitos dos índices de massa muscular esquelética na ocorrência posterior de demência. O trabalho foi publicado na revista científica Annals of Clinical and Translational Neurology.
Segundo os autores, a alta adiposidade e baixa porcentagem de massa muscular está associada à hipertrofia cerebral e inflamação sistêmica do organismo, que pode levar à neurodegeneração. A obesidade, em particular, é um fator de risco bem conhecido para doenças neurodegenerativas.
Os pesquisadores também se debruçaram sobre o efeito das intervenções no estilo de vida em diferentes faixas etárias e concluíram que antes dos 60 anos, o corpo tem mais sensibilidade aos efeitos do exercício físico. Depois dessa idade, a mudança de vida continua a trazer benesses, mas elas são menos sentidas pelos pacientes.
Além disso, os especialistas supõem que exista um chamado "efeito legado" deixado pela prática de atividades na juventude e que persiste no tempo até a velhice ajudando a proteger as funções cognitivas.
"Os benefícios ocorrem em todas as idades, mesmo nas pessoas que começam a praticar mais tarde. Mas quanto mais cedo, melhores os frutos colhidos a longo prazo", afirma Christofoletti.
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