
Muitas pessoas são curiosas para saber como será o futuro do planeta e tentam prever alguns cenários para ele. Em busca disso, pesquisadores criam modelos climáticos como ferramentas complexas que tentam reproduzir o funcionamento da atmosfera e dos oceanos da Terra. Utilizando supercomputadores, capazes de processar milhões de dados e variáveis, eles tentam prever tendências globais que podem afetar o futuro da população. Apesar de alvo de críticas, especialmente por apontarem incertezas, a história mostra que essas simulações têm se revelado surpreendentemente precisas.
Nos anos 1960 e 1970, os primeiros modelos climáticos fizeram previsões sobre os impactos do aumento de gases de efeito estufa. Décadas depois, dados observacionais comprovaram essas estimativas. Além de antecipar o aquecimento médio global, os modelos identificaram padrões geográficos de mudança, confirmados apenas recentemente.
Boa parte dessas descobertas nasceu no Geophysical Fluid Dynamics Laboratory, em Princeton, nos Estados Unidos, sob a liderança do cientista japonês Syukuro Manabe. Reconhecido como um dos pioneiros da modelagem climática, ele recebeu o Prêmio Nobel de Física em 2021 pelas contribuições. Embora os modelos tenham limitações, o histórico de acertos fornece confiança para compreender as transformações climáticas em curso e projetar o que está por vir.
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Confira cinco previsões feitas há meio século e confirmadas pela ciência atual:
Aquecimento global causado pelo CO₂
A primeira missão de Manabe, ainda na década de 1960, foi calcular de forma precisa como os gases de efeito estufa retêm calor na atmosfera da Terra, fenômeno conhecido como efeito estufa. Sem ele, o planeta seria tão frio que os oceanos estariam congelados. Essa etapa foi decisiva para a criação de um modelo climático confiável.
Em 1967, Manabe e Richard Wetherald publicaram os resultados de um modelo simples que representava a atmosfera como uma única coluna de ar. A simulação mostrou que o aumento do dióxido de carbono levaria ao aquecimento da superfície e das camadas inferiores da atmosfera, enquanto a estratosfera sofreria resfriamento.
O cálculo também indicou que dobrar a concentração de CO₂ poderia elevar a temperatura global em cerca de 3°C, valor que permanece como referência até hoje. Atualmente, o mundo já registrou aumento médio de 1,2°C, praticamente a metade do previsto por Manabe.
Resfriamento da estratosfera
Entre as revelações do modelo do pesquisador estava o resfriamento da estratosfera, a camada atmosférica que vai de 12 a 50 quilômetros de altitude. O fenômeno ocorre porque o excesso de CO₂ retém mais calor perto da superfície, mas também faz com que a estratosfera libere mais radiação, provocando o resfriamento dela.
Esse processo única só poderia ser explicada pelo aumento dos gases de efeito estufa, já que outros fatores, como ciclos solares ou El Niño, não produzem o mesmo efeito. Décadas de medições por satélite confirmaram a queda de temperatura na estratosfera e reforçou a precisão do dados.
Amplificação no Ártico
Outro resultado dos estudos de Manabe surgiu em 1975, quando ele expandiu os cálculos para um modelo quase global. O cientista concluiu que o Ártico aqueceria de duas a três vezes mais rápido que o restante do planeta. Essa “amplificação ártica” foi observada em simulações posteriores e, hoje, é visível em dados concretos. O derretimento acelerado do gelo marinho tornou-se um dos sinais mais evidentes das mudanças climáticas e o impacto desse fenômeno é profundo, já que a perda de gelo afeta tanto a biodiversidade quanto o equilíbrio climático global.
Contraste entre terra e oceano
No início dos anos 1970, Manabe se uniu ao oceanógrafo Kirk Bryan para desenvolver o primeiro modelo que acoplava a atmosfera a um oceano dinâmico global. Essa inovação permitiu compreender o comportamento do aquecimento de forma mais detalhada.
A simulação mostrou que as áreas continentais aquecem mais rapidamente que os oceanos, numa proporção de cerca de 1,5 vez. O fenômeno pode ser comparado ao contraste entre um pavimento seco, que aquece rápido sob o sol, e um solo úmido, que demora mais a esquentar. Esse padrão foi confirmado pelas observações recentes e reforça o impacto direto do aquecimento sobre regiões habitadas.
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O atraso no aquecimento do Oceano Antártico
Considerada uma das descobertas mais inesperadas, os modelos indicaram que o Oceano Antártico aqueceria mais lentamente, devido à circulação de águas profundas que constantemente emergem para a superfície, mantendo o oceano frio por mais tempo.
Esse atraso também foi confirmado por medições modernas, mostrando como os ventos e correntes marinhas da região atuam como um “freio temporário” ao aquecimento. No entanto, especialistas alertam que essa resistência não é permanente e que o aumento das temperaturas deverá se intensificar com o tempo.
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