
Quando pensamos em sede, a imagem que costuma vir à mente é simples: uma garganta seca e um copo d’água para aliviar. Afinal, sentir sede é um dos sinais mais básicos que o corpo humano envia quando precisa de hidratação. Mas, e os peixes? Esses animais que vivem cercados de água por todos os lados — será que eles também sentem sede?
A resposta pode parecer contraditória à primeira vista, mas é sim — peixes, assim como nós, também enfrentam o desafio de manter o equilíbrio hídrico em seus corpos. O mais curioso é que tudo depende do ambiente em que vivem: água doce ou salgada. E é justamente aí que entra a fascinante ciência da osmose.
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Por trás da aparente tranquilidade da vida aquática, existe um intenso esforço biológico para manter o equilíbrio entre água e sais no organismo. Esse processo, chamado de osmose, é responsável por regular como a água se move pelas membranas celulares, buscando sempre nivelar as concentrações de solutos entre o interior do corpo e o ambiente externo.
"É preciso pensar em um peixe como uma espécie de barco com vazamentos", explica o biólogo marinho Tim Grabowski, da Universidade do Havaí. “Há constantemente um movimento de água ou de sais entre o corpo do peixe e o ambiente em que ele vive.” E para sobreviver, cada espécie desenvolveu estratégias específicas ao longo de milhões de anos de evolução.
Peixes de água salgada
Os peixes que vivem no mar enfrentam um problema constante: perdem água para o ambiente, já que o sangue deles tem muito menos sal do que a água do oceano. Por isso, precisam beber água do mar continuamente para repor o que perdem.
“Um peixe de água salgada está sempre com sede. Ele bebe o tempo todo”, diz Grabowski. Para lidar com o excesso de sal ingerido, esses animais contam com células especiais nas brânquias, chamadas células de cloreto, que atuam como pequenas bombas, expulsando o sal do corpo. Além disso, quase não produzem urina — e quando o fazem, é extremamente concentrada.
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Peixes de água doce
Nos rios e lagos, a situação é completamente inversa. A água ao redor tem uma concentração de sal muito menor do que o corpo do peixe, o que faz com que a água entre constantemente em seu organismo por osmose.
“Se você é um peixe de água doce, tem um problema porque a água está constantemente entrando no seu corpo”, explica Melanie Stiassny, curadora do Museu Americano de História Natural. Para evitar inchar como um balão, esses peixes não bebem água e eliminam o excesso urinando o tempo todo.
"Pode ser que engulam água incidentalmente ao se alimentar, mas não a bebem como fazem os peixes marinhos", completa Grabowski.
Peixes migratórios
Algumas espécies, como salmões, trutas e enguias, são verdadeiros mestres da adaptação. Elas conseguem alternar entre água doce e salgada durante a vida, como parte de ciclos de migração. E para isso, seus corpos ajustam o funcionamento dos rins, brânquias e até da forma como lidam com a sede.
“Quando entram em rios e lagos, esses peixes correm o risco de absorver água demais, até que suas células comecem a inchar e se romper”, explica a bióloga marinha Helen Scales, à BBC Science Focus. Para sobreviver, eles reduzem o consumo de água e aumentam a produção de urina.
Essas espécies fazem parte do grupo dos peixes eurialinos, que toleram amplas variações de salinidade. Já outros, como atuns e dourados, são estenoalinos, ou seja, só sobrevivem em ambientes com uma salinidade estável.
Equilíbrio que vem da evolução
Esse intrincado controle entre água e sais é fruto de uma longa jornada evolutiva. Como explica o químico Aldo Palmisano, da Universidade de Washington, “peixes de água doce desenvolveram mecanismos para concentrar sais em um ambiente pobre em sal; peixes marinhos, por outro lado, aprenderam a excretar sais em um ambiente hipertônico”.
Ou seja, mesmo que não sintam sede da mesma forma que os humanos, os peixes estão em constante batalha pela hidratação ideal. E tudo isso, enquanto nadam tranquilamente sob a superfície — onde nem imaginamos o quanto de ciência está envolvida em cada gole (ou não) de água.
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