
Um pequeno anfíbio que deixa o coração à mostra tem chamado a atenção de cientistas e entusiastas da natureza. Conhecida como perereca-de-vidro, essa espécie possui a pele do ventre tão transparente que permite ver, com facilidade os órgãos internos em funcionamento, incluindo o coração batendo.
Apesar do visual curioso, a transparência tem uma função essencial de camuflagem no habitat em que elas são encontradas. É o que explica a doutora em zoologia Sarah Mângia, pesquisadora da UFMS e do Museu Field de História Natural, nos Estados Unidos.
“A transparência é tão marcante que, em muitas espécies, é possível observar alguns órgãos internos, como o coração em batimento, o fígado e partes do trato digestivo. Essa característica desempenha um papel importante na sobrevivência”, afirma.
Segundo ela, além de se misturar à vegetação com o dorso verde-limão, essas rãs conseguem concentrar as células vermelhas no fígado durante o repouso, diminuindo a tonalidade avermelhada do sangue, o que reforça ainda mais a camuflagem.
Veja o vídeo:
As pererecas-de-vidro (família Centrolenidae) possuem a barriga transparente, o que permite com que seja possível ver seus órgãos internos.
— El Sapón (@ElGrandSapon) August 21, 2025
Vejam só o intestino dela funcionando! E essas bolinhas do lado são os ovos!pic.twitter.com/ZW95DOBhM1
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Um fenômeno raro e estratégico
Nem todas as pererecas da família Centrolenidae possuem essa característica. Das cerca de 165 espécies conhecidas, apenas cerca de 25% apresentam o ventre totalmente translúcido. Ainda assim, a adaptação surpreende a comunidade científica. A forma como esses animais controlam as hemácias sem causar coágulos pode abrir caminhos para estudos na área médica.
“A habilidade dessas pererecas de controlar a localização, a densidade e o empacotamento das hemácias sem provocar a formação de coágulos representa um ponto de partida importante para pesquisas relacionadas ao metabolismo e coagulação sanguínea”, destaca Sarah.
Onde vivem as pererecas-de-vidro?
A Centrolenidae é uma família nativa das Américas. As pererecas-de-vidro podem ser encontradas do sul do México ao norte da Argentina. No Brasil, são conhecidas 17 espécies, principalmente em regiões como a Amazônia e a Mata Atlântica. Há ainda um registro no Cerrado, na Serra da Canastra, em Minas Gerais. “Embora esse número seja relativamente pequeno em comparação ao total da família, ela não é considerada rara no país”, explica Sarah.
A Colômbia concentra o maior número de espécies com cerca de 80, quase metade da diversidade total. A origem do grupo, segundo os pesquisadores, está ligada à região norte dos Andes. De modo geral, essas pererecas preferem florestas tropicais úmidas, próximas a riachos de água limpa, onde vivem entre a vegetação ou nas pedras à beira dos cursos d’água.
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Tamanho reduzido, comportamento complexo
As pererecas-de-vidro são discretas não apenas na aparência. Elas medem em média três centímetros, mas podem variar de dois a oito, dependendo da espécie. O tamanho, somado à transparência, torna o animal quase invisível na natureza.
A reprodução é igualmente engenhosa. Os machos vocalizam para atrair fêmeas e defender território. Os ovos são depositados em folhas suspensas sobre a água. Quando eclodem, os girinos caem nos riachos, onde continuam o desenvolvimento.
Em algumas espécies, há ainda cuidado parental, comportamento raro entre anfíbios. “Após a oviposição, os machos de algumas espécies exercem cuidado parental, permanecendo junto às desovas para protegê-las”, explica a pesquisadora.
Apesar da engenhosidade evolutiva, as pererecas-de-vidro estão sob ameaça. A perda de habitat, as mudanças climáticas e a sensibilidade a alterações ambientais são os principais riscos que enfrentam.
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