No filme A Ilha (2005), Scarlett Johansson e Ewan McGregor vivem personagens que descobrem ser clones de pessoas ricas. Um cientista do Centro Alemão de Pesquisa do Câncer descobriu que há uma espécie de lagostim — o primo da lagosta — na natureza que faz o mesmo, mas sem precisar de de muita tecnologia.

Trata-se da Procambarus virginalis, também conhecida como "marmokrebs" (lagostas de mármore, em tradução livre). O biólogo Frank Lyko descobriu a espécie há alguns anos, após de um colega contar a ele que, em 1995, comprou o que pensava ser um lagostim qualquer em um petshop. Ele ficou chocado com o tamanho do crustáceo e com a quantidade de ovos que botava — logo, começou a presentear os filhotes do animal a amigos e conhecidos. Em questão de meses, a espécie estava sendo vendida em diversos petshops.

Os animais estavam intrigando os vendedores locais. Não só os crustáceos eram diferentes dos que vendiam como se reproduziam com muita rapidez sem o coito e a maioria dos espécimes era fêmea. Em 2003, pesquisadores confirmaram em um estudo publicado no periódico Nature que a Procambarus virginalis de fato era uma espécie diferente e que fazia clones de si mesma.

Em questão de anos, as lagostas da espécie começaram a aparecer em outros locais do mundo: República Tcheca, Hungria, Croácia e até mesmo no Japão e Madagascar. Frank Lyko e seus colegas foram os primeiros a mapear o genoma do DNA da espécie — e também os primeiros a realizar o procedimento em qualquer crustáceo do tipo.

A partir da análise, os cientistas publicaram uma nova pesquisa, em que revelam que o "marblekreb" surgiu a partir do acasalamento entre dois animais de uma outra espécie de lagostim. Um deles tinha uma mutação em seus gametas  que foi passada adiante e replicada pelos virginalis. Segundo Lyko, gametas costumam ter uma cópia de cada cromossomo, mas a dos lagostins mutantes possuem duas. 

Em entrevista ao The New York Times, o cientista sugere que os dois gametas se fundiram e geraram um embrião de lagostim fêmea com três cópias de cromossomos em vez das duas anteriores. E ainda assim, a nova espécie não aparenta sofrer nenhum tipo de deformidade. Pelo contrário: em vez de se reproduzir sexualmente, a primeira mutante conseguiu induzir seus próprio ovos para se dividirem em embriões, gerando mais fêmeas com cópias idênticas dos cromossomos. Elas eram clones. 

A comunidade científica continua se surpreendendo com a espécie. Caso um espécime seja contaminado ou sofra uma mutação, os virginalis correm o risco de desaparecer tão rápido como surgirão. Fica à cargo da natureza. 

Fonte: Revista Galileu

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