Depois do “Ken Humano Paraense” e da “Barbie”, naturais de Santa Izabel do Pará, ganha destaque nas redes sociais a “Barbie Dark Skinned” de Barcarena, nordeste do estado. Isso mesmo.
Altamir Mendes Cardoso Neto, 17 anos, morador da Vila dos Cabanos é considerado (e considera-se, principalmente) a versão negra da boneca, tal qual a denominação que utiliza.
“Começou há dois anos atrás. Em uma brincadeira entre colegas me chamaram de ‘Barbie’ e como tenho um humor bastante elevado, disse: ‘Só se for a Barbie negra!’, então esse apelido pegou”, explica. “Depois comecei a analisar algumas imagens e percebi que realmente haviam umas semelhanças entre mim e a Barbie; no caso a Barbie morena. Aí comecei a usar maquiagem para delinear e aumentar os olhos para realmente parecer com a boneca, usar calças apertadas para mostrar que meu corpo tem o mesmo padrão que o da boneca”, conta o jovem, que utiliza como referência uma edição negra da boneca lançada anos atrás em uma campanha contra o câncer.
E você, concorda com a possível semelhança de Altamir com a Barbie? Foto: Reprodução/Facebook
Ainda de acordo com Altamir, “desde criança eu tinha a mania de bater fotos com poses parecidas com a boneca, porém em 2013 foi que realmente eu decidi a incorporar o personagem”. Segundo o jovem, neste processo cirurgias também estão nos planos: “pretendo afinar o nariz e fazer uma raspagem no maxilar para deixar o rosto mais fino. O nariz fino que aparece nas fotos são truques de maquiagem”, confessa.
Tal busca pode ser encarada e compreendida de diversos modos, até mesmo do ponto de vista psicológico e comunicacional. Segundo Thamiris Magalhães, mestra em Comunicação na área de Midiatização e Processos Sociais pela Unisinos/RS e professora na Facudade de Estudos Avançados do Pará (Feapa), “o surgimento das Barbies e Kens não deixa de ser mais um reflexo da cultura contemporânea, vivida hoje. Este novo paradigma sociocultural, que reconfigura a civilização contemporânea, é o berço da cibercultura, esta nova forma de cultura vivida hoje e associada às tecnologias digitais. Essas tecnologias digitais acabam se tornando vetores de novas formas de mudança social. É o que percebemos com as Barbies e os Kens, de todos os cantos do Brasil e do mundo. Eles buscam nada mais do que serem vistos, conhecidos, serem agora seus próprios herois, seus próprios fãs. Há, neste novo cenário atual um excesso de autorreferencialidade. Hoje, no terreno da Cibercultura, podemos ser, nós mesmos, os nossos herois, os nossos ídolos, os nossos próprios personagens dos contos de fadas, que víam os na infância”, destaca a pesquisadora.
15 minutos de fama
“No futuro, todos terão seus quinze minutos de fama”, profetizou décadas atrás o artista visual Andy Warhol, conhecido pela escola que ficou conhecida como “pop art” que tem como base, não por acaso, a reprodução. Neste sentido, muitas pessoas atualmente terminam se tornando “memes”, buscando a fama através de redes sociais, repetindo outros modelos.
O apoio familiar é importante neste processo para a “Barbie negra paraense”. “Minha família sempre aceitou muito bem a minha opção de querer me parecer com a boncea, porém eles sempre me falavam que para ser uma Barbie eu precisaria no mínimo ser uma moça. Esse tabu se quebrou começaram a me chamar de Barbie, inclusive pessoas da minha família”, conta Altamir.
Os planos da "Barbie” vão além: “Não pretendo descuidar da aparência e quero cada vez mais me parecer com a boneca”. Ele afirma ainda que pretende fazer o Enem e tentar uma vaga em um curso de Comunicação e também ser comissário de bordo.
A Barbie negra de Barcarena com algumas de suas "fãs", segundo ele. Foto: Reprodução/Facebook
Sobre isto, Thamiris Magalhães afirma que "Há um narcisismo profundo nas redes sociais e nas tecnologias atuais. E isso faz com que memes, Barbies, Kens, sub-celebridades etc., sejam cada dia potencializados e crescentes no mundo digital, uma vez que, muita das vezes, o que as pessoas fazem na rede não é alheio ao que é feito fora dela, na vida cotidiana. O que as redes digitais fazem é potencializar isso numa escala infinita e global”, explica.
Buscando cada vez mais destaque e mesmo “fama”, o jovem recebe muitas criticas, que são minimizadas por ele. “Gosto de criticas pois fazem eu tentar aperfeiçoar e melhorar o meu trabalho. Criticas fortalecem e me fazem ver que meu trabalho esta valendo a pena”.
A aparência também atrai olhares curiosos e mesmo pessoas interessadas em relacionamento: “Não costumo dar a atenção a esses comentários, pois já tenho um companheiro. Essa Barbie aqui já tem o seu Ken”, finaliza.
(DOL)
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