Basta descer a Avenida Presidente Vargas no sentido contrário aos carros para chegar a uma singela praça, que antecede a Estação das Docas. Nela, nada mais do que a grama verde e uma mediana coluna, estilo greco-romana, que carrega a estátua de um homem. Das milhares de pessoas que circulam todos os dias por ali, um dos pontos mais movimentados da capital paraense, poucas sabem ou têm a curiosidade de saber de quem se trata. Ignoram, na correria do cotidiano, que por trás das estátuas podem existir grandes histórias. E grandes homens.
Hoje celebra-se o Dia de Portugal, é feriado por lá. Por aqui, é fácil identificar uma clara necessidade: a de redescobrir a memória do Pará, em especial aquela que cruza história lusitana. A estátua deste homem na praça, que tem nome e sobrenome – Pedro Teixeira – pode até não interessar à maioria dos paraenses, mas trouxe alguém do outro lado do continente a fim de resgatar a memória deste herói português, que virou papachibé de coração. Trata-se do escritor Antonio Bacelar Carrelhas, que esteve em Belém para apresentar o projeto “Expedição Pedro Teixeira”.
A ideia é refazer a trajetória do viajante Pedro Teixeira em terras amazônicas e, de quebra, ainda ajudar a população a conhecer uma das figuras mais importantes da fundação do Grão Pará. Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO, Antonio Carrelhas apresenta Pedro Teixeira e deixa claro que, sem ele, talvez estivéssemos todos a falar espanhol ao invés de português.
Quais fatos históricos fizeram Pedro Teixeira ser tão relevante para a história do Pará e do Brasil?
O grande feito foi a bandeira fluvial, da qual resultou a tomada de posse do vasto território da Amazônia. Ele realizou a primeira viagem de subida e descida do Rio Amazonas entre 1637 e 1639, quando comandou uma grande expedição com a missão de subir o rio e percorrer outros caminhos na cordilheira andina, com destino a Quito (Real Audiência do Vice-Reinado do Peru), onde chegou em 1638. No regresso a Belém do Pará, e segundo as instruções recebidas do Governador Português do Maranhão e Grão-Pará, Jácome Raimundo de Noronha, deveria tomar posse oficial dos territórios entre os rios Napo e Juruá para a Coroa de Portugal, na fronteira do Brasil com a Colômbia e Peru. Desta forma, Portugal expandiu enormemente a sua penetração amazônica para além do meridiano de Tordesilhas e garantiu, mais tarde, ao Brasil, cerca de metade do seu território.
Quais as influências de Pedro Teixeira na cidade de Belém?
Ele chegou a Belém com o então Governador Francisco Caldeira Castelo Branco, em 12 de janeiro de 1616, data-marco da fundação da cidade e, desde então, ficou ligado a ela. Sabe-se que era de físico e de temperamento muito forte, talhado para a vida agreste. Sua atuação dá testemunho desta condição física e psíquica do homem. Pedro Teixeira comandou diversas batalhas navais contra os invasores estrangeiros da Amazônia. Em 1616, como alferes, acompanhou a expedição de Caldeira Castelo Branco para fundar o Pará. Levantaram o Forte do Presépio para a defesa, que deu origem à vila e depois cidade de Belém.
Quais os principais feitos de Pedro Teixeira no Pará?
Além de ajudar na fundação da cidade, em 1625 ele derrotou e expulsou os holandeses do seu Forte no Xingu. Expulsou também os ingleses da margem esquerda do Amazonas. Em 1626, ele subiu o rio Amazonas e o Tapajós, e fez um bom relacionamento com os índios. Em 1629, com Pedro Favela, tomou o Forte Torrega, no Amazonas, onde estavam aquartelados dois mil homens. Venceu os ingleses, escoceses e irlandeses. Em 1631, com expedição comandada por Jácomo Raimundo de Noronha, atacou o novo forte em que estavam os ingleses, na outra margem do Amazonas. Destruiu o forte e os ingleses foram trazidos como prisioneiros a Belém. Em 1637, partiu com destino a Quito, no então vice-reino do Peru, atual Equador. Percorreu o Amazonas, do Atlântico até as suas nascentes pelo Rio Napo. Voltou pelo mesmo caminho, fazendo a viagem de ida e volta: subida e descida. Já em 1640, Pedro Teixeira foi nomeado Capitão-Mor e Governador da capitania do Pará. Assumiu em 22 de fevereiro e governou até maio de 1641. Pretendia ir a Portugal, prestar contas ao rei de seus feitos, mas não pode seguir viagem por motivos de saúde. Ele morreu em Belém em junho de 1641.
Em sua pesquisa, fica claro que a população paraense não conhece a história do grande personagem que foi Pedro Teixeira?
No meu último deslocamento a Belém fiz testes sobre o conhecimento do nome de Pedro Teixeira. A conclusão foi decepcionante. Jovens visitantes do Forte do Presépio nem mesmo policiais militares estacionados no Ver-o-Peso, a quem perguntei onde seria uma estátua de um herói da Amazônia Pedro Teixeira, não sabiam nem quem era Pedro Teixeira, nem qual a estátua. E ela estava localizada a 200 metros deles!
Existe alguma evidência de como era a personalidade de Pedro Teixeira?
Sem dúvida, um grande patriota, nascido português, mas de grande amor pelo Brasil e Amazônia, terra pela qual lutou durante muitos anos e onde morreu. Um grande militar e comandante. Certamente um homem bom e de palavra.
(Diário do Pará)
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