“O Mestre Roque Santeiro foi um dos caras mais incríveis que conheci ao longo das filmagens, vivia sozinho numa cabana de pau a pique. Tinha uma risada incrível, que contagiava todo mundo”, conta Artur Arias Dutra, diretor do documentário “Mestres Praianos do Carimbó de Maiandeua”, que terá suas primeiras exibições amanhã, 15, em Algodoal, e na quinta-feira, 16, em Fortalezinha, vilarejos onde foram feitas gravações. O filme já chega como uma homenagem póstuma ao Mestre Roque Santeiro, que faleceu no início do mês e, diante disso, reforça a importância e urgência de projetos como esse. “Ele era um dos principais mestres de Maiandeua e ainda assim muitos só o conhecerão pelo filme. Para você ver qual o valor do documentário que a gente fez”, comenta o pesquisador e produtor Pierre Azevedo. O projeto veio sendo desenvolvido há cerca de três anos e é todo focado no carimbó feito na Ilha de Maiandeua, no nordeste do Pará. Além de Algodoal e Fortalezinha, foram pesquisados os vilarejos de Camboinha e 40 do Mocooca. No roteiro, as peculiaridades dos instrumentos, as letras que versam sobre o cotidiano de pescadores e as encantarias do imaginário popular, tudo costurado pela figura de Mestra Chico Braga, 65 anos, considerada a principal referência para a comunidade quando o assunto é carimbó na ilha.  “Através dele (Chico Braga) conhecemos a cultura da ilha e começamos a ter conversas mais próximas, visitando o local, acompanhando a visão do cotidiano dos moradores em relação à atividade da pesca e do comércio local – principais atividades econômicas da ilha”, conta Pierre. A partir dessas inserções, a equipe passou a identificar o que os mestres cantavam no carimbó e perceberam essa relação direta das letras com o cotidiano, a encantaria da ilha, a pesca e a religiosidade.Foram entrevistados cerca de dez mestres e tocadores, além de ser feita a identificação dos principais – o que inclui Roque Santeiro e Chico Braga. “Tentamos ao longo desse processo entender o que é um mestre no carimbó, e entendemos ser aquele que não só detém o conhecimento da música como o repassa adiante”, diz o produtor, frisando que boa parte da pesquisa envolveu ainda a perspectiva das novas gerações.

(Diário do Pará)

MAIS ACESSADAS