Com o acesso mais barato às tecnologias da comunicação e uma infinidade de aparelhos e softwares, nos tornar produtores de nossos próprios conteúdos ficou mais fácil. A velha máxima de uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, como dizia o diretor de cinema Glauber Rocha, na década de 1970, nunca esteve tão em voga quanto hoje, principalmente entre jovens que, munidos de um aparelho celular com câmera, um computador e uma boa internet para despejar este conteúdo a milhares de seguidores, sonham em fazer carreira nesse mundo virtual que movimenta milhões no mundo real. Mas há uma fórmula para fazer sucesso como youtuber? Cheio de tutoriais para tudo nessa vida, o próprio YouTube não poderia deixar de ensinar como vencer na vida em seu ambiente. Na Escola de Criadores de Conteúdo, é possível aprender desde como fazer a pré-produção do canal até como desenvolver a própria marca e a relação com a sua comunidade on-line. Se você definir metas para seu perfil, o YouTube ainda envia recomendações personalizadas de aprendizado. Tudo a um click.
AULAS PRESENCIAIS
Mas há também opções de ensino mais convencionais, com direito a professor e aulas práticas para tornar a brincadeira ainda mais profissional. Foi com esse objetivo que inaugurou em Belém, na última quarta-feira, 26, a Like - Escola de Youtubers, no shopping Bosque Grão Pará. A ideia foi do publicitário Yusseff Leitão que, acostumado com as demandas de criação na área de marketing digital, percebeu que havia também um outro mercado, menos formal, para quem deseja realizar sua própria iniciativa. Ele se inspirou no YouTube Space, criado pelo próprio site em dez cidades do mundo - Los Angeles, Tóquio, Berlim, Londres, Nova York, Paris, Mumbai, São Paulo, Toronto e mais recentemente, Rio de Janeiro -, e que tem o objetivo de incentivar a prática de fazer vídeos, além de promover cursos técnicos sobre cinema e audiovisual, palestras e intercâmbios culturais.
“Queremos dar a possibilidade do aluno ter noções de edição, iluminação, roteiro e poder, em uma semana, desenvolver um talento. Vamos dar todo o auxílio na criação do canal, que terá a própria marca, e mostrar como colocar isso nas redes socias. O aluno já sai da escola com o seu primeiro vídeo postado, se ainda não tiver aberto um canal, e pode se tornar um youtuber”, diz Yusseff. Uma das que já garantiu vaga no curso é Louise Gabbay. Digital influencer com 9,8 mil seguidores no Instagram, ela pretende investir agora em um canal do YouTube de forma profissional. “Vai ser um canal sobre fotografia, viagens e universo feminino”, avisa a jovem.
Youtuber mirim precisa de atenção
Como boa parte do público-alvo de uma escola de youtubers é de crianças e adolescentes, o publicitário Yussef Leitão orienta sobre quais vídeos são viáveis de serem produzidos por essas faixas etárias. “Sei que existe essa preocupação dos pais, que querem saber o que os filhos vão mostrar na internet, se vai expor muito a família, a residência, e temem a violência. Sabemos dos riscos, por isso queremos que tenham noção clara sobre conteúdo para que, quando entrarem nesse universo digital, entendam que existem barreiras para certos assuntos. Não se pode ter um canal, por exemplo, para fazer bullying com colegas da escola”, pondera.
A ideia é deixar claro também que, por mais que se invista na carreira, não há garantia de que o canal do aluno fará sucesso - tudo depende do engajamento e relacionamento com os fãs e para isso não há fórmulas exatas, apesar de existirem alguns parâmetros a serem seguidos. Yusseff diz que o curso fornece o básico para que depois o dono do canal possa “andar com as próprias pernas”, mas que, assim como o YouTube Space, a Like também disponibilizará o local para posteriores produções, que já não precisam ser feitas no quarto de casa, de forma amadora.
“Antigamente, quando se perguntava o que uma criança queria ser quando crescer, elas respondiam as profissões tradicionais e hoje já dizem que querem ser youtuber, mas temos a preocupação de que os alunos não saiam das aulas com uma percepção deturpada do negócio. Não é uma profissão como as outras ainda e a criança deve ser orientada que, para ser youtuber profissional, depende do público, então ela pode encarar as aulas e o canal como uma forma de diversão, algo onde se expressar, como arte, como momento de lazer, e que se isso se transformar em algo rentável, poderá seguir outro caminho”, explica, de forma ponderada, Yusseff Leitão.
Yussef Leitão diz que um dos problemas dos youtubers é ter bom conteúdo mas não saber chegar a seu público (Foto: Ricardo Amanajás)
O segredo é saber como chegar até às pessoas
O publicitário Yussef Leitão diz que não há limitação de temas para ser um youtuber, desde que você saiba como falar e para quem está falando. Ele já foi procurado até por um pastor evangélico que pretende se comunicar com seus fiéis no ambiente virtual. “Dentro desse universo de produção de conteúdo você pode falar sobre culinária, arte... Sempre vai ter alguém interessa do no que você vai falar. O grande segredo é como chegar a essas pessoas. Às vezes você tem um conteúdo maravilhoso, mas ninguém te achou. Esse é um problema para os youtubers”, avalia.
João Pedro, do canal The Rocha, começou a fazer vídeos de humor de brincadeira e hoje largou o emprego formal para se dedicar ao premiado canal que criou (Foto: Divulgação)
TALENTO E ESFORÇO
É o que o youtuber João Pedro, do canal The Rocha, precisou aprender na prática. Ele começou a gravar vídeos caseiros, postou no Facebook e se se surpreendeu com a repercussão. Desde então, os amigos o incentivaram a abrir o próprio canal, mas ele foi atrás de saber como se fazia uma boa edição, como escrever um roteiro, pensar a iluminação. Não é apenas ter talento, mas se esforçar para dar certo. Ele deixou o emprego para trás para se dedicar à produção de vídeo e já tem conseguido colher alguns frutos. “Desde criança eu já fazia vídeo para a escola, mas nada para o YouTube, era tudo brincadeira, até que um amigo gravou para ver no que dava e pediram para fazer o canal. Agora já tem repercussão até fora do estado, as pessoas começaram a assistir às nossas paródias. Antes era muito focado na nossa cultura, na nossa linguagem e agora estamos expandindo”, diz o jovem, que recentemente, em junho,teve a paródia “Meu Currículo”, como única representante paraense no concurso “Só Pra Parodiar”, do canal Multishow.
O programa é um reality game show, em que paródias de 32 youtubers disputam qual a melhor. O The Rocha também se sagrou, em março último, o grande vencedor no Farinha Vídeo Awards, o “Oscar” dos melhores da internet paraense, e levou quatro prêmios: Melhor Canal, Melhor Youtuber Masculino, Melhor Paródia e Melhor Vídeo, os dois últimos graças ao “Meu Currículo”.
CURIOSIDADES
- Apesar de Belém ter uma espécie de vocação para canais de humor, segundo o YouTube os canais de maior sucesso versam sobre entretenimento, moda e beleza, gastronomia, música e games. Em entrevista ao jornal “Extra”, Cauã Taborda, gerente de Comunicação do YouTube, diz que, dos cem maiores canais da plataforma, 25 são de games – e a tendência é que esse mercado cresça ainda mais nos próximos anos.
- Segundo dados do Social Blade (site norte-americano que reúne todas as métricas de algumas redes sociais e mostra a estimativa de ganhos e de popularidade de cada canal), em junho deste ano, entre os canais mais visualizados no Brasil, estavam o de Whinderson Nunes (20,6 milhões), KondZilla (14,8 milhões), Porta dos Fundos (13,2 milhões), Rezende Evil (11,7milhões), Felipe Neto (1,5milhões), 5IncoMinutos (10,6milhões), Authentic Games (9,9 milhões de inscritos), Parafernalha (9,1 milhões),Tazer Craft (7,8 milhões),Tototoy Kids (5,1milhões).
- E a estimativa de lucro é diretamente proporcional ao número de inscritos. Ainda segundo o Social Blade, o lucro mensal de Whinderson Nunes, o brasileiro mais popular no YouTube, deve chegar entre 8,3 mil a 132,4 mil dólares.
(Dominik Giusti e Esperança Bessa/Diário do Pará)
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