Nas margens de uma praia, uma mulher surfa em cima de um piano. A imagem, que no mínimo provoca um estranhamento, é obra da artista plástica paraense Danielle Fonseca, com fotografia de Keyla Sobral. O local escolhido para montar as imagens foi a praia de Marahu, na ilha de Mosqueiro. Um dia inteiro foi dedicado para construir a cena que resultou em 50 fotografias, aproximadamente. Desse total, a artista selecionou três imagens que compõem a exposição “Entre Acervos”, que abre hoje, às 19h, no Palácio das Artes, em Minas Gerais.
Elieni Tenório é outra artista plástica paraense que participa de uma mostra de arte fora de Belém. A obra, intitulada “Fragmentos do Corpo”, integra a exposição “Dentro do Brasil Cabe o Mundo”, programação que integra o “Festival Sesc de Inverno 2018”, que ocorre até o próximo dia 29 num circuito itinerante por Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis, no Rio de Janeiro. A participação de Elieni é fruto de um trabalho artístico desenvolvido no Centro Cultural Sesc Boulevard, em Belém, com a exposição “Elegia do Corpo”, que consistia numa instalação composta de pinturas e objetos.
“Foi muito rápido o processo entre o convite e o envio das peças, e representar o Pará é muito importante. Para mim é uma honra participar dessa exposição. Muitas das vezes, o artista é mais reconhecido fora do país, ou da sua região”, diz Elieni.
Danielle também ficou muito contente pelo convite. “Esta é uma obra inspirada no poema ‘O Martelo sem Mestre’, do poeta francês René Char (1907-88), e foi uma feliz surpresa fazer parte dessa exposição”, comemora.
Danielle utiliza diversas linguagens artísticas para compor sua arte, como a fotografia, a poesia, a música e literatura. “A leitura de poesias faz parte do meu processo pessoal. Então me inspiro em textos filosóficos e na poesia para dialogar com as artes visuais”, descreve.
O resultado desse trabalho fotográfico foi surpreendente até para ela. “Eu me vesti como se fosse de fato surfar e entrei na água mesmo, tentando levar ao extremo, inserindo essa experiência no contexto da poesia. O piano nesse contexto toca sem ninguém, mais ou menos o que eu sou naquele ato. O resultado foi surpreendente.
Causa estranhamento, é poético, mas no final é positivo”, analisa. Com esta obra, a artista já circulou por várias partes do Brasil e do mundo, desde que lançou a série em 2015.
Fragmentos do corpo de Elieni Tenório em festival
Elieni Tenório explica que “Fragmentos do Corpo” é a evolução natural de um trabalho de pesquisa que vem desenvolvendo desde 1997, com técnicas de desenho, pintura, gravura e ainda a utilização de suportes não convencionais. Hoje ela procura manter sua identidade artística, depois de trabalhar com uma exuberância das cores e a multiplicidade de informações, marcantes na fase inicial, mas isso, porém, deu lugar a um processo de maior delicadeza e de sensibilidade na utilização de tons que compõem “Fragmentos I, II e III”.
“São três obras em objetos de parede, os objetos da fase ‘Fragmentos do Corpo’. Elas consistem em um corselet estilizado em suporte de papelão e papel de parede importado. Foi uma coisa muito pessoal, em que saí do suporte convencional e trabalhei nos objetos. Gosto muito de mudanças, do trabalho da construção para desconstruir e construir de novo”, descreve.
A composição artística, segundo ela, busca a forma feminina transformada em obra de arte. “O corselet é uma forma de a mulher delinear o seu corpo. Então comecei a trabalhar com ele e pensar em colocá-lo dentro do quadro. O resultado foi esse”, diz. A obra foi criada entre 2010 e 2011 e, como conta a artista, ficou guardada na “caixa de Pandora”, esperando o momento certo para sua aparição.
Danielle Fonseca ministra oficina de artes visuais
Para Danielle Fonseca, a relação entre poesia e artes visuais vai muito além de uma simples inspiração: a poesia por si só é arte visual. Para despertar esse olhar em outras pessoas, ela está inscrevendo interessados em participar da “Oficina de Poesia Visual II”, com aulas de teoria e prática voltadas para a poesia visual na Biblioteca Pública Arthur Vianna, em Belém. Podem se inscrever crianças a partir dos 12 de idade e adultos, que serão estimulados a pensar, ver, ler e escrever poesias.
“Quanto mais leitura, mais vocabulário em consequência. Com isso estimulamos bons leitores e que eles tenham mais sensibilidade aos poemas”, diz.
As aulas serão dinâmicas, com a poesia sendo mais trabalhada na visualidade, descreve a artista. “A gente lê muito, tem música, texto. Apresento a eles compositores que têm parcerias com poetas, como Caetano Veloso”, antecipa, citando outros nomes como Augusto de Campos, um dos criadores da poesia concreta no Brasil, Haroldo de Campos e Décio Pignatari. “A gente mostra poetas que tiveram nome na história e peso na literatura. Max Martins, por exemplo, é nosso maior poeta experimental”, destaca.
Participe
“Oficina de Poesia Visual II”, com Danielle Fonseca
Inscrições: Até 6de agosto
Aulas: De 6 a 27 de agosto, de 14 às 17h
Onde: Biblioteca Pública Arthur Vianna (Centur - Av. Gentil Bittencourt, 650 - Nazaré)
Quanto: Gratuito para estudantes de escolas públicas e R$ 20 para público em geral
Informações: (91) 3323-0300
(Wal Sarges/Diário do Pará)