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Ozzy Osbourne: O homem que fez da escuridão sua obra

Na manhã desta quarta-feira (30), é realizado o funeral de Ozzy Osbourne, onde o mundo se despede do homem que fez de sua queda, palco para a construção de um mito. Mas quem era o homem sob a alcunha de ‘Príncipe das Trevas’?

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Imagem ilustrativa da notícia Ozzy Osbourne: O homem que fez da escuridão sua obra camera | Reprodução

John Michael Osbourne nasceu em 3 de dezembro de 1948, na cidade operária de Birmingham, Inglaterra — mas o mundo o conheceu por outro nome: Ozzy. Ícone do rock, pai do heavy metal, símbolo da rebeldia e da sobrevivência, ele foi mais do que um artista. Ozzy Osbourne foi um marco cultural. E, agora, torna-se também uma ausência que reverbera em silêncio.

A morte de Ozzy marca o fim de uma era em que o rock ainda era rito, transgressão e catarse. Sua trajetória, — conhecida pelos extremos que a marcaram— , é também a história de uma geração que se viu representada naquilo que era feio, imperfeito, desajustado e, humano.

Mas, antes do mito, houve o garoto. E antes da lenda, houve o grito.

Nascido e criado no caos do pós-guerra, cercado pelo aço, trabalho e pela desesperança que permeava o cotidiano brutal operário, Ozzy fez dos escombros do caos, fundação para seu palco de onde ecoou o primeiro grito: um som que, mais tarde, viria a se transformar na voz do Heavy Metal.

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A origem do som: o nascimento da banda que cantava sobre o fim do mundo

Em 1968, na companhia de Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, Ozzy fundou o Black Sabbath. E mais do que uma banda, ali, o Sabbath inaugarava uma nova atmosfera: sombria, distorcida, profética, trazendo à tona os sons que ecoavam do âmago da fragilidade humana. Se o rock já existia, foi com o Sabbath, que ele passou a carregar o peso da ruína humana.

Black Sabbath filmed a music video for "Paranoid" in Belgium. Black Sabbath

Álbuns como Paranoid (1970) e Master of Reality (1971) não apenas definiram o gênero heavy metal: deram voz ao medo, à guerra, à loucura. Em tempos em que a música popular ainda flertava com o romantismo e a psicodelia, Ozzy cantava sobre colapsos nervosos, conflitos internos e o apocalipse terreno que passar a fazer parte do cotidiano.

O personagem construído para estar no palco — olhos delineados de preto, corpo em transe, braços abertos como um profeta caído — não era uma construção de imagem. Era a expressão de algo real. O palco, para Ozzy, sempre foi um lugar de expurgo.

Expulsão, recomeço e o legado solo

Depois de ser afastado do Black Sabbath no ano de 1979, por conta do uso excessivo de drogas e álcool, Ozzy viveu um exílio que, em vez de destruí-lo, o serviu de alicerce para a construção do que um dia viria a ser chamado de mito. Com o álbum Blizzard of Ozz lançado no ano de 1980, iniciou sua carreira solo força surpreendente, sendo impulsionado por sua parceira com o guitarrista Randy Rhoads, que veio a falecer de forma trágica dois anos depois.

Crazy Train By Ozzy Osbourne. OzzyOsbourneVEVO

Hits como "Crazy Train," "Mr. Crowley" e "Suicide Solution" não apenas marcaram sua trajetória artística e consolidaram seu nome. Eles reforçaram o que muitos já diziam: Ozzy era a personificação do próprio gênero. Cada disco lançado, trazia um fragmento novo de sua dor, fúria e fé quase ingênua na salvação pela música.

Mesmo fora do Sabbath, Ozzy manteve seu pacto com o sombrio — e fez disso poesia distorcida. Seus álbuns, shows e turnês se tornaram parte da história do rock, canções e histórias que atravessaram gerações e criaram uma base de fãs que não via em seu ídolo um herói, mas um espelho.

A face humana do mito

No ano de 2002, o mundo passou a conhecer o "outro Ozzy": o marido, pai, e o homem. O reality show The Osbournes, originalmente transmitido pela MTV, revelou um ícone vulnerável, às vezes desorientado, mas também afetuoso cômico e acima de tudo, real.

The Oubournes. Senhora das Estrelas

Ao contrário do que se vê no histórico dos realitys, essa exposição não destruiu sua imagem. Permitir que fosse dessa forma, na verdade reforçou a ideia de que sua força vinha justamente da fragilidade que nunca fez questão de esconder. Ozzy nunca se apresentou como inalcançável. Era, desde o início, um sobrevivente —da desesperança que permeava sua realidade quando ainda era um menino, do vício, da dor, da fama e de si mesmo.

Nos últimos anos, mesmo tendo que conviver com o diagnóstico de Parkinson e sofrendo as dores das cirurgias, seguiu criando. Lançou Ordinary Man (2020) e Patient Number 9 (2022), álbuns que soam como cartas de despedida, mas também como testemunhos de resistência.

Muito além da música

Ozzy Osbourne transcendeu o papel de vocalista. Sua figura tornou-se um símbolo do rebelde arquetípico — não aquele que desafia por vaidade, mas o que confronta a norma porque não sabe viver de outro modo. Em sua arte, nunca houve concessão. Em cada nota cantada, havia dor, entrega e verdade. Um alento que confortava os corações das multidões por onde passava.

Sua relevância e legado ultrapassam o rock. Ozzy representa um momento em que a arte ousava ser desconfortável. Em que o feio e o estranho também tinham lugar no palco. Em que a autenticidade se tornava um grito de sobrevivência por meio da performance.

O que fica

Com sua morte, o mundo perde mais que um músico. Perde um dos últimos representantes de uma linhagem de artistas que viveram à margem — não como moda, mas como destino.

Nesta quarta-feira (30), o mundo se despede de Ozzy Osbourne.
📷 Nesta quarta-feira (30), o mundo se despede de Ozzy Osbourne. |Reprodução

Ozzy Osbourne não foi perfeito. Não foi herói. Mas sua sinceridade — crua, visceral, desajustada e por vezes incoerente — construiu um legado difícil de medir com as métricas contemporâneas. Seu impacto está nas camadas invisíveis: no adolescente que encontrou consolo num riff grave, no adulto que aprendeu a rir da própria ruína, e no fã. Que viu, na figura do ‘Príncipe das Trevas’, a permissão para existir sem máscaras.

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