As investigações da Polícia a respeito das atividades de Deolane Bezerra, presa no último dia 4 de setembro, continuam a trazer a tona várias situações consideradas ilícitas, e que podem complicar mais a situação da influencer e advogada.
Antes de ser presa junto com a mãe sob suspeita de envolvimento na lavagem de dinheiro proveniente de jogos de azar e do jogo do bicho, a influenciadora Deolane Bezerrra, de 36 anos, fez campanhas publicitárias para empresas investigadas pela Polícia Civil de Pernambuco.
Entre elas está a Edscap, que comercializa títulos de capitalização na modalidade “filantropia premiável”, na qual o direito de resgate dos pagamentos, feito pela pessoa que adquire o título, é cedido para uma entidade beneficente.
Confira tudo sobre o caso:
- Deolane Bezerra é presa em operação da Polícia Civil
- Deolane Bezerra tem segundo habeas corpus negado pelo STJ
- Deolane volta a ser presa após descumprir medidas cautelares
- Deolane é solta e deve usar tornozeleira; mãe segue presa
- Entenda a relação da mãe de Deolane com tráfico de drogas
A Federação Nacional da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae Brasil) era quem recebia os valores da Edscap. A empresa pertence a Darwin Henrique da Silva, também dono da Esportes da Sorte.
Era pela Edscap que Darwin lavava dinheiro proveniente do jogo do bicho e de apostas ilegais. Ele está preso desde o dia 5 setembro, quando se entregou à polícia para o cumprimento de um mandado de prisão.
Deolane usou as redes sociais, com dezenas de milhões de seguidores, para realizar rifas, nas quais sorteou prêmios como maletas de dinheiro em espécie e carros de luxo, como um Porsche 911 Carrera S Cabriolet, avaliado em R$ 1 milhão.
As rifas, como mostra investigação policial obtida pelo portal brasiliense Metrópoles, eram realizadas por meio da Edscap. A investigação mostra que os valores totais dos resgates dos títulos de capitalização eram revertidos para a Apae Brasil, que mandava uma quantia para a influencer.
A reportagem questionou a entidade e a defesa de Deolane, nessa quarta-feira (18), sem sucesso. A defesa de Darwin não foi localizada. O espaço segue aberto.
Depósitos milionários
A polícia localizou a divulgação dos sorteios somente no perfil de uma rede social da Edscap. Nada foi mencionado nos perfis de Deolane e da Apae.
No entanto, um relatório de inteligência financeira (RIF) feito pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do governo federal, ajudou a identificar transações suspeitas.
O fato nos chamou atenção, tendo em vista que localizamos crédito de R$ 2.930.588,00, no período de 11/01/2024 a 07/03/2024, realizado pela Federação Nacional das Apaes na conta corrente de Bezerra Publicidade [empresa da influenciadora], o qual foi justificado como serviços de publicidade de Deolane para a Apae
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Relatório de inteligência financeira (RIF)A empresa de títulos de capitalização divulgou na internet oito sorteios promovidos pela influenciadora, nos quais foram sorteados R$ 880 mil em dinheiro, uma viagem para os Estados Unidos, cinco carros — entre eles um Porsche, uma Toyota Hilux e um Land Rover Discovery — além de quatro motos. Os vencedores do Porsche e da Hilux optaram em receber o valor dos veículos em dinheiro.
Desmentida pelo Imposto de Renda
O Coaf questionou Deolane sobre a origem dos bens rifados e sobre os créditos da Apae.
Com relação aos itens das rifas, ela afirmou não ser proprietária de nenhum, explicando que havia feito “somente” propaganda e publicidade. Porém, o emplacamento da Land Rover Discovery, sorteada em 18 de novembro de 2023, mostra que o veículo foi declarado no Imposto de Renda da influenciadora, no ano calendário 2022.
Sobre os créditos da Apae, primeiramente foram fornecidas 11 notas fiscais. Após consultá-las, o Coaf notou que oito estavam canceladas. Um novo pedido foi feito e cinco notas fiscais foram enviadas, somando R$ 2,275 milhões, emitidas pela Bezerra Publicidade em favor da Apae.
A descrição das notas afirmava que os valores eram referentes a serviços de gravação de conteúdos audiovisuais para divulgação da Edscap e da Apae. Os contratos de publicidade foram solicitados à empresa de Deolane, para confirmar as justificativas da influenciadora, que “se reusou a entregá-los”.
Organização criminosa
Deolane e a mãe dela, Solange Alves Bezerra Santos, de 55 anos, foram presas no último dia 4 apontadas pela Polícia Civil de Pernambuco como integrantes de uma organização criminosa envolvida com jogos ilegais e lavagem de dinheiro.
Para movimentar os lucros resultantes de atividades criminosas, como mostra a investigação policial, o grupo se valia de um método conhecido como “smurfing“, usado também pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).
Como mostram informações enviadas à Polícia Civil pelo Coaf, Deolane e os outros denunciados realizaram transações financeiras atípicas com 34 empresas, além de pessoas físicas, com depósitos em dinheiro vivo, de forma fracionada.
Essa é uma característica do método com nome em inglês, recurso por meio do qual criminosos movimentam grandes valores, mas diluídos em pequenos depósitos, com o intuito de dificultar o monitoramento das autoridades financeiras.
No processo do caso é afirmado que documentos apontam “fundados indícios” da prática reiterada “do crime de lavagem de dinheiro por parte dos investigados, ao longo dos últimos anos”.
O “dinheiro sujo”, seguem os registros judiciais, foi lavado pela organização “com a aquisição de imóveis e carros de luxo”, além de “loterias”.
Carrões de luxo
Como revelado pelo Metrópoles, os carros de luxo ostentados pela influenciadora para os mais de 21 milhões de seguidores nas redes sociais são um dos indícios de lavagem de dinheiro encontrados pela polícia. Deolane foi presa e teve a oportunidade de responder às acusações em liberdade.
Ela, porém, ficou menos de 24 horas em prisão domiciliar, após descumprir uma das medidas cautelares impostas pela Justiça de Recife, que a impedia de falar com a imprensa. Deolane deu entrevistas assim que colocou os pés fora da cadeia, em 9/9.
A influenciadora foi presa novamente no dia seguinte, assim que chegou ao Fórum da capital pernambucana, para assinar papéis antes de seguir para São Paulo, onde iria ficar em uma de suas três mansões.
Ela e a mãe foram presas em cumprimento a mandados de prisão preventiva, durante a Operação Integration, deflagrada pela Polícia Civil .
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