Há uma discussão muito viva na internet sobre os gastos mensais de cada clube da Série C. A dupla Re-Pa lidera, com folhas salariais estimadas em mais ou menos R$ 1 milhão. Custo altíssimo para os resultados pífios alcançados até agora na competição. Boa parte do insucesso dos times tem a ver com os critérios de contratação, quase sempre erráticos e sem lógica.
Como explicar, por exemplo, o Remo ter dispensado um de seus melhores volantes, Paulinho Curuá, no começo da Série C, por puro desinteresse do técnico de plantão, Marcelo Cabo. Como quase todos os treinadores, Cabo não demonstrou simpatia por jogadores nativos. Preferiu importar Claudinei, Buchecha e Galdezani.
Remo chega a acordo e acerta retorno de Paulinho Curuá
Curuá, mesmo sem ser excepcional, joga mais que os três citados. Foi liberado sem maior empenho em garantir sua permanência. Um gesto claro de desinteresse pelo atleta. O desfecho do negócio mostra também o quanto os gestores do futebol são submissos em relação às comissões técnicas. Eli foi outro jogador liberado sem qualquer avaliação mais séria.
No Campeonato Paraense ainda houve um me-engana-que-eu-gosto, com o aproveitamento de jogadores vindos da base em jogos isolados, geralmente contra times considerados emergentes. Foi aí que a torcida descobriu que havia um punhado de bons e futurosos jogadores no Baenão, casos de Kanu, Jonilson, Eli, Ricardinho, Guti e Henrique.
Saiu Cabo, entrou Ricardo Catalá e a situação não mudou. A turma caseira foi completamente esquecida, enquanto o Remo ia buscar mais “reforços”: Rafael Silva, Elton, Vitor Leque e Marcelo. De repente, um raio de luz se fez no Evandro Almeida e alguém lembrou que, para o problema crônico da lateral esquerda, a solução estava geograficamente perto.
Evandro, 26, um dos melhores laterais do Parazão, atuando pelo campeão Águia, foi contratado e tem tudo para conquistar a titularidade, pois é tecnicamente melhor que Kevin e fisicamente mais confiável que Leonan, cujas lesões não permitem que volte ao time por inteiro.
Outra solução que se desenha é o retorno de Paulinho Curuá. Não há confirmação por parte da diretoria, mas as negociações estão em andamento. Seria uma correção de rumos, oportuna para a carência vivida pelo Remo desde que Anderson Uchoa se lesionou.
É provável que a situação do Leão na classificação fosse bem melhor se a política de contratações fosse outra, com prioridade para a garimpagem de valores regionais. Além de possibilidades maiores de acerto quanto à utilização dos jogadores, os custos seriam muito menores.
Valorizar os jogadores regionais, sem se deixar conduzir apenas pela indicação de empresários e técnicos, é providência que talvez seja finalmente adotada, depois dos vexames e prejuízos deste ano.
Reclamar do “sistema” virou tática de guerra
O Palmeiras, que se habituou a ganhar tudo nos últimos anos, parece não se acostumar mais com derrotas. Jogadores e comissão técnica reclamam acintosamente de tudo quando o placar é desfavorável. Abel Ferreira chuta microfones, peita árbitros. Até o auxiliar técnico se sentiu empoderado para criticar a arbitragem, dar lições e insinuar um “esquema” para prejudicar o Alviverde paulista.
Ontem à noite, depois da vitória do São Paulo, todo mundo já esperava a reação do Palmeiras ao resultado negativo. Saber ganhar é fácil, duro é saber perder. Os portugueses da comissão técnica palmeirense mostram que não se prepararam para os momentos ruins.
E o pior é que o coro de queixas parece destinado a tirar o foco das atuações ruins no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil. É um expediente manjado de terceirizar responsabilidades.
Para não deixar barato, o clube saiu do jogo de ontem questionando uma bola que teria esbarrado no braço de um zagueiro do São Paulo. Uma forma de dar sequência à estratégia de coitadismo que Abel Ferreira tanto explora, pelo visto com a anuência da diretoria do clube.
O futebol brasileiro e as quatro estações
O Brasil tem regras futebolísticas não escritas que insistem em assombrar as competições mais importantes. O cenário é conhecido. Jogo do Flamengo no Maracanã, bola na área do adversário, cobranças sobre o árbitro. O desfecho quase inevitável: um pênalti, por mais discutível que seja, como o marcado ontem contra o Atlético-PR.
A partida era difícil, pegada. O Atlético vencia e se defendia bem. De repente, Arrascaeta pega um rebote, toca na bola e em seguida o pé de Madson atinge sua perna. Ele desaba. O lance era vencido, mas as imagens em câmera lenta exibidas no telão do estádio geraram um estado de pressão quase irresistível. Bola na marca da cal.
O gol de empate abriu caminho para a vitória, com Bruno Henrique virando o placar. Não será a primeira vez, nem a última. São coisas que se repetem automaticamente, como as quatro estações. É tão repetitivo e previsível que gera um estado de anestesia e torpor sobre quase todos.
Não que o Furacão tenha buscado evitar essa situação desfavorável. Fez o gol muito cedo, recuou radicalmente e abriu mão de atacar desde o primeiro tempo. Times que agem assim quase sempre se dão mal. Seria até injusto ter melhor sorte no jogo – mas quem disse que há justiça no futebol?
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