
Em Belém da Judéia, Amahl - um garoto com dificuldades de locomoção - e sua mãe, acolhem no casebre onde vivem os três Reis Magos e um pajem, que se dirigiam para conhecer o Menino Jesus. Por milagre, Amahl é milagrosamente curado e, feliz, entrega sua bengala aos reis como presente ao menino Jesus. Esse é o contexto em que se passa a ópera natalina “Amahl e os Visitantes da Noite”, de Gian Carlo Menotti, a terceira e última do “18º Festival de Ópera do Theatro da Paz”. A estreia será nesta terça-feira, no Theatro da Paz, em dois horários: às 16h, com entrada gratuita para alunos que participam das ações do Programa Territórios Pela Paz (TerPaz), e às 20h, com ingressos à venda na bilheteria do teatro. A ópera ainda terá uma terceira récita ao público em geral na quarta-feira, às 20h.
“Amahl e os Visitantes da Noite” foi escrita por Menotti em 1951, como uma ópera de Natal para o “Hallmark Hall of Fame”, um programa antigo e de muito sucesso na televisão americana - que entrou para a história como a primeira ópera composta exclusivamente para televisão, estreando na noite de Natal do mesmo ano. Foi um sucesso tão grande que durante um longo tempo permaneceu como um clássico dos programas de Natal nas redes de TV do país.

Por ser uma ópera composta para televisão, ela possui um tempo diferente. É mais curta, com árias menores. Ela possui apenas um ato e será interpretada em inglês pelo elenco: a soprano Laura Silveira (Amahl); a reconhecida cantora lírica mezzo-soprano portuguesa Ana Ester Neves (mãe de Amahl); e o barítono Ytanaã Figueiredo (Pajem). Os reis magos serão feitos pelo tenor Andrew Lima (Gaspar), o baixo barítono Idaías Souto (Melchior) e o baixo Homero Velho (Baltazar). O espetáculo também terá a participação dos bailarinos Marlus Estumano e Alane Dias, com coreografia de Aline Dias, e um coro composto pelos participantes do “I Curso de Formação em Ópera”, que selecionou 20 cantores líricos profissionais e que ao longo de 2019 receberam capacitação musical e cênica, com preparação do maestro Vanildo Monteiro. A proposta é que a formação seja contínua para que, ao final de quatro anos, eles estejam preparados com excelência para formar um corpo fixo de cantores líricos do Theatro da Paz.
Para o maestro Pedro Messias, que regerá a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP) na interpretação da ópera, o que se está fazendo no teatro é a revisão do que Menotti pensou para televisão. “É necessário haver muita conversa entre a parte musical e a cênica. Costumo dizer que a música é quase uma trilha sonora para uma história que está acontecendo, então, se eu não entendo o que a diretora cênica está propondo, eu não tenho como conversar com ela musicalmente. Os meus tempos são de acordo com os personagens que ela cria”, explicou o maestro, referindo-se à direção cênica de Jena Vieira. Ele também descreveu a emoção de reger uma ópera pela primeira vez no Theatro da Paz. “Reger ‘Amahl’ é uma oportunidade maravilhosa, uma emoção enorme, uma honra grande e eu estou muito feliz. Tenho certeza que a plateia vai gostar muito do resultado”.
Ainda segundo Pedro Messias, a OSTP tem vasta experiência em ópera, mas esse é um repertório diferente, o que implica em maior dificuldade na execução. “Teremos uma formação reduzida da Orquestra com apenas 25 músicos, e eles estão habituados a tocar ópera com todo mundo junto, cerca de 70 músicos. Essa redução da quantidade de instrumentos muda muito a referência que eles têm de sonoridade. Fica tudo mais detalhado e, portanto, mais complicado, pois o som fica numa lupa e qualquer errinho é aumentado. Ao mesmo tempo o foco é maior. Daí esse resultado maravilhoso em tão pouco tempo. A OSTP trabalha sempre na excelência do que a gente poderia esperar”, elogia.
Ópera coroa edição bem-sucedida
Italiano naturalizado norte-americano, Gian Carlo Menotti (1911 - 2007) começou a escrever canções quando tinha 7 anos de idade. Aos 11 anos, escreveu libreto e música para a sua primeira ópera, “A Morte de Pierrot”. Iniciou sua aprendizagem formal em Milão, no Conservatório Verdi, em 1923. Depois da morte de seu pai, Menotti foi com a mãe para os Estados Unidos e ingressou no Curtis Institute of Music de Filadélfia (Pensilvânia).
O compositor contava que no período de sua infância na Itália, a imagem do Papai Noel não era tão forte, mas havia a tradição de contar a história do Natal através dos Reis Magos, e ele e seu irmão brincavam de interpretar o nascimento de Jesus. Foi das lembranças dessas brincadeiras, por exemplo, que ele tirou uma das características do Rei Gaspar, que o irmão sempre interpretava como um homem surdo. A escolha acabou dando uma leve comicidade ao personagem.
A ação de “Amahl e os Visitantes da Noite” se passa numa aldeia, onde se vê uma cabana. Ali, moram Amahl, uma criança sonhadora, imaginativa e com dificuldades de locomoção e sua mãe, uma mulher triste e desesperançada pela pobreza que os aflige. Numa noite estrelada, batem à porta os três reis magos e um pajem, em busca de hospedagem. Os viajantes são acolhidos e os moradores da aldeia chegam para cantar e festejar os visitantes.
Os presentes caros que os reis carregam para presentear o menino Jesus despertam na mãe um sentimento de revolta e, quando todos dormem, ela é flagrada tentando se apossar de uma das joias. O pajem tenta recuperar a joia e o menino defende a mãe. Comovidos, os reis entregam o ouro à mãe, já que a criança a quem procuram não se importa com ouro. Por milagre, Amahl é curado e, feliz, entrega sua bengala aos reis como presente ao menino Jesus, e pede à mãe que o deixe acompanhá-los para conhecer o Messias.
O desenrolar da história se explica na visão de um ítalo-americano no pós-Segunda Guerra Mundial, e traz um tanto de crítica social embutida na história do nascimento de Cristo. A ária da mãe, por exemplo, carrega parte desse pensamento, principalmente quando ela pergunta “será que os ricos sabem como é alimentar uma criança?”, “será que eles sabem como é sobreviver na pobreza?”. O foco da obra, no entanto, é a ideologia do Natal, em se despir das vaidades inerentes aos seres humanos e ajudar a quem precisa.
AMPLIADO
“Amahl e os Visitantes da Noite” será a última ópera dentro da edição de 2019 do Festival de Ópera do TP, que ainda terá o concerto sinfônico “O Messias”, de G.F. Haendel (OSTP e Coro), no domingo, 22, às 20h, encerrando a programação no Theatro da Paz.
Pela primeira vez o festival teve seu formato ampliado, com atividades ao longo de seis meses, a partir de agosto deste ano. Além das óperas, também foram incluídos concertos, teatro musical, apresentações fora do teatro, além de ações de formação profissional para o campo operístico, com diversas oficinas, para valorização da mão de obra local.
“Já temos no Pará um corpo técnico altamente qualificado para as demandas da produção operística. Estas ações de incentivo e capacitação valorizam ainda mais os enormes talentos que temos aqui. Além disso, a extensão do calendário de montagens e récitas também foi uma inovação extremamente positiva. Isso gerou uma ativação maior da cadeia produtiva da ópera, ao longo de todo este semestre. São centenas de músicos, cenotécnicos, aderecistas, costureiras e produtores de cena envolvidos nas montagens e musicais durante a metade do ano. É qualificação e atividade econômica andando juntas”, afirma a secretária de Cultura do Estado, Ursula Vidal.
O Festival de Ópera do Theatro da Paz tem direção geral de Daniel Araujo, direção de produção de Nandressa Nuñez, que também assina o cenário ao lado de Cláudio Bastos, e direção musical de Miguel Campos Neto. A ficha técnica ainda traz a Ana Maria Adade como pianista co-repetidora; figurinos de Claudio Rego, visagismo de Omar Junior, desenho de luz de Rubens Almeida, direção de palco de Cláudio Bastos e legenda de Gilda Maia.
EM TRÊS TEMPOS
18º Festival de Ópera do Theatro da Paz – “Amahl e os Visitantes da Noite”
Quando: Hoje, às 16h, com entrada franca para os alunos que participam das ações do TerPaz; e hoje e amanhã, às 20h, com ingressos à venda na bilheteria
Onde: Theatro da Paz (Praça da República – Campina)
Quanto: Entre R$ 40 (frisas, plateia, varanda e camarote de 1ª), R$30 (camarote de 2ª e galeria) e R$20 (paraíso) + 1 quilo de alimento não perecível. Todas as posições aceitam meia entrada. À venda na bilheteria do teatro, a partir das 9h (nos dias de espetáculo, funciona até às 20h). Também pelo site.
Informações: (91) 4009-8750
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