Com um simples smartphone nas mãos, o artista visual Gabriel Cardoso, de 26 anos, jurunense e negro, descobriu um universo de possibilidades para estimular a criatividade que já era expressada por ele com canetas e tintas. E foi nesse ambiente virtual, antes até um pouco rejeitado por Gabriel, que ele criou várias figuras que foram impressas em tecido e estão, ao lado de três pinturas em acrílica sobre tela, na exposição “Futuro Preto”, que abre hoje, às 19h, e pode ser visitada até 15 de outubro, no Centro Cultural Gueto Hub, no bairro do Jurunas, em Belém.
O objetivo da mostra experimental, contemplada pela Lei Aldir Blanc, é fazer com que as pessoas, principalmente as crianças, tenham contato com a negritude por meio da arte, a partir dos personagens. “Que tenham esse acesso diferente de mim, que me descobri negro com o racismo”, comenta Gabriel. Além disso, “é aproximar a arte da comunidade, atraindo jovens e adultos”, ressalta.
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Ao todo, são três pinturas em acrílica e nove tecidos com artes digitais impressas que estão em exposição. Gabriel brinca com cores, incluindo “vários tons de pele de pessoas negras”. Segundo ele, os desenhos nos tecidos foram produzidos no celular com a ajuda de um aplicativo que conheceu no momento em que estava em dificuldades e que acabou gerando renda a ele. “Eu estava desempregado, sem condição nenhuma de comprar material. O celular era a única ferramenta que tinha no momento. E, graças ao edital da lei, consegui comprar um computador para mim. Agora sim, estou ganhando e tendo retorno”, comemora.
A exposição traz uma visão um tanto futurista de como Gabriel enxerga ele mesmo e a própria vida, e para descrever isso, ele usa o termo cyberpunk, um gênero da ficção que é uma das principais linguagens dentro da arte dele, em especial nesse projeto. “É o futuro que pretendo ver: que possam surgir pessoas com seu protagonismo, de se reconhecerem como pretos, sim, mas que acreditem que chegarão a lugares altos”.
Ao seu lado no projeto, Gabriel conta com o artista Igor Oliveira, curador da exposição, também do bairro do Jurunas, e Gustavo Alves, fotógrafo do evento. A escolha desses profissionais e o espaço da exposição têm um objetivo maior. “Meu projeto é voltado para a comunidade jurunense. Desde o curador, artista expositor, fotógrafo e local, são do Jurunas. Quero que as pessoas vejam que é possível, sim, chegar onde quiser e realizar seus sonhos”, reforça.
O jovem já trabalha como artista visual há seis anos, utilizando a técnica mista em seus trabalhos, com lápis de cor, caneta esferográfica preta, caneta hidrocor e nanquim. Ele já ministrou oficinas de artes visuais em alguns espaços em Belém, e a profissionalização veio após um processo de traumas, onde ele atribui à arte a principal responsabilidade pelas mudanças e descobertas de um novo caminho.
“Estou aqui por causa dela [arte] e quero passar isso para outros. Essa exposição representa vida, porque além de ter me resgatado de vários modos, como da depressão, também me ajudou espiritualmente e financeiramente. Vejo vida nisso”, diz o artista.
VISITE
Exposição “Futuro Preto”
Abertura; Hoje, às 19h
Visitação: Até 15 de outubro, de segunda a sábado, das 9h às 18h
Onde: Centro Cultural Gueto Hub (Tv. Quintino Bocaiúva, 3729, entre Roberto Camelier e Honório José dos Santos - Jurunas)
Quanto: Entrada franca
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