Dona de uma vasta obra literária - com livros como “Zeus ou a menina e os óculos” (1988), “Velas, por quem?” (1991), “O lugar da errância” (1994), “Quarto de hora” (1994) e “Céu caótico” (2005), este último considerado um livro póstumo -, a escritora paraense Maria Lúcia Medeiros, se estivesse viva, completaria hoje 80 anos de vida. A data não passará em branco, pois a Fundação Cultural do Pará, por meio da Casa da Linguagem, lança hoje, às 19h, durante uma live em seu canal no YouTube, uma programação especial em homenagem à escritora bragantina, que morou e produziu em Belém, até sua morte, em 2005.
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“Essa programação de hoje é um start para o Ano Maria Lúcia Medeiros. Serão várias ações a partir de maio. A gente não poderia deixar essa data passar em branco por conta da importância que ela tem, primeiro para a existência da Casa da Linguagem - ela e Max Martins, durante mais de quinze anos, deram vida para a Casa, no sentido em que eram os dois orientadores da metodologia, das programações culturais. A Casa se tornou uma referência para jovens escritores, que tinham nela e no Max duas referências da literatura contemporânea paraense”, destaca Elaine Oliveira, mestre em Estudos Literários e técnica em Gestão Cultural na área de Letras da Casa da Linguagem.
Entre os anúncios marcados para a comemoração do aniversário de nascimento da escritora está a doação da bibiblioteca dela à Casa da Linguagem, feita pela família. “Esse acervo vai ficar na Biblioteca Francisco Paulo Mendes, da Casa da Linguagem. Nessa biblioteca tem uma sala de leitura que a gente vai nomear como Maria Lúcia Medeiros, e essa sala vai receber o acervo dela. Inclusive os filhos dela estão patrocinando a adequação desse espaço, para que fique aberto ao público e disponível para consultas”, adianta Elaine.
“A importância primordial da doação (que está em processo) é garantir que o público - leitores, pesquisadores, alunos, professores - possa ter acesso ao repertório formador de (e construído por) uma escritora contemporânea importante para a literatura brasileira produzida no Pará. Fora isso, Maria Lúcia Medeiros contribuiu de maneira definitiva para a concepção da Casa da Linguagem, onde atuou por muitos anos desde sua fundação”, destaca o fotógrafo e professor Mariano Klautau Filho, um dos filhos da escritora.
“A instituição se encaixa perfeitamente com o perfil e o projeto que a escritora tinha como artista e professora”, completa o fotógrafo, que participa da live de hoje, junto aos gestores e técnicos da Biblioteca Arthur Vianna e Casa da Linguagem.
Sobre o acervo, Mariano explica que não se trata de uma biblioteca muito extensa, “mas com foco e preciosidades em alguns universos como a literatura de escritoras em língua inglesa, incluindo uma seção muito valiosa com a obra de Virginia Woolf”. “Abrange também literatura brasileira contemporânea e títulos sobre teoria e história da literatura no Brasil, seu universo de formação, incluindo também estudos sobre literatura infantojuvenil, que foi a disciplina a que ela dedicou a vida como professora da Universidade Federal do Pará”, acrescenta Mariano.
Mostra e seminários na agenda
A agenda que celebra a autora se estenderá ao longo do ano e prevê, além da inauguração da sala na biblioteca da Casa da Linguagem com seu acervo, palestras, seminários e exposição com objetos pessoais de Maria Lúcia Medeiros.
“Como a gente ainda não vai poder voltar no presencial, a gente vai fazer ainda no primeiro semestre a inauguração dessa sala até final de maio. O processo é de seleção dos livros, de higienização, e a equipe da Biblioteca Arthur Vianna, do Centur, vai receber esse acervo, tratá-lo para ser disponibilizado a partir de maio para junho, porque é um processo todo de catalogação, organização desse acervo. A sala [na Casa da Linguagem] está sendo estruturada para recebê-lo. No segundo semestre, vai ter uma exposição sobre a vida e obra dela, além de um seminário sobre os temas da obra dela”, conta Elaine Oliveira.
O site da Fundação Cultural do Pará irá disponibilizar também, a partir de hoje, vídeos de um minuto e meio com depoimentos de escritores homenageando Maria Lúcia Medeiros, lendo fragmentos de textos da autora, falando da importância dela para a literatura e a cultura da região.
Maria Lúcia Medeiros nasceu em Bragança em fevereiro de 1942. Morou nesta mesma cidade até os 12 anos, quando se mudou com parte da família para a capital paraense. Anos depois, graduou-se em Licenciatura Plena em Letras, pela Universidade Federal do Pará (UFPA), onde mais tarde veio a se tornar professora e pesquisadora.
Um de seus primeiros destaques como docente foi ter se tornado a primeira professora de Redação e de Literatura Infantojuvenil do Curso de Letras da UFPA. Era também uma grande colaboradora da Universidade da Amazônia (Unama).
Segundo a biógrafa da escritora, Fátima Amador, “a trajetória de Lúcia Medeiros sempre esteve ligada à arte da palavra, seja na sua paixão pela leitura, seja na sua paixão pela escrita. Participou de colóquios dentro e fora do país divulgando seus trabalhos. São seis livros de contos e uma novela, ricos em temas comuns à humanidade - o amor, a morte, os sonhos. Tudo isso, afirma seu papel de escritora e sua importância para a Literatura Paraense”.
Além dos livros lançados, ela teve um dos seus contos, “Chuvas e Trovoadas”, adaptado para o cinema em um curta-metragem dirigido pela cineasta Flávia Alfinito. O filho Mariano também dirigiu “A Escritura Veloz” (1994) sobre a obra de Maria Lúcia.
Alguns anos antes de sua morte, a escritora foi diagnosticada com uma doença degenerativa, a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Faleceu no dia 8 de setembro de 2005.
“Eu e meus irmãos, Mauro, Rodolfo e Ulisses, sempre tivemos muito orgulho da trajetória de nossa mãe como escritora e professora. Creio que após guardar seus livros, procurando manter sua integridade desde 2005, ano de seu falecimento, percebemos que é a hora de sua biblioteca se tornar um bem público para contribuir na formação dos futuros profissionais dedicados à arte da literatura”, diz Mariano.
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