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CULTURA

Relançamento do livro e podcast “Mulheres do Mar”

Erika Morhy lança em Belém livro de memórias suas e de mulheres ligadas à história de Salinas

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Imagem ilustrativa da notícia Relançamento do livro e podcast “Mulheres do Mar” camera A pescadora artesanal Marina dos Santos Monteiro é uma das mulheres que registram suas memórias e histórias no livro. | Erika Morhy

A jornalista Erika Morhy, neta de Hassen Morhy (1904-1984), um libanês da cidade de Deir ‘Ammar que migrou do litoral Mediterrâneo, no Oriente Médio, para a cidade de Salinas, na costa Atlântica da Amazônia, decidiu reunir estas memórias familiares à de cinco mulheres ligadas ao mar de Salinópolis no livro e podcast “Mulheres do Mar: Relatos Biográficos de Salinas a Deir Ammar”. E o encantamento que a obra gerou em seus leitores levou a um relançamento, que ocorre quarta-feira, 9, às 19h, no Sesc Ver-o-Peso, em Belém.

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“Quando houve o lançamento lá [em Salinas], elas participaram, e teve toda uma movimentação muito feliz, com todas muito surpresas inclusive, então seria bacana fazer uma rota com elas de bate-papo nas cidades. São histórias que às vezes parecem banais, mas têm poesia, beleza, até na prática cotidiana delas, mesmo com os desafios que passam. E às vezes elas mesmas não reconhecem isso. Quando conversei com a Dona Edna, do carimbó, ela disse: ‘passo tanta dificuldade que nem pensava que minha história no papel ia ficar tão bonita assim’”, relata Erika.

Edna Maria Alves Dias, neta criada como filha pelo Mestre Palinha (1927–2016), fundador do carimbó O Popular, dá continuidade não só ao carimbó, mas mantém vivos também o Boi Divino, os pássaros Tem-Tem e Andorinha, as folias de São Benedito e a ladainha aos mortos. Antônia Lúcia Celeiros de Melo, outra mulher ouvida no projeto, é uma parteira com saberes finamente herdados de sua avó e sua mãe. Dona Zélia Maria Saraiva é uma benzedeira com profundo respeito à intuição e crença divina. Enquanto Maria do Socorro da Costa Rodrigues e Marina dos Santos Monteiro exercem a pesca artesanal com esmero para o sustento próprio e para a alegria de muitos turistas de Salinas.

Dimensionar neste projeto a força do trabalho delas é um meio para a manutenção de seus ofícios, o reconhecimento da comunidade sobre o trabalho desenvolvido por elas e seu bem-estar. “Elas são senhoras, já sem tantas projeções de futuro, e é bonito ver que elas ficam felizes e se olham de um outro lugar”, celebra Erika.

O livro é confeccionado artesanalmente, e a iniciativa de mais exemplares foi da editora Edições 1/4. “Eles me disseram que o livro foi muito procurado. Engraçado isso porque fiz o podcast, está no Spotify, e gravei em um pendrive para cada uma das mulheres com todos os episódios, já que algumas são analfabetas. Até pensei que o podcast seria mais especial porque elas gostam de ouvir rádio, a transmissão de conhecimento delas ocorre pela oralidade d. Mas elas têm um apego enorme à obra física, tudo ganha uma dimensão mais bonita pra elas”, comenta Erika. Serão mais 50 exemplares à venda - os 100 primeiros, financiados com recursos da Lei Aldir Blanc, foram distribuidos gratuitamente nas escolas e comunidade.

Além disso, durante a programação no Sesc, a jornalista irá exibir um vídeo com fotografias que produziu em Salinas, alguns de seu álbum de família, com trechos do podcast. O vídeo de 12 minutos pretende uma espécie de imersão para o público na voz dessas mulheres. “Ele é como fosse a leitura de um livro que vou inserindo sons ambiente, sons da maré, de pássaro, das ruas onde elas vivem, carro som passando, cascalheiro… As pessoas podem mergulhar até no ritmo de fala”, cita.

“Essas mulheres que conheci ano passado, descortinam, me deslocaram do meu local de compreensão de vida, de mulher na sociedade. Ao mesmo tempo que me apresentaram situações novas, me fizeram ver reprodução de coisas como submissão pela força do homem, violência mesmo que passaram ao longo da vida, ainda passaram por muita dificuldade… E ao mesmo tempo tem beleza, e a gente pode ver na nossa vida essa beleza também. Me chamou atenção a diferença de organização delas, estar em coletivos como Dona Edna, numa associação comunitária, isso é muito saudável pra ela, pras outras mulheres. As mulheres que vivem apenas na sua rede de vida privada têm mais dificuldade de superar os desafios. Nós, mulheres, precisamos valorizar formas de nos encontrarmos, unirmos, nos auxiliarmos”, conclui a jornalista.

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