Projeto antirracista desenvolve atividades no Marajó

Da união de duas mulheres pretas, nasceu um projeto antirracista para beneficiar e conscientizar várias crianças e adolescentes no município de Santa Cruz do Arari, no Marajó. A psicóloga Paula Sardinha e a enfermeira Dennyse Sousa criaram o projeto Identidades Marajoaras, com o objetivo incentivar crianças e adolescentes a compreenderem a importância de sua própria identidade, conhecer melhor os direitos humanos, buscar agir e fomentar ideias em relação ao reconhecimento de território, entre outras temáticas sociais.

O projeto surgiu a partir da observação da falta de mais políticas públicas e iniciativas que compreendessem as necessidades de meninas pretas na cidade e na região. Até novembro de 2022, a proposta desenvolveu oficinas com temas como “Identidade marajoara - atividade: o amor não tem raça?”, que foram realizadas em espaços educacionais na cidade.

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A ação contemplou ainda garotas pretas com cestas básicas e absorventes, fortalecendo a luta contra a chamada pobreza menstrual, isto é, a falta de condições mínimas de higiene menstrual de forma adequada, algo que infelizmente ainda é realidade para meninas e mulheres em vulnerabilidade social. Para amenizar essa necessidade, foram entregues kit de higiene e cestas básicas.

“Em decorrência do preço dos alimentos, do desemprego e das dificuldades encontradas em Santa Cruz do Arari, atrelamos a participação das meninas ao recebimento de cesta básica e absorvente, fazendo paralelo da pobreza menstrual, que é um dos temas que discutimos com as adolescentes”, explica Paula, que também é psicóloga social e atua no Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) do CRAS Ir. Ana Tomelin em Santa Cruz do Arari.

Em todas as discussões realizadas, também foram utilizadas músicas como foco do debate, para fomentar a discussão entre arte e cotidiano. Para Jamily Bandeira, participante do projeto, a experiência foi enriquecedora, pois abordou sobre racismo e as suas múltiplas relações. "O projeto não serviu apenas para mim, mas também para outras meninas, pois tem muitos assuntos que várias garotas não sabem e é muito importante debatê-los", afirma a adolescente marajoara.

Ainda segundo a integrante da iniciativa, ser mulher na região do Marajó é compreender que muitas meninas e mulheres sofrem sem amor e também por conta do racismo e complementa: "as mulheres não deveriam ter medo de enfrentar ser quem elas são", enfatiza.

IDENTIDADE MARAJOARA E ANTIRRACISTA

O projeto, financiado pelo Fundo Elas, através da Rede Ciberativistas Negras Pará, também busca enfatizar a importância de ser e se reconhecer enquanto criança e adolescente preta, visto que o arquipélago do Marajó possui significativa quantidade de moradores pretos.

"As pautas foram focadas em questões raciais. Este tema sempre foi pertinente nas nossas vivências, nós duas como mulheres negras, atuamos constantemente para combater os impactos do racismo na vida de mulheres e meninas", finaliza Dennyse, que é enfermeira em São Sebastião da Boa Vista, na região do Marajó.