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UM ROCK MUITO DOIDO

Rock 24 Horas: 31 anos do festival que é história em Belém

A praça Waldemar Henrique foi o cenário do maior pesadelo dos mais de 10 mil fãs de rock presentes na madrugada de 25 de abril de 1993

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Imagem ilustrativa da notícia Rock 24 Horas: 31 anos do festival que é história em Belém camera O projeto, que dava esperança aos músicos da capital, descobriu um fim desastroso e prematuro | Ary Souza/Reprodução

Um festival de rock gratuito, no centro de Belém, com 24 horas de música, sem parar, consegue imaginar? Ele foi realidade, pouco mais de 30 anos atrás!

O Festival Rock 24 Horas foi um pilar da música paraense que durou três edições e terminou com uma das maiores catástrofes que a capital paraense já viu.

Organizado pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult), o projeto tinha o objetivo de, além de permitir um entretenimento gratuito à população paraense, garantir que bandas de rock regionais construíssem seu nome com o público.

"Tocar no Rock 24 Horas era um marco pras bandas da época porque era o maior festival que nós tínhamos em Belém, e eu acredito que no Norte do país. Tinha uma grandiosidade que a gente nem imaginava na época", disse Jayme "Katarro", da Banda Delinquentes, que tocou nas três edições do festival.

As duas primeiras edições do festival aconteceram na Praça da República. A terceira, no entanto, aconteceu na Praça Waldemar Henrique, conhecida, na época, como Praça Kennedy.

O festival começou na tarde de sábado, dia 24 de abril de 1993, com público de dez mil pessoas, e iria até as 21 horas de domingo, mas foi encerrado prematuramente às 3 horas da manhã de domingo, por conta de uma pancadaria generalizada.

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A pancadaria teria começado durante o show da banda Jolly Joker, quando um fã tentou subir no palco e foi agredido e atirado no meio do público por seguranças da empresa Gang Mexicana, contratada para o evento.

O vocalista da banda, então, teria pedido para os seguranças pararem com a agressão, o que levou o público a se revoltar contra os seguranças, e aí começou o pandemônio.

Se aproveitando da confusão, gangues de rua que, antes, estavam misturadas no meio do público ou em pequenos focos de violência nos arredores da praça, fecharam o cerco e se viram livres para fazer o que quisessem..

O policiamento, que já era escasso desde o início do evento, segundo os relatos, foi a zero um pouco antes da confusão, quando os policiais que estavam fazendo rondas começaram a receber xingamentos do público, e foram embora.

"Eu tinha prova no dia seguinte, então eu saí no meio do show do Jolly Joker. E aí eu terminei a prova e encontrei com um amigo meu que ia tocar no domingo. Quando a gente chegou lá na praça, parecia que tinham jogado uma bomba atômica lá. E as pessoas atônitas. Ninguém sabia, não tinha rede social, não tinha telefone celular. As pessoas chegavam e ninguém sabia o que estava acontecendo", contou o jornalista Vladimir Cunha, autor do livro "Balanço do Rock: a mais tribal de todas as festas", lançado em 2020, que tem um capítulo específico para o fatídico dia.

O relato de Jayme não foi muito diferente. O segundo a tocar naquela noite, ele e a banda se distanciaram do palco para ficar com amigos e só perceberam uma coisa diferente quando a música parou de tocar.

"Quando a gente foi se aproximando que a gente foi ver que o festival tinha parado e estava uma cena de um desastre, uma cena apocalíptica ali na praça. Muita coisa destruída, o palco detonado, tinha gente ferida. Estava uma cena de guerra".

Para Vladimir, a localização também colaborou para a situação. "A praça [da República] é um lugar em que tu sentas na grama. A gente acampou no segundo. Tu podes dar uma volta, tem árvore. A Waldemar Henrique é um negócio horroroso. Aquela praça sempre foi feia, uma praça que ninguém ia, uma praça ruim".

"A praça Kennedy era um negócio de concreto, feio, não tinha lugar em volta. Naquela época não existia Estação das Docas, aqueles galpões eram abandonados. E o tempo todo tinha briga, o tempo todo tinha gente correndo e o tempo todo estavam batendo em alguém", completou.

Os espaços ao redor da Praça Waldemar Henrique são, de fato, recentes. A Estação das Docas foi inaugurada somente em 2000. O Porto Futuro foi idealizado em 2017, pelo Ministério da Integração Nacional, à época cabeceado pelo atual governador Helder Barbalho, e inaugurado apenas em 2020.

Em seu livro, Vlad apontou que aquele acontecimento sepultou um grande momento cultural que a cidade de Belém vivia na época, com a possibilidade de se tornar um grande polo criativo da música brasileira. "Na violência das gangues, na chuva de pedras e garrafas e na destruição física e simbólica de um festival que, até aquele momento, não havia registrado nenhuma ocorrência grave. E no fim de um dos períodos mais ricos da cultura urbana de Belém do Pará. Tudo isso veio ao chão".

O resultado daquela noite? Mais de 30 hospitalizados, pelo menos 70 detidos, e o fim de uma cena que, na época, estava no auge.

Cada lado buscava apontar seus culpados. Para a polícia, a culpa era da organização do evento, que não fez as devidas solicitações de policiamento. Para a organização, a culpa era da equipe de seguranças, a Gang Mexicana. O proprietário da empresa, por outro lado, culpava a banda Jolly Joker, por ter incitado o público.

Além de encerrar o grande período cultural de Belém, o festival também trouxe à luz um problema que, segundo o público, foi o causador de tudo: as gangues de rua.

Em entrevista a um jornal da época, o vocalista da banda "Insolência Públika", Regi, apontou que o problema das gangues já era grande nas periferias, mas os jornais não estampavam a violência.

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Vladimir Cunha, por sua vez, afirma que as gangues estavam em todos os lugares. "Isso era muito comum naquela época, muito comum mesmo. Principalmente no CAN, no Centur e na praça. Mas nos shows eles respeitavam. Só que no terceiro, isso não aconteceu".

O Secretário de Cultura, Guilherme de La Penha, fez uma coletiva de imprensa na segunda-feira após o fiasco, dia 26 de abril de 1993, 31 anos atrás, anunciando o fim, de uma vez por todas, do Rock 24 Horas.

Hoje, Belém tem outros festivais como o Se Rasgum e o Psica, enormes em público e atrações, mas carece de eventos gratuitos com essa grandiosidade, talvez por medo da história se repetir.

Por fim, o Rock 24 Horas ficou apenas na memória daqueles presentes, e em uma única gravação.

Veja show da banda Adrenalina na segunda edição do Festival:

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