![Reginaldo Rossi, falecido em dezembro de 2013. Seu aniversário passou a ser considerado o Dia Nacional do Brega entre os amantes do estilo. Imagem ilustrativa da notícia Dia Nacional do Brega: o legado e celebração de uma cultura](https://cdn.dol.com.br/img/Artigo-Destaque/890000/640x360/reginaldo-rossi_00894645_0_-3.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F890000%2Freginaldo-rossi_00894645_0_.jpg%3Fxid%3D3008443&xid=3008443)
“Agora eu quero ver se tem algum corno que tem coragem de subir aqui no palco pra cantar ‘Garçom’ comigo”. Foi com essa frase que, em 26 de abril de 2013, Reginaldo Rossi puxou o maior sucesso de sua carreira para o público paraense que lotava uma casa de shows na avenida Augusto Montenegro para ver o que seria a última apresentação do cantor na capital paraense.
A frase poderia soar como uma ofensa ou deboche se fosse falada por outra pessoa. Mas vindo de Reginaldo, as palavras tinham um tom franco de acolhimento, com um leve ar de gozação, como se fossem um convite feito por um amigo, sentado em uma mesa de bar, pronto para ouvir e entender os seus lamentos, pois ele também tinha passado pelo mesmo.
Três homens sobem no palco. “Para cantar essa comigo, só se for corno. Você é corno?”, me pergunta Reginaldo. “Certamente”, respondo, sem entender direito como fui parar ao lado dele. Quando me dou conta, já estou fazendo um canto desafinado na frente de milhares de pessoas, enquanto o “Rei” acena positivamente, com um copo de uísque em uma mão, um cigarro na outra.
Talvez para muitos gostos, Reginaldo Rossi não tenha sido o melhor cantor do Brasil, mas os amantes do Brega não podem discordar que foi o maior.
Indiscutivelmente o nome mais conhecido do estilo, o pernambucano levantou a bandeira do ritmo para os quatro cantos do país. Dono de um carisma sem igual, era figura recorrente em todas as rádios, em todos os canais de TV.
Nascido em 14 de fevereiro de 1943, no dia de São Valentim, data que é celebrado o Dia dos Namorados em diversos países, Reginaldo cantou o amor, paixão e as traições da forma mais brega possível - embora nunca cafona - até se tornar um personagem do imaginário popular nacional. Por isso, para amantes do estilo, nesta data se celebra o Dia Nacional do Brega.
![Em Belém, o brega não tem restrição de hora, lugar ou ocasião. Simplesmente é o que é.](https://cdn.dol.com.br/img/inline/890000/767x0/brega_00894645_0_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol.com.br%2Fimg%2Finline%2F890000%2Fbrega_00894645_0_.jpg%3Fxid%3D3008445%26resize%3D380%252C200%26t%3D1739581926&xid=3008445)
UM ROMANCE BREGA
A data foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, proposta pelo deputado federal Pedro Campos (PSB-PE), avançando para o Senado. Ao elaborar o projeto, o autor classificava o brega como “uma potência cultural, mas por vezes é estigmatizado e marginalizado”, e que por isso era importante “dar voz ao movimento, impulsionar debates e expandir ainda mais o fomento de políticas públicas que coloque o brega e toda sua cadeia cultural e econômica em lugar de destaque no cenário nacional”.
A data, entretanto, ainda não se tornou uma celebração no calendário nacional. Recife e Pernambuco possuem leis que institucionalizam o 14 de fevereiro como Dia da Música Brega, mas para o resto do país, pelo menos por enquanto, a comemoração ocorre apenas de forma não oficial, como se fosse o amor safado várias vezes cantado pelo Rei. Pernambuco era a sua parceira, o Brasil a sua amante.
Essa relação de amor com o público começou ainda na década de 60, com passagens pelo rock, Jovem Guarda, entrando no brega pelos anos 70 com o seu primeiro sucesso, Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme, até lançar em 1987 o seu maior hit, “Garçom”, sobre o “caso comum e banal” de um homem que vai chorar a notícia sobre o casamento de seu grande amor.
“Homem acha que pode trair a mulher e nada acontece. Eu era um cara assim, traía minha mulher várias vezes. Aí, um dia, cheguei em casa e sabe quem estava na minha cama? O Ronaldinho”, brincou o cantor antes de iniciar a música em seu CD ao vivo lançado em 1998, que trazia a versão que explodiu em todas as rádios do país e consagrou oficialmente o nome do cantor.
![Cleide Morais, a Rainha da Saudade: a memória da realeza marca o Dia do Brega no Pará](https://cdn.dol.com.br/img/inline/890000/767x0/Cleide-moreas_00894645_1_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol.com.br%2Fimg%2Finline%2F890000%2FCleide-moreas_00894645_1_.webp%3Fxid%3D3008446%26resize%3D380%252C200%26t%3D1739581926&xid=3008446)
NO PARÁ, O BREGA É ASSUNTO SÉRIO
Se no cenário nacional Reginaldo Rossi é celebrado como rei, no Pará o estilo tem o reconhecimento merecido. Desde 2024 o Estado possui no calendário oficial o Dia da Música Brega. A data, entretanto, é celebrada no dia 26 de julho, em homenagem à outra realeza da música: Cleide Moraes, a Rainha da Saudade, vítima de uma colisão de trânsito em 2020, ao retornar de um show em Mosqueiro.
Marcada na história da cultura paraense por seus trabalhos com música romântica, boleros e bregas, Cleide era aclamada pelo público e seu legado ficou eternizado no patrimônio cultural do Estado, junto com o estilo musical que ela representou grandiosamente. “É deveras louvável que se estabeleça uma data comemorativa para um movimento artístico de notável importância para a constituição da cultura e identidade paraense e tão presente no cotidiano da população”, afirmava o projeto de lei aprovado pela Assembleia Paraense.
![Gaby Amarantos com seu Grammy Latino, provando que a música feita no Pará há duas décadas é sucesso mundial.](https://cdn.dol.com.br/img/inline/890000/767x0/Gaby-grammy_00894645_2_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol.com.br%2Fimg%2Finline%2F890000%2FGaby-grammy_00894645_2_.webp%3Fxid%3D3008447%26resize%3D380%252C200%26t%3D1739581926&xid=3008447)
Porque o brega no Pará é assunto sério. Sempre foi. Em 2023, Gaby Amarantos ganhou o Grammy Latino de “Melhor álbum de música de raízes em língua portuguesa” com seu trabalho “Tecnoshow”, superando nomes estourados e consagrados como João Gomes e Almir Sater. Um prêmio especialmente importante por ser um resgate das músicas que ela tocava com sua antiga banda, há cerca de 20 anos, emitindo um atestado ao mundo de que aqui se faz música boa, e se faz há muito tempo.
O brega é celebração de uma cultura. É expressão de um sentimento. É a música que nos faz dançar no salão, é a marcante que puxa a lembrança que nos faz chorar na mesa de bar, é a declaração de amor eterno ou proibido. É a sexta-feira, como hoje é e como todo Dia do Brega deveria ser. É dia de tomar todas, se embriagar. E se eu pegar no sono, me deite no chão.
*Gustavo Dutra é jornalista, editor sênior do DOL e, segundo o Reginaldo Rossi, um corno corajoso o suficiente para cantar com ele no show.
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