A noite do domingo passado era para ser apenas mais uma de glamour e reconhecimento das melhores produções do ano da indústria cinematográfica. Contudo, o Oscar 2022 deixou aos telespectadores de todo o mundo não apenas o brilho das estatuetas dadas anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, nos Estados Unidos, mas lições relacionadas à saúde e ao bem-estar físico e mental.
A careca da atriz Jada Pinkett-Smith virou piada para o apresentador Chris Rock, que não sabia que a esposa do ator Will Smith sofre de alopecia, um problema que causa falhas no couro cabeludo. O desconforto evidente no rosto de Jada foi vingado pelo maridão que, antes de ganhar sua estatueta, invadiu o palco para desferir um tapa no comediante, irritado com a brincadeira sobre a condição da mulher. A torta de climão, servida para o mundo, mostra que as celebridades também são mortais e sofrem com problemas como qualquer um de nós, como a alopecia e o pavio curto.
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Oscar 2022: Will Smith e Chris Rock fizeram as pazes
ALOPECIA
A médica dermatologista especialista em tricologia, Erica Baptista, esclarece sobre a alopecia, condição clínica que gerou curiosidade mundial e que é bastante comum por sinal. “Alopecia é o termo genérico que usamos para nos referir a queda dos cabelos, independente da causa”, cita a colaboradora do Ambulatório de Doenças do Couro Cabeludo e dos Cabelos do Serviço de Dermatologia da Universidade do Estado do Pará (Uepa).
“Podemos fazer uma analogia com a febre, que sinaliza que algum processo inflamatório/infeccioso está acontecendo, mas é necessário identificar a causa - se pneumonia, infecção urinária, gastroenterite, lupus, alguma neoplasia etc…- para poder estabelecer o tratamento correto”, continua a especialista.
Mas, afinal, o que causa o problema de Jada Smith? “Muitas condições clínicas podem gerar a queda dos cabelos, como deficiências nutricionais, uso de medicações, hormônios, estresse emocional intenso, dentre outras”, lista Erica. “Mas existem também doenças que acometem o couro cabeludo que podem ser de causa genética, inflamatória, hormonal, autoimune e, até mesmo, induzidas”.
Segundo Erica, “a perda dos cabelos pode ser difusa, com rarefação dos fios, ou em placas, onde podemos visualizar áreas desnudas no couro cabeludo”, diz. “Somente as alopecias induzidas, como por exemplo a Alopecia de Tração - gerada pela tração contínua e prolongada em determinada área do couro cabeludo, provocada por extensões capilares, tranças e outros penteados-, podem ser prevenidas com a suspensão dos fatores causadores”, detalha.
Segundo a dermatologista, o tratamento depende do tipo de alopecia que o paciente apresenta. “Precisamos tratar a causa do problema e, para isso, um diagnóstico precisa ser feito”, conta. “Se formos levar em consideração a Alopecia Androgenética (calvície), proporcionalmente afeta mais os homens. Já a Alopecia Frontal Fibrosante é uma condição que afeta as mulheres em quase a totalidade dos casos”.
A médica lembra que a faixa etária é muito variável entre os tipos de alopecia. “A Alopecia Areata, por exemplo, é uma condição autoimune e que pode se manifestar desde a infância”, pontua. “Por isso, é importante que o diagnóstico seja feito. Cada tipo de alopecia tem um mecanismo distinto, pode ser influenciada por diferentes fatores e estar direta ou indiretamente relacionada com outras condições clínicas”.
Por fim, a especialista lembra que o “mais importante é entender que muitas são as patologias que podem estar envolvidas na perda dos cabelos, com características, evoluções e tratamentos distintos. Por tanto, para que seja realizado o tratamento mais eficaz para cada situação, é necessário antes buscar o diagnóstico correto com um dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia”.
CONTROLE EMOCIONAL
Alopecia esclarecida, os “Academy Awards” trouxeram à tona a questão do controle emocional. No caso do “tapagate”, são três questões a se considerar: a piada que fere de Chris Rock; o desconforto de ser ridicularizada perante uma audiência mundial, como aconteceu com Jada Smith; além da fúria de Will Smith, que partiu para a agressão. Situações que o psicólogo clínico e psicanalista Lucas Dourado busca explicar.
Sobre a dificuldade de controlar os impulsos, o especialista pontua que “os afetos são próprios da nossa condição humana, lidamos com determinadas situações, acionamos respostas rápidas, estamos atentos para o que está acontecendo ao nosso redor”, ilustra. “Assim, esses afetos envolvem um sistema de significados que vão sendo construídos a partir das nossas experiências, desde a infância. Ou seja, nossos vínculos iniciais, visão de mundo, significado pessoais, cultura, temperamento, experiências, tudo terá influência em como reagimos a situações estressantes para nós”, continua. “Assim, podemos desenvolver modos de enfrentamentos funcionais ou disfuncionais para lidar com determinadas situações”.
Lucas Dourado detalha como se deve agir, portanto, ao ser contrariado ou ouvir algo desagradável. “É preciso aprender a se relacionar com o outro. Ao ser contrariado ou ouvir algo que desagrada, é preciso fazer uma seleção da situação, como quem se questiona ‘onde isso atravessa em mim para que me faça sentir isso?”, exemplifica. “Ao tomar consciência sobre isso, é possível repensar a forma como reagimos ao utilizar-se das estratégias possíveis, seja de afastamento ou enfretamento dessas situações”.
Ser um ‘pavio curto’, como Will Smith demonstrou ser na noite do Oscar, tem seus prejuízos também para os simples mortais. “Ser ‘pavio curto’ diz muito da história desse sujeito, é uma forma de lidar com as suas questões, sentimentos e afetos. Quanto aos prejuízos, tanto o excesso quanto a falta trazem sofrimento para o sujeito e suas relações sociais”, cita Dourado. “Entretanto, é preciso estar atento para os casos em que o sujeito possui pouco contato com as suas emoções. Assim, ao invés de contornar o excesso, precisamos aumentar o contato com as emoções e as sensações”.
DESCONTROLE
E como lidar com pessoas que perdem facilmente o controle emocional? “É preciso verificar se é possível ter uma conversa produtiva naquele momento. Caso contrário, o ideal é encontrar juntos o momento mais adequado para que possam ambos exporem suas emoções, pensarem em estratégias conjuntas para lidar com o que quer que tenha levado ao conflito”, sugere.
Lucas analisa o tapa dado por Smith. “Essa situação em específico nos alerta a impulsos não contidos referentes às diversas situações de violência as quais ele passou”, pontua. “Assim, favorece que uma situação saia do plano da racionalidade e se transforme em um ato. Toma-se um comportamento agressivo para causar dor no outro, a dor que o mesmo causou nele e em sua esposa”.
Sobre os traumas que a piada infame de Rock pode trazer na vida de Jada, o psicólogo reitera que “estamos falando de uma mulher negra, passando pelo enfrentamento de um adoecimento, isso já diz muito da situação”, destaca. “Assim como as reações das pessoas em relação a tudo isso também. O humor precisa ser divertido para todos, se traz algum incômodo ao outro ou o riso traz desconforto frente a uma situação de existência do outro, deixa de ser humor. Temos que rir uns com os outros e nunca uns dos outros”.
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