Com a introdução de novos elementos, entre arranjos e sintetizadores, além de letras atualizadas, o tecnobrega se reinventa. No período de pandemia, quando havia muitas incertezas, os artistas utilizaram as redes sociais e se valeram de encontros virtuais para continuarem suas atividades. Alguns anos depois daquele tempo conturbado, a percepção de quem vive do mercado fonográfico é que o tecnobrega passa por uma nova fase, com um aumento de pessoas nas festas de aparelhagem dançando ao som do ritmo e a efervescência de novas produções feitas por DJs.
David Sampler atua com produção musical há 14 anos e tem acompanhado, enquanto DJ, o fenômeno que ocorreu no mercado da dança no Pará, que ele acredita ser fruto de toda uma construção da mídia, especialmente com o quadro “Dança dos Famosos”, no programa “Domingão com Huck” (Globo), que teve um representante local como vitorioso, o professor de dança Rolon Ho. David teve essa constatação ao observar o aumento de frequentadores na casa de show Império e a intensificação dos conteúdos nas redes sociais.
O DJ participa de um fã-clube chamado Potentes do Brega que tem 100 integrantes e realiza ensaios de tecnobrega. “A gente estava tentando resgatar a essência do tecnobrega dos anos 2000, fazendo uma programação uma vez por semana nos ensaios dos Potentes do Brega. As pessoas passaram a ir com mais frequência e, além de dançar, elas rememoram aquelas músicas, que são dos anos 1970 e 1980. São no ritmo do midback, que a gente remixa com as batidas do tecnobrega, fazendo releituras e trazendo um toque paraense para essas canções”, explica.
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Mais ouvidas
Nas festas do fã-clube Potentes do Brega, centenas de pessoas lotam os espaços. “Tem advogado, médico, bailarinos, influenciadores. Acredito que consegui botar no ouvido da galera que aquela música dava para dançar e que ela é boa. Uma delas recebeu o meu nome, ‘Sampler Doidão’, que é uma das mais ouvidas. Outra é a música ‘Batidão 2’, duas de umas cinco que não têm letras, são só instrumentais. Tenho uma agora que é das mais executadas, a música ‘Gigio Boy’, dedicada ao DJ do Rubi. Ela tem letra, mas é nessa vibe de batida antiga”, detalha.
Durante as festas, David Sampler passou a executar as músicas que tinha remixado e quando percebeu, caiu nas graças do público. “Quando eu comecei a tocar, vi que a galera começou a dançar e a curtir. Então, no decorrer desse tempo, criei umas cinco músicas só instrumentais, com a batida de brega antigo. As pessoas comentavam que não tinha letra, mas a minha ideia era fazer estilo dance, são sintetizadores com batida, mas queria fazer aquilo no tecnobrega. No começo todo mundo estranhou, mas hoje todos aderiram. A música [‘Sampler Doidão’] é uma das mais ouvidas na minha playlist, no Spotify”, comemora.
“Antes da pandemia, a gente quase não via mais as pessoas dançando mais tecnobrega. O mercado estava e ainda está em alta com músicas que são ligadas ao ‘rock doido’ – que tem uma batida mais acelerada e geralmente faz apologia ao crime. Na pandemia, as pessoas começaram a fazer mais lives, as bandas começaram a fazer esses momentos de shows pela internet e aquele gosto pelo tecnobrega começou a voltar. Então depois da pandemia, sentimos que houve um novo momento, com aparelhagens que tocam flashbrega e marcantes”, acrescenta.
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Ele conta que começou a fazer remixes das músicas com batidas do tecnobrega que eram dos anos 2000, e hoje elas estão sendo gravadas por uma nova safra de DJs e artistas ligados ao tecnobrega, de diversas aparelhagens, como Carroça, Cineral e Carabao. Inclusive, a cantora Viviane Batidão já gravou uma música com o Carabao e tem umas músicas minhas tocando direto nas plataformas”, diz David Sampler.
O cantor, produtor e compositor Marcos Maderito, famoso integrante da Gang do Eletro, tem uma parceria direta com David Sampler, sendo um dos frutos dessa amizade a música “Sampler Doidão”, que foi uma das propostas que Maderito ao DJ. Outras músicas dessa parceria são a mixagem que foi feita para o DJ Elison; outra encomendada para o Fã-clube Crias das Aparelhagens, de Vila do Conde; e a música do Fã-clube Legendários.
Fã-clube e televisão para engajar mais
Maderito diz que David Sampler é o responsável por trazer uma nova roupagem ao tecnobrega. “Quando eu e o David fizemos a música ‘Os Potentes do Brega’, que ele deu uma nova roupagem, ele pegou os batidões e colocou uma coisa mais encorpada, uma batida mais grave e efeitos virtuais, as pessoas voltaram a dançar mais juntas com o tecnobrega raiz, com giros e ‘caquiados’, então sentimos que essa era a pegada que tínhamos que trazer. Daí eu cantei, escrevi a letra da música que ele fez para o DJ Gigio Boy e fez sucesso”, relata.
“As batidas que o David faz resgatam o mesmo BPM do tecnobrega raiz, a mesma levada, o mesmo passinho e o mesmo caquiado. No rock doido, por exemplo, a música é mais acelerada, que é uma característica da cultura do DJ, cada um tem seu modo de disparar o play, mas o tecnobrega já tem o BMP certo, não precisa acelerar ele. Essa leitura que a gente faz sobre o resgate se caracteriza porque a gente mostra o tecnobrega que nasceu dentro da periferia, que veio dos fã-clubes”, completa Maderito, acrescentando que as músicas são produzidas já pensando como os integrantes de fã-clubes irão dançar.
Feita para dançar
O professor de dança Rolon Ho, que venceu o “Dança dos Famosos” incluindo uma performance com o brega, endossa essa campanha para o público dançar mais o tecnobrega. Ele diz que a vitória na TV foi um marco para essa cultura ter visibilidade em rede nacional, o que colabora com a causa.
“Deu tão certo que neste ano incluíram o brega na audição do programa, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. Muitos profissionais da dança me ligaram e mandaram mensagem e estão pesquisando, porque tinha que montar uma coreografia de brega pra apresentar. Isso só faz fortalecer a nossa dança e ter outros profissionais entendendo mais sobre o nosso estilo e isso automaticamente cresce lá fora. As pessoas que aqui dentro de Belém tem um certo preconceito ainda com a dança, ou timidez, ou ainda qualquer outra coisa que bloqueie, é só dar o primeiro passo”, incentiva ele.
O professor de dança também não tem dúvida de que o brega estará inserido na nova edição do programa de televisão para repetir a liderança na audiência. “A gente conseguiu despertar a curiosidade das pessoas para querer aprender e descobrir um pouco mais do tecnobrega porque é um ritmo alegre, é um ritmo que contagia, é um ritmo que faz com que as pessoas possam se apaixonar”, considera Rolon Ho.
O dançarino compara as vertentes do brega. “Quando o melody surgiu, ganhou um espaço muito grande, principalmente entre os jovens, o que renovou o salão. A batida do melody, que tem toda a ligação com os DJs, com o brega mais acelerado, influenciou na dança, que ficou mais performática e mais difícil de se dançar. Por exemplo, o brega pop é mais fácil: o vovô consegue dançar, a vovó, a titia. Tem músicas do melody que são mais lentas, mas a grande maioria de melody, tecnobrega, são muito rápidas, isso requer um vigor da pessoa quando ela vai dançar. Tecnobrega está mais ligado ao Crocodilo, boquinha do animal, por exemplo, e o melody já é uma música mais melódica, como Manu Bahtidão”, compara.
Para os interessados em aprender a dançar, mas que por algum motivo não costumam ir às festas de aparelhagem, existem formas de aprender o ritmo até em casa. “Tanto nas minhas redes sociais, canal do YouTube, Facebook e Instagram, eu publico diariamente diversos conteúdos para as pessoas aprenderem. A gente hoje tem essa oportunidade de aprender de forma gratuita. E a pessoa tem a possibilidade de investir nas aulas presenciais, que também valem muito a pena”, garante Rolon Ho.
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