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BIBLIOTECAS VIVAS

Sebos em Belém guardam paixões, raridades e histórias

Durante a 27ª Feira Pan-Amazônica do Livro e da Multivozes, livreiros e donos de sebos destacaram a importância dos sebos na democratização da cultura e do conhecimento em Belém.

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Imagem ilustrativa da notícia Sebos em Belém guardam paixões, raridades e histórias camera Pelo terceiro ano consecutivo, a Feira Pan-Amazônica do Livro reservou um corredor para os estandes dos sebos mais tradicionais de Belém. | Alex Ribeiro/Ag. Pará

"Um sebo é como uma biblioteca viva, onde as histórias nunca param de ser escritas", afirma Ana Lúcia Bentes Dias, uma professora aposentada dos cursos de História e Pegagogia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Com seus 79 anos, Ana Lúcia é um dos rostos mais conhecidos no cenário dos sebos de Belém, onde já deixou sua marca. Fundadora do extinto Sebo Toca da Traça, ela é um entusiasta da literatura e acredita no poder transformador dos livros. Tanto que, após um período afastada dos sebos, aceitou o convite de uma amiga e há dois anos trabalha no Sebo Sinhá Pureza, que tem um estande na feira de domingo da Praça da República.

"Cada pessoa que entra em um sebo contribui para uma nova página dessa história. Seja comprando, vendendo ou simplesmente conversando sobre um livro, eles adicionam algo novo ao que já existe", observa a professora aposentada, que também vê os livros usados como autênticas cápsulas do tempo.

"Os livros guardam as memórias das pessoas, principalmente os livros usados. Muitas vezes, quando folheamos um livro usado, a gente vê, por exemplo, anotações de alguém que leu aquele livro antreriormente ou, às vezes, um bilhetinho, um vale de alguma coisa. Certa vez, eu encontrei um bilhete em um livro que ganhei no qual uma moça dizia 'olha, o papai vai se candidatar de novo', e pedia ao irmão para que não deixasse que o pai fizesse aquilo. Então, muitas vezes, além do próprio texto contido no livro usado, você encontra um pouco da história de vida de seus antigos donos", ressalta Ana Lúcia.

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A professora aposentada Ana Lucia Bentes Dias, 79 anos, vê os livros usados como guardiões de memórias e histórias de vida.
📷 A professora aposentada Ana Lucia Bentes Dias, 79 anos, vê os livros usados como guardiões de memórias e histórias de vida. |Sales Coimbra

Guardião de histórias

"Cada livro que passa pelas minhas mãos tem uma história para contar, e eu sou o guardião delas", afirma Davi Pinheiro, proprietário do Sebo Resistência Cultura Usada e um dos mais antigos livreiros de Belém.

Aos 63 anos, com uma barba grisalha e olhos que brilham ao falar sobre livros, ele se dedica ao Espaço Paraense Ação Cultural (ESPAC), uma iniciativa que pretende criar uma biblioteca itinerante para levar livros e cultura de modo geral a todos os cantos da Grande Belém. Para ele, cada livro é um portal para outro mundo, e cada sebo é um santuário literário onde histórias e memórias se encontram.


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Nos sebos, a gente não só vende livros, a gente vende histórias, memórias. Cada livro que passa pelas nossas mãos tem uma história para contar, e nós somos os guardiões delas. Às vezes, as pessoas vão a um sebo só para conversar, para lembrar de um tempo que passou. E é isso que faz o sebo ser especial, essa conexão entre o passado e o presente

Davi Pinheiro, Dono do Sebo Resistência Cultura Usada
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"A leitura inspira reflexões profundas e estimula pensamentos criativos, gerando grandes ideias. Ela contribui para a solução de desafios e promove mudanças na vida humana ao longo da história. À medida que a humanidade evolui, todos buscamos melhorar nosso convívio social, exercendo o direito à liberdade e à felicidade. A leitura nos permite pensar e expressar nossas ideias e opiniões, refletindo o verdadeiro significado da liberdade", filosofa.

Leitor por amor, livreiro de profissão

As entrevistas desta reportagem foram realizadas durante a27ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, no Hangar Centro de Convenções & Feiras da Amazônia. Na ocasião, Andrei Tavares, de 42 anos, proprietário do Sebo Lima Barreto, localizado na Galeria Alberto Lopes, na Avenida Presidente Vargas, compartilhou sua jornada de leitor ávido a livreiro dedicado.

“Todo livreiro e dono de sebo, como eu, foi antes de tudo um leitor que acumulou muitos livros. Em algum momento, decidimos que era hora de colocar aquele acervo pessoal à disposição da sociedade”, explicou Andrei, com um sorriso nostálgico.

Sebos em Belém guardam paixões, raridades e histórias
📷 |Sales Coimbra

Aos 42 anos, Andrei é um rosto relativamente novo no cenário de livreiros alternativos de Belém, mas já deixou sua marca. Ele é o representante da categoria na Câmara Setorial do Livro de Belém, na qual luta pela implementação de plano estadual e municipal do livro no Pará e em Belém, respectivamente.

Andrei acredita firmemente no papel dos sebos na democratização da cultura e do conhecimento no Brasil. “Os sebos são uma forma de democratizar a cultura e o conhecimento em um país onde, infelizmente, os livros ainda são muito caros em relação ao poder aquisitivo da maioria da população”, afirmou. Ele destacou que, ao oferecer livros a preços acessíveis, os sebos permitem que mais pessoas tenham acesso à leitura e ao aprendizado contínuo.

Para Andrei, cada livro vendido é uma oportunidade de transformar vidas. “Ver um jovem estudante encontrar um livro que precisa para seus estudos ou um leitor ávido descobrir um novo autor é extremamente gratificante”, disse ele. “É uma sensação de missão cumprida.”

O FUTURO DOS SEBOS EM BELÉM

Os sebos de Belém enfrentam um futuro incerto, pressionados pela modernidade e pelas novas formas de consumo literário. No entanto, livreiros como Andrei Taves, Davi Pinheiro e Ana Lúcia Dias acreditam que esses espaços continuarão a desempenhar um papel essencial na vida cultural da cidade.

Para Andrei, o segredo da longevidade dos sebos está na sua capacidade de se adaptarem sem perder sua essência. "O sebo não é apenas um lugar de compra e venda de livros; é um espaço de encontro, de troca de ideias, de preservação da memória coletiva. Enquanto houver quem valorize isso, os sebos não desaparecerão."

Davi, com sua visão mais romântica, vê nos sebos uma oportunidade de "conexão pessoal" que a tecnologia digital não conseguiria proporcionar aos leitores de hoje e do futuro. "Em um mundo digital, os sebos ainda se destacam como espaços únicos para encontrar livros raros e experimentar a leitura de uma maneira especial. Eles preservam o charme dos livros físicos e oferecem uma conexão pessoal que o digital não pode reproduzir."

Ana Lúcia, por sua vez, também acredita que a conexão emocional entre leitores e livros é o que garantirá a sobrevivência dos sebos. "As pessoas sempre vão querer sentir a história nas mãos, folhear as páginas, encontrar anotações de antigos donos. Isso é algo que o digital nunca vai conseguir substituir."

Assim, enquanto as histórias continuarem a ser contadas e os livros a mudarem de mãos, os sebos de Belém seguirão como guardiões da memória, resistindo ao tempo e às mudanças, prontos para escrever novos capítulos na vida de seus frequentadores.

Equipe DOL Especiais

  • Reportagem: Sales Coimbra
  • Coordenação e Edição: Anderson Araújo
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