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FOLIA NA PÉROLA DO CAETÉ

Conheça o tradicional Cajuaçu, o sabor e a cor do carnaval de Bragança

O cajuaçu tem um peso histórico em Bragança, no nordeste paraense, e é amplamente consumido nos primeiros meses do ano. Fermentado, o fruto resulta na bebida mais tradicional e famosa do carnaval da Pérola do Caeté. Conheça!

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Imagem ilustrativa da notícia Conheça o tradicional Cajuaçu, o sabor e a cor do carnaval de Bragança camera Independente do tamanho da garrafa, a bebida é figurinha carimbada no carnaval bragantino | Divulgação/Urubu Cheiroso

“Cai de cara”, “editor de memória”, “vermelinho”. Essas são algumas das alcunhas que os bragantinos dão à bebida que, todos os anos, embala o Carnaval do município da região do Salgado paraense: o cajuaçu.

Doce e alcoólica quando fermentada, a bebida é conhecida por ser barata e de fácil acesso entre os meses de dezembro e fevereiro. Esse é o período em que o pequeno caju, menor que o tradicional e com um amargor característico, cai no chão e é colhido pelos produtores.

O cajuaçu tem um peso histórico na Pérola do Caeté e é amplamente consumido. É produzido a partir do fruto da árvore Anacardium giganteum, nativa da região amazônica. Além do Pará, a fruta também é consumida em outras partes da Amazônia, como Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia e Roraima.

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No tempo do carnaval

Para o pesquisador e coordenador do bloco de rua mais tradicional do município, Josinaldo Reis, mais conhecido como “Tio Bill", responsável pelo Urubu Cheiroso, a bebida tem tudo a ver com o Carnaval, já que sua sazonalidade coincide com o período da folia.

Diferente do caju tradicional, o cajuaçu é menor, mais avermelhado e mais doce
📷 Diferente do caju tradicional, o cajuaçu é menor, mais avermelhado e mais doce |Divulgação/Instagram

Além disso, o efeito no dia seguinte pode ser traiçoeiro para quem exagera. “Mesmo que a pessoa adicione álcool, o suco fermenta ainda mais. Tá na época, é barato, e a pessoa fica porre rápido. Mas o suco é muito ácido... o fígado sente!”, alerta. Um ditado comum entre os consumidores resume bem a experiência: “Ele é gostosinho, azedinho com docinho. Quando a pessoa volta, já está com a cara quebrada e não lembra de onde veio”.


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A planta floresce em agosto, e a colheita acontece perto do Carnaval. É uma bebida barata, acessível, e isso faz com que seja muito consumida nessa época

Tio Bill, Pesquisador
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Produzido por extrativistas, o cajuaçu vem de uma árvore de grande porte, que pode atingir entre 30 e 40 metros de altura. Ela precisa de anos para começar a produzir seus frutos, que são menores e mais doces que o caju comum. A colheita só acontece quando os cajus caem no chão, já que eles não são retirados da árvore.

Tio Bill é um dos icônicos organizadores do Bloco Urubu Cheiroso, o mais tradicional de Bragança
📷 Tio Bill é um dos icônicos organizadores do Bloco Urubu Cheiroso, o mais tradicional de Bragança |Reprodução/Instagram

“Essa árvore é enorme. Não é o caju que é grande, é a árvore! Chega a 30, 40 metros de altura e precisa ser madura para produzir, como o bacurizeiro. Mas o caju é bem pequeno. Entre o final de novembro e o começo de dezembro, até o final de fevereiro, a fruta começa a cair”, explica.

De geração em geração

Produtora da bebida há seis anos, a jovem criadora de conteúdo e extrativista Paula Samira, de 23 anos, cresceu vendo pais e tios catando a fruta e extraindo o líquido vermelho na comunidade de Montenegro, na zona rural de Bragança. A arte de fazer a bebida é uma tradição passada de geração em geração.

Paula começou a fazer o cajuaçu quando tinha 18 anos
📷 Paula começou a fazer o cajuaçu quando tinha 18 anos |(Reprodução/Instagram)

“Aqui em casa, o cajueiro já tem mais de 40 anos. É da família. Uns dizem que foi meu tio que plantou, outros dizem que foi meu avô, e tem quem diga que nasceu sozinho. Eu mesmo não sei direito, porque tenho 23 anos e, naquela época, nem existia”, conta.

O cajuaçu é encomendado em grandes quantidades por foliões que apreciam a bebida. O período entre dezembro e fevereiro é de grande demanda, e o suco pode ser encontrado em feiras e com vendedores ambulantes da cidade.

Seu modo de preparo varia, mas na família de Paulinha, como é conhecida nas redes sociais, é bem simples: a fruta é cortada e amassada, depois coada em uma peneira e despejada dentro de garrafas — que vão desde as famosas "buchudinhas" (garrafas redondas de corote) até as de refrigerante de dois litros. Em média, uma garrafa de dois litros custa entre R$ 20 e R$ 30.

“O cajuaçu natural pode ser colhido e batido no liquidificador para beber. Já o cajuaçu que fermenta e vira bebida alcoólica, não. Tem que esperar cair no chão. Só depois que ele cai é que a gente pega, leva para macerar e processa. Pelo menos na minha família, nunca foi batido no liquidificador. A gente só amassa e passa por um pano antes de colocar na garrafa para revenda”, explica a jovem, que, assim como os familiares, vê na safra uma oportunidade de renda extra.

Tradição e história bragantina

Segundo Tio Bill, essa tradição tem pelo menos 60 ou 70 anos, remontando às populações ribeirinhas, onde a árvore, que cresce em terrenos alagados, mostra sua imponência.

“São pouquíssimos os registros. Faz uns 50, 60 anos que se popularizou. Mas as populações tradicionais de Bragança, sobretudo a turma da beira do rio, já têm isso no imaginário popular há muitos anos”, explica.

A bebida é conhecida por animar os foliões durante o Carnaval, principalmente no bloco Urubu Cheiroso. Nas ruas, os ambulantes vendem o suco misturado com cachaça, mas muitos preferem preparar em casa, enchendo garrafões de água e distribuindo entre os amigos.

“Vendem o suco, e o comerciante mistura com cachaça e mel. Alguns enterram no chão para fermentar, porque diminui a luz e o oxigênio, e aí ele vai fermentando. Quanto mais fermenta, maior a quantidade de álcool”.

A bebida é um sucesso nas ruas durante o desfile dos blocos
📷 A bebida é um sucesso nas ruas durante o desfile dos blocos |Divulgação/Instagram

Criado em 1994, o bloco é conduzido por pessoas que transportam barris sobre uma carroça, apinhada da bebida. Considerado um dos mais tradicionais de Bragança, levou às ruas 15 mil pessoas no último ano, segundo a Polícia Militar.

O Bloco Urubu Cheiroso é um dos mais tradicionais de Bragança
📷 O Bloco Urubu Cheiroso é um dos mais tradicionais de Bragança |Divulgação/Instagram

Boas lembranças

Mas e os consumidores? A experiência com o cajuaçu, pelo menos para a arquiteta e urbanista Emanuela Corrêa, é algo único que só o carnaval de Bragança proporciona, além de ter um aspecto cultural e até nostálgico muito grande entre as famílias. Levar o caju para outras cidades, é como levar um pouco da história dos bragantinos. Ela começa a catar a fruta no sítio do tio e sua avó conta como se faz o processo.

“Como meu tio tem um sítio há muito tempo, sempre foi comum ter caju na época do Carnaval na casa da minha avó. A gente compra caju do lado da família da minha avó, e até hoje ela conta como faz e todo o processo. Acho que o caju já nasce com o ser bragantino. Sempre que vou para Belém ou para qualquer outro lugar, levo caju comigo. E levo toda a história junto”, disse.

Emanuela Corrêa espera ansiosa pelo carnaval todos os anos
📷 Emanuela Corrêa espera ansiosa pelo carnaval todos os anos |Divulgação

A produção da bebida se transforma em um programa entre famílias e amigos, que dividem os custos, preparam a bebida e curtem a folia.

“Como minha família é grande e o grupo de amigos também, a gente se organiza: uma parte compra caju, outra compra cachaça. No fim, todo mundo se reúne e mistura tudo para curtir as noites de carnaval”, contou.

Viral nas redes

Além de ser um símbolo do carnaval de Bragança, a bebida tem um forte peso histórico e cultural na Pérola do Caeté. Para a influenciadora digital Larissa Corrêa, conhecida nas redes como 'Flor de Lari', apresentar o cajuaçu é uma forma de mostrar a cultura bragantina, a sensação de estar na cidade e vivenciar o carnaval.

"Quando você chega a Bragança, já sente o perfume marcante do caju, um aroma que fica na memória e traz boas histórias para quem conhece. A produção de conteúdo valoriza esses saberes tradicionais, muitas vezes guardados para o carnaval. Experimentar o cajuaçu não é apenas provar uma bebida, mas vivenciar um símbolo de alegria e bragantinidade, que torna o carnaval no Caeté ainda mais vibrante", disse.

Flor de Lari utiliza as redes sociais para mostrar o dia a dia dos bragantinos
📷 Flor de Lari utiliza as redes sociais para mostrar o dia a dia dos bragantinos |Renato Soares

O ato de influenciar, segundo Lari, está ligado a mostrar para todos o que acontece durante esse período de festa na cidade. 'A primeira vez que produzi conteúdo sobre o cajuaçu foi em meio à pandemia, em 2020. Eu queria compartilhar para que mais pessoas conhecessem os saberes tradicionais dessa bebida, que é tão popular em Bragança, mas ainda desconhecida por muitos", completa.

Saiba como preparar

Ingredientes:

  • Cajus maduros (aproximadamente 1 kg)
  • Água filtrada (cerca de 2 litros)
  • Açúcar a gosto (opcional)
  • Cachaça (opcional)

Modo de preparo:

  • Colheita e preparo da fruta: os cajus devem ser colhidos quando caem naturalmente da árvore, entre novembro e fevereiro. Após a queda, lave-os bem para remover impurezas.
  • Extração do suco: Corte os cajus em pedaços pequenos e amasse-os para extrair o máximo de suco possível.
  • Fermentação: Transfira o suco extraído para um recipiente limpo e cubra-o com um pano. Deixe fermentar em local fresco e arejado por aproximadamente 3 a 5 dias, dependendo da temperatura ambiente. Durante esse período, o suco desenvolverá seu teor alcoólico por meio da fermentação.
  • Coagem: após a fermentação, coe o suco para remover resíduos sólidos.
  • Ajustes finais: se quiser, adicione açúcar a gosto para equilibrar a acidez. Para aumentar o teor alcoólico, pode-se adicionar cachaça a gosto.
  • Armazenamento: guarde o cajuaçu em garrafas limpas e feche bem. Mantenha refrigerado e consuma em até uma semana para garantir o melhor sabor.

Equipe DOL Especiais:

  • Lucas Contente é repórter do portal DOL. Nascido na cidade de Muaná, na Ilha do Marajó, e criado desde os nove anos em Belém, é formado em Comunicação Social - Jornalismo desde 2023 pela Faculdade Estácio FAP.
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