
O mercado de trabalho passa por uma transformação acelerada, impulsionada por mudanças tecnológicas, novas expectativas profissionais e um crescente desejo por propósito. No Brasil, três em cada cinco trabalhadores planejam mudar de emprego em 2025, segundo uma pesquisa do LinkedIn. Mas o que está por trás dessa tendência?
O conceito de carreira passou por uma revolução. Antigamente, era comum escolher uma profissão baseada na estabilidade financeira. Hoje, no entanto, o que move muitos profissionais é a vontade de encontrar um trabalho alinhado a seus valores e paixões.
A nova geração de trabalhadores, especialmente os Millennialse a Geração Z, está mais propensa a mudar de emprego caso não se sinta engajada. De acordo com uma pesquisa da Gallup, 77% dos trabalhadores globalmente não se sentem comprometidos com suas funções, e 51% estão ativamente procurando novas oportunidades.
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Para muitos profissionais, a transição de carreira é um processo de autodescoberta. Murilo Henrique, de 28 anos, formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Pará (UFPA), decidiu trocar a engenharia pela Medicina. Mercado saturado, instabilidade da carreira e falta de aplicação prática dos conhecimentos acadêmicos o motivaram a buscar um novo caminho. "O risco ao qual eu estava exposto não compensa o que eu recebia", afirma.
Murilo destacou ainda a transformação do papel do engenheiro, que, segundo ele, se tornou um "administrador que viu muito cálculo diferencial e integral na faculdade"

“Grande parte do conhecimento adquirido ao longo dos cinco anos de graduação acabou não sendo aplicada na prática, em um mercado onde o profissional assume funções administrativas e um trabalho engessado”, contou.
Dos números aos bichos
Juçara Nascimento também encontrou na sua paixão por animais a oportunidade de estudar Medicina Veterinária. Formada em Contabilidade desde 2018, a jovem natural de Muaná, na Ilha do Marajó, inicialmente escolheu a área com a expectativa de boa remuneração no mercado de trabalho. No entanto, o sonho delasempre foi ser médica veterinária. Em 2021, quando surgiu a oportunidade, ela não hesitou.
“Eu decidi que ia fazer. Apesar de já estar formada há algum tempo, voltar a estudar depois de uma certa idade sempre é um desafio. Em paralelo, continuei atuando como contadora (até 2024), mas comecei a cursar Medicina Veterinária . Minha experiência com esse curso, que sempre foi o meu sonho. Tem sido incrível, ainda mais agora, que estou na fase final e fazendo estágios”, contou.
"Eu era frustrada com a minha profissão. Não era algo que eu gostava de fazer, vivia no automático dentro do escritório. Hoje em dia, como médica veterinária, vejo que a área tem um campo de atuação enorme. Não me restrinjo a uma única coisa: posso ir a campo, trabalhar em laboratório, fazer pesquisa. Hoje, me encontrei. Não existe idade certa para seguir o que a gente realmente quer”.
Da sala de aula para o Corpo de Bombeiros
O matemático e professor Heitor Lima, de 27 anos, iniciou o sonho de dar aulas já no segundo semestre do curso, na UFPA. Após anos na área, ele decidiu se "arriscar" em uma profissão diferente de sua formação: trabalhar em um cartório de imóveis.
“Sou curioso e decidi fazer essa transição, e foi quando surgiu a oportunidade de trabalhar em um Cartório de Registro de Imóveis. Era uma excelente chance de me testar e descobrir se eu conseguiria ‘me virar’ em outra área, que, por sinal, era bem distante da minha!”, contou.
No entanto, Heitor sempre viu esse novo caminho como algo temporário, uma oportunidade de aprendizado, já que, por não ser sua área de atuação, ele se sentia deslocado no ambiente de trabalho.

Realidades que frustram
Embora tivesse começado na Matemática, Heitor se deparou com um grande desafio do sistema educacional brasileiro: lecionar na iniciativa privada para “promotores da educação”, o que, segundo ele, causou frustração, já que a prioridade era o lucro e não as necessidades do processo de ensino-aprendizagem.
“Quando era universitário, estagiei como instrutor de matemática tanto na iniciativa privada quanto na pública, o que foi muito positivo para minha formação. No entanto, depois de me formar e assumir o cargo de professor, trabalhei com alguns ‘promotores da educação’ da iniciativa privada, que estavam focados exclusivamente no lucro. Isso me motivou a buscar uma oportunidade na academia, talvez até um mestrado na área de Educação Matemática”, ressaltou.
Sonho do concurso público
Após algumas idas e vindas no mercado, oferecendo aulas particulares, o matemático decidiu se dedicar a um recurso utilizado por muitos profissionais: os concursos públicos. E, logo de primeira, passou no Corpo de Bombeiros do Estado do Pará. Para ele, além da estabilidade que o trabalho proporciona, a ideia de servir ao Estado lhe agrada bastante, pois oCorpo de Bombeiros é uma instituição com diversas possibilidades e uma profissão altamente prestigiada pela população, que vê os bombeiros como verdadeiros heróis.
A primeira coisa que se pensa ao falar de concurso público é a estabilidade, junto com os benefícios de ser servidor público. Mas, além disso, busco servir à minha comunidade, ao meu Estado. Escolhi o Corpo de Bombeiros pelas atividades desempenhadas, que são inspiradoras, e pelo prestígio que essa função tem diante da sociedade! É um lugar que, mesmo sendo distante da sala de aula e da função de professor de matemática, me permite identificar várias áreas de conhecimento com as quais me conecto, como: Matemática, Química, Física e Biologia, além das atividades físicas, em especial a natação.
Heitor Lima, Futuro bombeiro e matemáticoInteligência artificial ajuda na buscas por vagas?
O diretor geral do LinkedIn para a América Latina e África, Milton Beck, destaca que a tecnologia está reformulando os processos seletivos. "A crescente adoção de Inteligência Artificial permite maior personalização e otimização de tempo para todos os envolvidos", afirma.
Com um mercado cada vez mais dinâmico, a tecnologia tem sido uma aliada tanto para candidatos quanto para recrutadores. O estudo do LinkedIn revela que 43% dos profissionais já utilizam ferramentas de inteligência artificial para otimizar currículos e cartas de apresentação, enquanto 56% pretendem aprender a usar IA para melhorar suas candidaturas em 2025.

As projeções do Fórum Econômico Mundial indicam que 22% dos empregos atuais serão impactados por mudanças estruturais até 2030, criando 170 milhões de novas vagas globalmente. O grande desafio estará na formação de habilidades, pois 40% das competências necessárias para o trabalho vão mudar nos próximos anos.
Em um mundo cada vez mais dinâmico, adaptar-se às transformações do mercado de trabalho é essencial. Mais do que um caminho predefinido, profissionais e empresas precisam abraçar a flexibilidade, priorizando habilidades e propósitos.
Propósito de vida
Ricardo Rocha, CEO da Acaso, empresa com foco em futuro do trabalho, destaca que essa mudança se reflete na inversão da lógica do Ikigai - conceito japonês que define o "propósito de vida". Agora, muitos profissionais priorizam o impacto de seu trabalho no mundo, seguido pelo que amam fazer, suas habilidades e, só então, o retorno financeiro.
“Hoje, há uma inversão na lógica do Ikigai no mercado de trabalho, conceito japonês que significa um propósito para a vida. Nessa questão, podemos unir quatro elementos: o que nos dá dinheiro, no que somos bons, o que gostamos de fazer e o que impacta o mundo. Antes, a lógica do mercado era começar pelo que gera renda. Agora, a ordem se inverte: prioriza-se o impacto no mundo, seguido pelo que se ama, pelo que se faz bem e, por fim, pelo que gera retorno financeiro”, explicou o especialista.

“O que antes parecia limitado a profissões tradicionais, como engenheiro, médico ou advogado, agora se torna mais diversificado e adaptável. Na verdade, essa transformação sempre foi necessária. O que mudou foi a percepção de que esses “quadrados” precisavam ser desconstruídos e trabalhados de forma mais específica para acompanhar as mudanças do mundo”, completa.
Impacto nas empresas
O movimento de transição de carreira também impacta diretamente as empresas. Um levantamento do LinkedIn mostra que 72% dos profissionais de RH acreditam que o mercado se tornou mais competitivo, tornando mais difícil reter talentos.
Ricardo Rocha ressalta que muitas empresas ainda utilizam modelos ultrapassados de recrutamento e desenvolvimento profissional. "O mercado deve focar mais nas habilidades e menos nos títulos dos cargos. Nosso entendimento é que as empresas têm o papel de habilitar os profissionais a atingirem seu maior potencial, em vez de simplesmente direcioná-los a funções pré-definidas", explica.
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