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Copa América: evento pode inflamar terceira onda no Brasil 

Epidemiologistas entrevistados pela BBC News Brasil definiram como "crime", "insanidade" e "paranoia" caso o país leve adiante a possibilidade de promover o campeonato no país.

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Imagem ilustrativa da notícia Copa América: evento pode inflamar terceira onda no Brasil  camera A média diária de mortes nos últimos sete dias ficou em 1.848. Apesar do registro de vários casos, o país aceitou a proposta da Conmebol para sediar o evento esportivo. | Joice Kroetz/Divulgação

Depois da Argentina e Colômbia recusarem o evento, o Brasil pode sediar a Copa América neste ano. O torneio reúne seleções de 10 países da América do Sul e deve atrair várias pessoas para o país, incluindo jogadores, comissão técnica, jornalistas e torcedores, por mais que os jogos sejam proibidos ao público.

Epidemiologistas entrevistados pela BBC News Brasil definiram como "crime", "insanidade" e "paranoia" caso o país leve adiante a possibilidade de promover o campeonato.

O anúncio de que o Brasil havia sido escolhido como sede da competição foi feito na manhã de segunda-feira (31) pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol). Mesmo assim, o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, disse que ainda não há confirmação de que o país sediará a Copa América. Segundo ele, a decisão será anunciada nesta terça-feira (1).

Antonio Augusto Moura da Silva, professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), afirmou que o Brasil não tem condições de receber nenhum evento. Segundo ele, a chegada de turistas pode causar um colapso no sistema de saúde já lotado por conta da quantidade de pacientes internados com covid-19.

"Estamos enfrentando uma segunda onda que não arrefeceu ainda. A taxa de transmissão também está muito elevada e estamos numa situação de descontrole. Além disso, a taxa de imunização está muito baixa, com apenas 10,4% da população vacinada com a segunda dose da vacina contra a covid", explica.

Na segunda-feira (31) o Brasil registrou 860 mortes por covid-19, e o total de óbitos no país chegou a 462.791,de acordo com o boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). A soma oficial de casos da doença já chega a 16.545.554, sendo 30.434 deles nas últimas 24h.

A média diária de mortes nos últimos sete dias ficou em 1.848. Apesar do registro de vários casos, o país aceitou a proposta da Conmebol para sediar o evento esportivo.

Já a Argentina anunciou sua desistência, após registrar uma alta de casos pela doença nas últimas semanas. A Colômbia também rejeitou a proposta por enfrentar uma onda de protestos contra o governo. A competição seria realizada em conjunto pelos dois países.

Apesar de a Conmebol ter afirmado que a Copa América 2021 será sediada no Brasil, o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, afirmou na noite desta segunda-feira (31) que o evento no país ainda está em negociação.

"Ainda não tem nada certo, estamos no meio do processo", disse Ramos, em entrevista coletiva. "Mas não vamos nos furtar a uma demanda, caso seja possível de atender."

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Moura da Silva, da UFMA, diz que o governo brasileiro será irresponsável caso aceite sediar o evento, já que há um grande risco de aumentar a circulação do vírus no Brasil.

"Quando aumenta a circulação de pessoas, a tendência é aumentar a taxa de contaminação. Um evento desse ainda pode representar uma ameaça de entrada da variante indiana. O que precisamos ter é um controle de fronteira mais rígido. Sem isso, corremos o risco de aumentar a circulação do vírus e, consequentemente, o número de óbitos", alerta.

Além de Moura da Silva, outros epidemiologistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem que a maior preocupação de um evento como esse é o aumento da transmissão do coronavírus. Isso acontece porque quanto mais pessoas se encontram e se aglomeram, mais rápido o vírus se dissemina.

O infectologista Marcos Boulos, afirmou que a realização de um evento como esse contribui também para que a população do país sinta uma sensação de normalidade.

"Qualquer sinalização nesse sentido vai contra o que está acontecendo no mundo, ainda mais num país que está em franco crescimento da pandemia. Esse evento pode trazer pessoas infectadas com cepas que não temos aqui e causar um problema maior", afirma.

Boulos diz que não vê nenhuma base técnica ou sanitária para que o país aceite um evento com esse em meio a uma pandemia.

"Isso não pode existir do ponto de vista sanitário e só pode partir do presidente da República. É um absurdo ainda maior se tiver público. Se isso acontecer, tem que prender todo mundo. É uma loucura total. Só o jogo já não dá para entender. Se tiver torcida, é um crime", lembra.

O infectologista acrescenta que o país não vai ter condições de atender mais pessoas nos hospitais, caso o evento cause um aumento do número de infectados.

"Quando você faz um jogo de futebol, as pessoas se reúnem para ver em família ou com os amigos e criam uma situação de aglomeração. Muitos também querem ir para a porta do estádio ver o time chegar, acompanhar os treinos. Mesmo sem gente nos estádios é ruim", completa.

Na opinião de Moura da Silva, o Brasil já está passando por um momento de preocupação por conta das variantes já registradas no território, como a P.1 e a variante indiana. A entrada de uma grande quantidade de pessoas de outros países em território nacional pode trazer novas cepas.

"Várias cidades já registram uma taxa de ocupação das UTIs de mais de 80%. O esperado era de que os governos restringissem os eventos, e não aceitassem mais. Agora, a possibilidade de haver jogos com público é uma completa paranoia", afirma.

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Segundo ele, eventos como esses são aprovados pelo governo porque têm forte apelo popular. Ele diz acreditar que muitos brasileiros se acostumaram com as mortes e não se chocam mais com o aumento do número de mortes diárias causadas pela doença.

"Antes, a população se chocava com 500 mortes por dia. Depois com 4 mil. Hoje, não se choca com 2 mil pessoas morrendo e eventos como esses são aceitos com mais facilidade. Mas trata-se de uma decisão que não tem nenhum fundamento sanitário. Se tivesse, era para não aceitar, como fez a Argentina e a Colômbia. Essa foi uma decisão política e econômica", reforça.

O epidemiologista explica ainda que a situação do país é um pouco menos grave que a da Argentina e Colômbia, que negaram sediar o evento. Mas isso não justifica abrir as fronteiras e permitir que o Brasil corra um risco tão alto.

Ele lembra que o Brasil registra 8,6 mortes por milhão de habitantes, enquanto a Argentina tem 9,9 óbitos por milhão e a Colômbia, 10,8. Por outro lado, os casos vêm crescendo e que isso deve se refletir num aumento do número de mortos nas próximas semanas.

"Nossa situação hoje é um pouco melhor que os demais, mas já tivemos uma taxa de 14 óbitos por milhão e que pode voltar numa terceira onda. Argentina e Colômbia estão numa subida. Mas nada justifica um evento como esse por aqui porque a taxa de contaminação está alta e os casos estão subindo", diz.

Para Moura da Silva, o cenário mais catastrófico seria permitir a presença de público nos estádios, mesmo que fosse apenas na final do torneio e com público reduzido.

"Fazer jogos com participação de torcida é uma insanidade. É a mesma coisa que colocar as pessoas num matadouro. Para um técnico, a resposta de que esse campeonato não deveria ocorrer é óbvia. Mas nossos políticos não se importam com a morte das pessoas", diz.

O epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Lucio Botelho, concorda e diz que casos recentes apontam que há uma grande taxa de contaminação entre os jogadores de futebol. E que a circulação desses atletas e comissão técnica pelos aeroportos do país coloca em risco toda a população.

"É um absurdo, em letras garrafais. Nós já temos hoje os campeonatos regionais e o Brasileiro rolando como se nada tivesse acontecendo. Um exemplo da alta contaminação entre jogadores foi o River Plate entrar em campo com 11, sem reservas, e com um jogador de linha improvisado como goleiro porque o resto estava com covid", afirma.

Ele ainda lembra o caso de um jogador do Avaí, que foi retirado de campo no intervalo de uma partida da Série B do Campeonato Brasileiro após testar positivo para covid.

"Isso demonstra que não há nenhuma segurança garantida nos protocolos adotados. Porém, há uma força política da economia para que esses campeonatos ocorram. É irresponsabilidade e contrassenso deixar a Copa América acontecer aqui. Isso é dito por um apaixonado por futebol", diz o epidemiologista.

A Conmebol disse ter recebido uma doação de 50 mil doses de vacinas produzidas pela Sinovac, a mesma do Instituto Butantan, e afirmou que distribuirá 5 mil doses para cada federação. Isso, segundo a organização, pode garantir que as equipes de todos os países estejam vacinadas.

Mas Botelho afirma que essa medida não alivia nem justifica a realização de um campeonato de futebol em um país onde há milhares de pessoas morrendo diariamente e que há filas de espera por um leito de UTI.

"Isso é uma loucura. É inconsequente em todos os aspectos. Talvez a minha análise tenha que ser política. É de novo algo para fazer a história do pão e circo. Não tem sentido dois países recusarem um evento desses e o Brasil chamar para cá. A vacina não anda e estamos trazendo mais riscos ao país", afirma.

Questionado sobre o que poderia ser feito para amenizar os danos ao país, caso o Brasil aceite sediar o evento, Botelho afirma não ter nenhuma sugestão.

"Temos que evitar que as pessoas se infectem. A gente tem que ser coerente e não fazer a Copa América. A mídia tem uma parcela importante nisso tudo porque briga para manter a Olimpíada e precisa manter os compromissos políticos. A Copa América foi paga pelos patrocinadores e a Conmebol não vai abrir mão. Vai fazer, nem que seja no México ou no Catar. É algo que beneficia a economia, mas deveria se tratar de questões sanitárias.

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