Entre as diversas transformações que a Copa de 2014 trará ao Brasil, destaca-se a mudança do perfil e, consequentemente, do comportamento dos torcedores. A expectativa é que ocorra uma elitização do público frequentador dos estádios, assim como uma espécie de “domesticação” desses torcedores. É o que defende Antonio Holzmeister Oswaldo Cruz, doutor em Antropologia Social pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que desenvolveu uma pesquisa sobre as transformações das torcidas e dos estádios ao redor do mundo.
“A Copa do Mundo no Brasil e a elitização do público é uma situação de causa e efeito que segue uma tendência quase que mundial dentro do futebol globalizado que temos atualmente”, explica Cruz. “O que se busca sempre é uma torcida mais espectadora do que participativa.”
Ele cita o exemplo do Maracanã. O estádio que já chegou a receber mais de 183 mil pessoas teve sua capacidade reduzida para 86 mil espectadores após diversas obras de modernização. Para o Mundial de 2104, quando será palco da final, esse número diminuirá ainda mais: 76.500.
“Para onde vão esses quase 10 mil lugares que tiraram do estádio? Vão para camarotes e assentos maiores que a Fifa exige. Tudo está sendo feito em nome de um conforto que nem todo mundo vai poder pagar”, diz o pesquisador.
Marcos Alvito, antropólogo, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) e fundador da ANT (Associação Nacional dos Torcedores), critica a maneira como o dinheiro público está sendo usado para a Copa. Sua principal queixa é que as camadas mais pobres da sociedade estão pagando pela construção de estádios que não terão condições de usufruir depois de prontos. “É um processo que chamo de Robin Hood ao contrário. Os estádios se parecerão com shoppings, terão lojas e restaurantes, porque estão em busca de um consumidor com poder aquisitivo possível”, diz o professor.
Para tentar amenizar essa “distorção”, a ANT pretende apresentar um projeto de criação de ingressos populares para ser implantado em todo o País após 2014. “O futebol é um patrimônio cultural do brasileiro e não podemos afastar o povo dele”, diz Alvito. “Se isso ocorrer, será um genocídio cultural.” (Agência Estado/São Paulo)
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